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14/05/2025

Espetáculo propõe Roma governada por imperatriz trans – 01/05/2025 – Ilustrada

Alex Avelino

Berço da civilização ocidental e da língua portuguesa, Roma teve a primeira imperatriz anarquista e travesti da história. Essa é a premissa que conduz os experimentos do Núcleo Experimental de Butô em seu novo espetáculo, “Heliogábala: A Anarquia Coroada”, em cartaz no Complexo Cultural Funarte, no centro de São Paulo.

O grupo parte de um texto do francês Antonin Artaud e mistura butô —dança japonesa conhecida por explorar a dor, a morte, o corpo e o inconsciente— com Carnaval para traduzir o atual debate sobre o gênero do imperador romano Heliogábalo.

A partir de registros históricos, o Museu North Hertfordshire, em Hitchin, cidade ao norte de Londres, levantou a hipótese de que o regente seria uma pessoa trans, e a primeira imperatriz romana.

“Há cinco anos a gente conversa sobre o desejo de montar a peça, trazer Artaud para perto do Tatsumi Hijikata [fundador do butô]. De repente, o museu na Inglaterra disse que trocaria os pronomes de tratamento de Heliogábalo para ‘ela’ e ‘dela'”, diz o diretor Thiago Abel.

Cassius Dio, senador e contemporâneo do imperador, escreve, por exemplo, que o imperador “foi concedido em casamento e foi denominado esposa, amante e rainha”, além de mencionar perucas e adornos femininos.

Ainda não há consenso entre os estudiosos. Shushma Malik, professora de estudos clássicos da Universidade de Cambridge, afirmou à BBC, em 2023, que expressões afeminadas também eram usadas para criticar ou enfraquecer figuras políticas à época.

Em cena, os intérpretes criam jogos de luz no palco com a iluminação que está, literalmente, em suas mãos, enquanto o texto se alterna entre trechos verborrágicos e monossilábicos. Isso acontece quando um coro repete sílabas isoladas ou a mesma frase em latim enquanto um dos integrantes conta a história da coroação do imperador e da fundação de Roma.

No momentos que retratam o nascimento do império, em referência à loba que alimenta os irmãos Rômulo e Remo na lenda, atrizes trans com máscaras de cachorro amamentam atores vestidos com calças militares em um rodízio que se repete diversas vezes.

Em outras, Heliogábala, já coroada, cria uma festa envolvendo o público com cachaça e figuras míticas que lembram fantasias de Carnaval —festividade retomada ao fim do espetáculo ao som de uma marchinha carnavalesca.

“Esse é o primeiro trabalho do núcleo em que buscamos dançar com as palavras. Fazer com que a gente possa, de alguma maneira, dançar com a voz e dar carne às palavras”, diz o diretor Thiago Abel, autor da pesquisa “Arriar o Butô em Sete Encruzilhadas: Micropolíticas do Corpo”. Afinal, a voz é um recurso comum ao teatro, e não ao butô, pautado nos movimentos que emergem do corpo.

Além do espetáculo, em cartaz até 1º de junho, haverá eventos paralelos, como palestras e rodas de debate sobre gênero, corpo e sexualidade.



Fonte: Folha UOL

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