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07/02/2025

Rui Tavares: Trump não está mais interessado em fingir – 04/02/2025 – Rui Tavares

Gostando ou odiando, todo mundo concorda que Donald Trump faz as coisas de maneira diferente. A partir daí a doutrina se divide. Para uns, aquilo que parece absurdo só pode ser explicado pelo gênio. Eu estou no campo oposto: ao impor tarifas punitivas sobre os seus principais vizinhos e aliados, por exemplo, Trump não joga xadrez tridimensional. Aquilo que parece um absurdo e um disparate é, simplesmente, um disparate e um absurdo.

Não é por isso, porém, a decisão do presidente dos Estados Unidos deixa de ser reveladora. É que existe em Trump um paradoxo: ele reforça pelos atos aquilo que nega pela retórica.

Exemplo número um: Trump é um conhecido negacionista das mudanças climáticas; no entanto, as suas ambições de expansão territorial sobre a Groenlândia só fazem sentido com as mudanças climáticas, porque só aí o degelo permitirá a extração dos minérios de que dispõe a ilha e o acesso às novas rotas no Ártico. Trump não rejeita as medidas de combate às mudanças climáticas porque elas são desnecessárias, mas porque deseja acelerar as mudanças climáticas e permitir o acesso a novas riquezas e oportunidades.

Exemplo maior, posto a nu nesta semana: Trump diz que a melhor era dos Estados Unidos está para chegar e que vai “tornar a América grandiosa novamente”. Mas os primeiros atos de sua Presidência mostram que o seu pressuposto é exatamente o contrário: Trump aceita a ideia de um mundo multipolar e retira os EUA do papel central de garantidor do sistema internacional e da Pax Americana de que têm beneficiado há 75 anos.

Só isso permite explicar por que motivo as tarifas com que ameaçou Canadá e México eram mais draconianas do que aquelas com as quais ameaçou a China —e também porque trata os ditadores Nicolás Maduro (Venezuela) e Kim Jong-un (Coreia do Norte) com mais deferência do que a arrogância e desdém com que se refere ao primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

A razão é simples: quando se é árbitro de um determinado sistema e há benefícios por esse papel central, há coisas que se pode fazer em interesse próprio (por isso a atuação dos Estados Unidos nunca foi pura nem desinteressada) mas é essencial saber manter as aparências. Mas quando a superpotência age despudoradamente em interesse próprio e trata com mais brutalidade os amigos do que os inimigos, o jogo acabou.

Toda a gente percebe que o garoto mais forte do recreio não está mais interessado em fingir; ele vai tomar o que quiser, quando quiser —porque pode. A partir de agora, os únicos limites da ação predadora de Trump não são as regras do sistema internacional, mas o poder material dos seus concorrentes como Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia). Se essas potências chegarem a um acordo sobre as suas esferas de influência (eu quero a Groenlândia, tu queres a Crimeia e ele quer Taiwan), tudo bem.

Acontece que os restantes países do mundo —incluindo os da Europa e da América Latina— ainda precisam de uma ordem internacional baseada em regras, desde que regras melhores, mais consistentes e menos hipócritas do que as que tivemos até agora. O que faz sentido para nós não é aceitar viver sob uma área de influência à escolha, mas recriar o melhor do sistema internacional, sem potência hegemônica.


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Fonte: Folha UOL

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