“Vai chover perereca na Via 710”. É o que alertou o forte discurso político em defesa da natureza e dos direitos das minorias no desfile do bloco Truck do Desejo nesta terça-feira (4/3), em Belo Horizonte. E choveu mesmo na Avenida Pastor Anselmo Silvestre, Região Nordeste, num cortejo cheio de esperança e alegria: “Os seres vivos renascem, mesmo que se tente destruir o seu brejo”.
O bloco, criado por pessoas da LBPT (lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transmasculinos e pansexuais), sempre promoveu desfiles com mensagens políticas transmitidas com muita dança e apresentações artísticas – e este ano não foi diferente.
Por esta Carnavalo tema escolhido foi “Brejo Encantado”, na qual o público foi convidado a encontrar seus “encantades”, que seria um animal, uma planta ou um elemento da natureza que os magnetiza e representa.
O pontapé do cortejo foi com um discurso que lembrou a época da construção de Belo Horizontequando os rios foram canalizados para a construção de avenidas. As consequências desta decisão vieram décadas depois com as enchentes recorrentes que assolam a capital. Mais à frente, num dos viadutos da avenida, foi hasteada uma faixa escrito “não governarão nossas águas”.
Na sequência do discurso, houve uma apresentação com bailarinos e artistas representando os personagens do brejo encantado. Sapos, pererecas, grilos, gafanhotos, jaguatiricas, e a protagonista do espetáculo da natureza: a água.
“A gente dá vida para ela, que nutre, que é incubadora de destinos. (…) Ela, a água”, diz um dos trechos do discurso.
Toda esta diversidade se manteve presente em todo o cortejo, com os artistas fantasiados em meio à bateria, assim como pessoas em cima de pernas de pau. Espalhados pela avenida, os foliões, muitos com leques nas mãos, cantaram alto e fizeram uma verdadeira festa pela diversidade.
Se a água é responsável por gerar vida, conforme estava no manifesto do desfile, o banho de mangueira realizado no meio do cortejo ressuscitou os foliões que começaram o quarto dia de carnaval. Quem comandou a mangueirada em cima do caminhão-pipa foi a Chapolin, uma das fundadoras do Praia do Estação e figura carimbada do Carnaval de BH. Enquanto isso, a multidão entoou gritos de “Ei, Chapolin, joga água em mim!”.
“Maravilhoso! Eu estava esperando por isso, era o que eu mais queria”, conta Ana Beatriz, de 28 anos, que aproveitou a festa acompanhada da Michele Aragão, também de 28. As duas apontaram o banho como o ponto alto do bloco, junto da apresentação inicial. “Truck, além de arte, é crítica social”, disse Michele.
Quem também aprovou a temática do bloco deste ano foi Anne Vaz, de 30 anos. “É o bloco da família tradicional brasileira”, defende. Ela também conta que gostou da mudança de local do bloco, pois, como diz, “não tem a confusão comum do Centro”.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
A sua companheira, Patrícia Meirelles, de 42, que é seguidora do Truck do Desejo de longa data também parabenizou a mudança. “Eu venho todos os anos, não perco um. Está maravilhoso. Vamos ficar aqui até o fim”, disse.