Surpreender um amigo jogando-lhe água fervendo na cabeça. Mergulhar em águas geladas. Incendiar o próprio corpo. Engolir uma colher. Inalar objetos pelo nariz tirando-os pela boca. Dois jovens que se estrangulam ao mesmo tempo reduzindo os níveis de oxigênio do cérebro até o desmaio. Andar em cima de um carro ou trem em movimento.
Os desafios online tornaram-se uma praga. Em março, Brenda Sophia, 11 anos, morreu em Bom Jardim (PE), vítima do desafio do desodorante. Em abril, Sarah Raíssa, 8 anos, de Ceilândia (DF), morreu ao inalar desodorante em spray após assistir a um vídeo.
Segundo psicólogos que estudam o fenômeno, a pressão e a aceitação sociais, o desejo de atenção e o efeito de contágio, além da internet sem controle dos pais ou responsáveis e sobretudo sem regulamentação, são os fatores que têm levado crianças e adolescentes à morte.
A prática é utilizada para aliciar jovens, que passam a disseminar pedofilia e conteúdos violentos e a cometer automutilação, crimes de ódio e ações terroristas. Em abril, a Polícia Civil do Rio prendeu três homens e apreendeu um menor de idade. Eles planejavam atacar um morador de rua. O homicídio seria transmitido pela internet como forma de entretenimento e em troca de dinheiro.
O maior desafio até agora estava reservado para as areias de Copacabana. Recrutados na plataforma Discord, adolescentes iriam explodir coquetéis molotov durante o show de Lady Gaga. O alvo preferencial era o público LGBTQIA+. A ação preventiva da Polícia Civil e do Ministério da Justiça salvou centenas de vidas.
Enquanto os EUA e a Europa tentam impor disciplina ao poder sem limite das big techs, nossos parlamentares deixam-se seduzir pelo lobby das plataformas e desprezam o problema.
Na Câmara, o desafio é diferente: elevar o número de deputados para 531 —18 vagas a mais, resultando num aumento estimado de R$ 68 milhões por ano aos cofres públicos—, arranjar novas maneiras de liberar emendas sem detalhar a aplicação da verba e salvar os golpistas.
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