A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) concedeu no sábado (3) ao jornal nicaraguense La Prensa o prêmio anual Guillermo Cano de liberdade de imprensa, numa decisão que desatou a fúria do regime comandado por Daniel Ortega.
A Unesco concedeu o prêmio ao La Prensa por “levar a verdade ao povo da Nicarágua“, apesar da repressão e do exílio de seus jornalistas, nas palavras do júri.
Crítico da ditadura, o La Prensa possui uma versão online produzida por colaboradores exilados em diferentes países, incluindo Espanha, México, Alemanha e Estados Unidos.
Segundo a Sociedade Interamericana de Imprensa, a publicação é alvo de uma ofensiva do regime que inclui a proibição de importação de papel e insumos, o confisco de bens e o congelamento de contas bancárias, além da detenção por mais de 500 dias de seu diretor, Juan Lorenzo Holmann —ele foi posteriormente exilado e teve sua cidadania nicaraguense anulada.
“Fundado em 1926, o La Prensa não é apenas o meio de comunicação mais antigo da Nicarágua, mas também um pilar da liberdade de expressão no país. Ao longo de quase cem anos de existência, enfrentou e sobreviveu a três ditaduras, sofreu censura, fechamentos, ataques, o encarceramento de seus jornalistas e o assassinato de seu diretor, Pedro Joaquín Chamorro Cardenal, em 1978. Hoje, sob o regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo, atravessa um dos momentos mais críticos de sua história”, escreveu a Sociedade Interamericana de Imprensa.
O reconhecimento da publicação gerou forte reação da ditadura de Ortega, que neste domingo (4) comunicou à Unesco a retirada da Nicarágua da organização.
O governo da Nicarágua classificou o prêmio de vergonhoso, descrevendo-o como uma “semente diabólica do antipatriotismo nicaraguense”.
Em carta enviada à diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, que a agência de notícias AFP pôde consultar, o ministro das Relações Exteriores da Nicarágua, Valdrack Jaentschke, anunciou sua “decisão soberana e firme” de deixar a organização devido às suas “ações inaceitáveis e inadmissíveis” contra o país.
Azoulay lamentou em comunicado a desvinculação da Nicarágua. “Lamento esta decisão, que privará o povo da Nicarágua dos benefícios da cooperação em áreas como educação e cultura”, disse.
A Unesco “cumpre plenamente seu papel quando defende a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa em todo o mundo”.
De acordo com a Constituição da Unesco, a retirada da Nicarágua, membro desde 1952, entrará em vigor em 31 de dezembro de 2026.
O La Prensa, fundado em 1926, tem mantido uma postura crítica em relação ao regime de Daniel Ortega, no poder desde 2007.