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14/05/2025

Bebê reborn: colecionadoras defendem técnica artesanal – 09/05/2025 – #Hashtag

Rebeca Oliveira, Julia Estanislau

Nas últimas semanas, vídeos de mulheres que mostram bonecas de bebês ultrarrealistas —chamadas de bebês reborn— e a “rotina de cuidados” que têm com cada uma delas viralizaram. Nas redes, a estranheza do assunto levou internautas ao universo reborn. Milhares de postagens falam sobre possíveis “profissões reborn”, como creches, professora e advogados para bebês reborn.

Apesar de serem tachadas de loucas nas redes sociais, as colecionadoras garantem: é tudo atuação. Os vídeos que mostram cuidados, partos, passeios são “roleplay”, encenação.

“As pessoas veem um vídeo de dois minutos e acham que sabem como é todo o nosso dia. A gente não passa o dia todo cuidando de boneca”, diz Elaine Alves, conhecida nas redes como Nane Reborns, uma das maiores criadoras de conteúdo sobre o tema. Ela conta ao #Hashtag que coleciona bonecas desde criança e, há 20 anos, começou sua coleção de bebês reborn.

“Vi na televisão uma artesã entregando para uma artista e fiquei apaixonada pela riqueza de detalhes. É uma obra de arte”, afirma Elaine.

Hoje, com uma coleção de 15 bonecas, Elaine cursa faculdade, é casada e mãe de uma menina. Produz conteúdo sobre os bebês reborn no YouTube, TikTok e Instagram, plataformas em que é monetizada. Também ganha comissão por vendas de bonecas com parcerias que tem com as artesãs —chamadas de “cegonhas” no universo reborn.

“Quando eu saio com as bonecas para gravar, uso uma camiseta com meu arroba para as pessoas me seguirem, atingir um público maior e fazer as vendas. “Pelo fato de eu estar há muito tempo no universo reborn, as pessoas confiam na minha indicação.”

Brenda Alves é uma das artesãs indicadas por Nane. Ela conta que herdou as técnicas e materiais da mãe, que confeccionou a primeira boneca reborn de sua coleção para presenteá-la aos 15 anos. “Bem no início da pandemia, em abril de 2020, a professora da minha mãe abriu o curso gratuito durante 30 dias. Eu já tinha a faca e o queijo na mão. Os materiais estavam lá e não tinha nada para fazer durante o isolamento.”

Atualmente, Brenda diz fazer de 10 a 15 bonecas por mês em parceria com sua esposa. Os bebês reborn feitos por Brenda têm preços a partir de R$ 1.500. Nesse valor, explica, estão inclusos o kit cru (a base vinílica das bonecas), o material utilizado (tintas, verniz, cabelo) e mão de obra. “São muitas camadas de pintura, dependendo do bebê são mais de 30. Fora os detalhes finais e o processo da selagem com um verniz específico para esse tipo de material, porque não é qualquer coisa que vai fixar.”

O preço pode subir ainda mais se o kit cru da boneca for original, mais raro. “Já cheguei a pagar R$ 1 mil em um kit, mas tem outros por mais de R$ 6 mil.”

Questionada se a recente viralização do universo reborn se refletiu nas vendas, Brenda nega. “Aumentou a procura, mas as pessoas ainda acham um produto muito caro. Eu vendo mais para colecionadores.”

A maioria dos pedidos de orçamento são de pais interessados em comprar as bonecas para seus filhos. Em menor número, a artesã também recebe pedidos de bonecas parecidas com crianças reais.

Brenda diz ter recebido pedidos de mães que perderam seus filhos e desejavam uma boneca similar. Ela não faz esse tipo de trabalho. “Eu acho que vai trazer muito mais sofrimento”, diz.

Ao buscar “boneca reborn” em plataformas de compras, como Shopee, Mercado Livre e AliExpress, é possível encontrar bebês a partir de R$ 100. A industrialização do universo é criticada tanto por Elaine quanto por Brenda. “É muito diferente um bebezinho que tem pincelada por pincelada, manchinha por manchinha, daqueles feitos numa máquina de tintura e que são chamados de reborn. Isso acaba sendo um insulto, mas é o que mais vende”, diz Brenda.

“Muita gente compra e, quando chega em casa, vê que não é nada parecido com os bebês realistas que veem nos vídeos”, explica Elaine. “Essas bonecas não têm a técnica das artesãs. É arte, é uma obra de arte mesmo.”

Elaine avalia que a bolha do universo de colecionadores furou quando o padre Fábio de Melo adotou uma boneca reborn. Isso aumentou exponencialmente o número de comentários negativos sobre o hobby. “Sempre me perguntam o que eu faço quando o vídeo acaba. Eu respondo que coloco o saco na cabeça do bebê e guardo dentro do guarda-roupa para não estragar. Vejo como coleção, são só bonecas.”

“Se a pessoa não gosta, mas respeita, ótimo. Mas falar que a gente é doente, que a gente é louco, não dá. É só uma boneca!”, diz Brenda, que percebeu um aumento no número de comentários negativos em seus vídeos.

A reportagem entrou em contato com porta-voz da loja “Adora Reborns”, fabricante de bonecas com mais de 10 mil vendas na Shopee, mas não obteve resposta até a publicação.


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Fonte: Folha UOL

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