Oscilações na percepção pública da crise do clima não surpreendem. São marés altas e baixas de preocupações com os impactos do aquecimento global, e somente um negacionista enxergaria no recuo mínimo e momentâneo das águas um sinal de que o oceano de inquietude possa secar.
É o que se apresenta na pesquisa Datafolha: 88% dos brasileiros maiores de 16 anos entrevistados veem risco imediato ou para gerações futuras nas alterações climáticas. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em todas as regiões do país, de 8 a 11 e abril, e tem margem de erro de dois pontos percentuais.
Houve leve crescimento no montante dos que não atribuem perigo ao fenômeno. Eram 5% em junho de 2024, depois 7% em outubro do mesmo ano, e chegam agora a 9%. Cada incremento está dentro da margem de erro, embora a sucessão sugira viés de alta.
Cabe atentar, no entanto, para os meses em que as três pesquisas foram realizadas. A primeira se deu quando ainda estavam frescas na memória imagens dantescas de semanas de inundação e desespero no Rio Grande do Sul, com as chuvas torrenciais de abril e maio de 2024.
Passados quatro meses da tragédia, seria natural que a percepção de risco se atenuasse um pouco, mais ainda um ano depois. Ainda assim, a sequência de desastres climáticos —enchentes, deslizamentos, secas, incêndios— está a solidificar, para quase 9 entre 10 brasileiros, a convicção de que a mudança climática veio para ficar e de que algo deve ser feito a respeito.
A percepção de risco varia pouco entre as regiões do país. No Sul e no Sudeste, ela atinge 91%, e as taxas de despreocupação são de 7% e 8%, respectivamente. Já no Centro-Oeste e Norte, os números mudam para 89% e 9%, e no Nordeste, para 84% e 10%.
O negacionismo sob Jair Bolsonaro (PL) afetou iniciativas ainda tímidas de mitigação e adaptação. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estancou o vagalhão, mas está longe de deslanchar um plano efetivo de ação.
A progressão do desmatamento na amazônia e no cerrado foi em parte contida, um torniquete na mais importante fonte de emissões de carbono no país. Mas esse é outro caso que enfrenta altas e baixas, nem sempre por influência do governo federal.
Há que assinalar também a ambivalência da gestão petista, que propagandeia financiar a transição energética com renda da exploração de petróleo, quando a realidade mostra que mero 0,2% dos R$ 108,2 bilhões auferidos em 2024 foi investido em prol do clima e do meio ambiente.