Pedro Lovisi
As tarifas de 25% impostas por Donald Trump a todo aço que entra nos Estados Unidos obrigou as siderúrgicas brasileiras a exportarem aço para o mercado americano por um preço menor, segundo o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jorge Oliveira.
Como os americanos são de longe os maiores importadores de aço do Brasil, o faturamento dessas empresas deve cair se as taxas não forem alteradas em curto prazo.
Só no ano passado, por exemplo, a ArcelorMittal Brasil vendeu 15,1 milhões de toneladas de aço, sendo 44,5% das vendas voltadas para exportação –o principal destino é os Estados Unidos, que compram aços semiacabados do Brasil. Parte dessa venda vai para a subsidiária da ArcelorMittal no Alabama, que em 2024 comprou R$ 6,7 bilhões em produtos da ArcelorMittal Brasil.
Segundo Oliveira, desde o início de março, quando Trump anunciou as tarifas sobre o aço, o produto brasileiro vendido nos Estados Unidos está entre 5% e 7% mais barato. Ele não informou o valor exato das vendas, mas conforme a plataforma Platts, da S&P Global, a tonelada de placas –produto vendido pela ArcelorMittal nos EUA– está custando US$ 510 no mercado internacional.
A queda no preço do produto brasileiro acontece porque as taxas acabaram com o trato diferente que o Brasil recebia no mercado americano. Até então, as siderúrgicas brasileiras podiam vender 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado para os EUA sem pagar tarifas, mas agora qualquer quantidade de aço que entra no país é taxada em 25%.
Com isso, as siderúrgicas brasileiras precisam competir de igual para igual com as empresas de outros países, inclusive do Sudeste Asiático, que em alguns casos conseguem ter preços mais competitivos que as brasileiras.
“A gente observa o crescimento do volume de produção no Sudeste da Ásia, que eventualmente pode ter capital chinês investido”, afirma Oliveira à Folha. “[Mas, apesar da queda], o mercado está se ajustando e não há uma indicação de que o preço ficará nessa natureza. Então é muito cedo para se determinar como é que vai ser o modus operandi desse mercado, caso o Brasil não consiga a exceção.”
Segundo ele, as tarifas de Trump ainda não reduziram a demanda pelo aço brasileiro, embora as empresas estejam vendendo por preços menores. “As vendas para os Estados Unidos não tiveram ainda efeito, porque a demanda existe; é importante que isso fique claro. Os EUA não produzem o volume de placas que eles precisam; eles podem passar a produzir no futuro, mas ainda não”, afirma.
Desde o anúncio de Trump, o governo Lula tenta convencer os americanos a voltarem com as cotas para as empresas brasileiras, mas ao menos publicamente as negociações ainda não deram efeito. Oliveira observa que, assim como em 2018, quando Trump também chegou a anunciar tarifas contra o aço brasileiro, as negociações podem durar meses.
De qualquer forma, a venda de aço da ArcelorMittal para os EUA pode diminuir no médio prazo, à medida que a subsidiária do grupo no Alabama aumente sua produção de aço semiacabado. Ainda neste semestre, a empresa deve inaugurar uma planta capaz de produzir 1,5 milhão de toneladas de placas nos EUA –um investimento anunciado antes da eleição de Trump.
No ano passado, a ArcelorMittal Brasil vendeu 1,8 milhão de toneladas de placas para a empresa no Alabama. Com isso, a demanda futura deve diminuir para menos de 1 milhão –a perda pode ser compensada com a venda para outros clientes de fora do grupo.
CHINA É O MAIOR PROBLEMA
Apesar do impacto das tarifas de Trump, Oliveira considera a inundação de aço chinês no mercado brasileiro o maior problema para o setor hoje em dia. A análise é semelhante a de especialistas e do presidente-executivo da Gerdau, Gustavo Werneck, que conversou com a Folha em março.
Para Oliveira, se o governo federal não renovar a taxa de 25% para o aço importado, as siderúrgicas brasileiras precisarão cancelar investimentos –a medida vence no final de maio. Em 2024, segundo o Instituto Aço Brasil, o Brasil importou 3,3 milhões de toneladas de aço chinês, sendo a grande maioria de produtos já acabados.
“Se você pegar a média de importação de 2020 a 2022, a tendência de 2025 é mais ou menos 75% acima. E se você pegar a média anterior à Covid, estamos falando mais do que 100%. Então, a importação é o maior risco que nós temos”, diz Oliveira.
Segundo ele, caso nada seja feito para conter esse risco, a ArcelorMittal pode suspender R$ 10 bilhões em investimentos, inclusive a expansão da produção no Espírito Santo.
“Com a medida dos Estados Unidos, há uma tendência de os países se fecharem localmente para ter indústria gerando riqueza dentro dos países, e essa é a necessidade do Brasil. Os países que não se defenderem serão alvo de mais exportações e o que está perigoso pode ficar dramático”, acrescenta. “A medida de defesa é fundamental para que a rota de decisão de investir não mude.”
Uma das soluções, aponta, seria taxar em 25% todo aço que entra no país e não apenas a quantidade que ultrapassar uma cota estipulada pelo governo brasileiro.