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23/04/2025

Notas sobre a pantomima do lobo-gigante – 12/04/2025 – Reinaldo José Lopes

É, eu sei que “pantomima do lobo-gigante” parece título de versão vanguardista de contos de fadas, ou algo que sairia da boca de um membro da família Collor de Mello. Mas é o único jeito de classificar o que aconteceu nesta semana, quando foi revelada a suposta “desextinção” (a qual, se você me permite o spoiler, NÃO aconteceu) do lobo-gigante, ou Aenocyon dirus.

Pois bem: quero discutir as razões inescapavelmente numéricas pelas quais é impossível afirmar que os filhotes branquinhos e felpudos que vimos nesta semana são, de fato, membros de uma espécie rediviva.

Porque, afinal, é disso que se trata a genômica: um exercício da análise de grandes números. Se quiser, pegue papel e caneta, mas nenhuma conclusão apresentada aqui exige mais do que uma regra de três para fazer sentido.

O DNA completo dos lobos atuais, que serviu de base para as modificações cosméticas que geraram os lobinhos Romulus, Remus e Khaleesi, tem 2,4 bilhões de letras químicas. É mais ou menos o mesmo tamanho do genoma reconstruído do lobo-gigante. Segundo os dados da prévia de um artigo científico sobre os bichos, distribuído pela empresa que os criou, as diferenças entre os dois equivalem a 14,5 milhões dessas letras. Ou seja, uma diferença de 0,6% entre as espécies (levando em conta que há imprecisões quando se analisa um genoma antigo –provavelmente é um pouco mais).

É pouco? É pouco em termos globais, mas coloquemos a coisa em perspectiva. A diferença entre o genoma humano e o dos chimpanzés é de 1%. Isso nos dá uma baliza razoável. Qual a porcentagem dos cerca de 20 mil genes de pessoas e chimpanzés (número similar ao dos lobos, aliás) que diferem de modo significativo, com algum impacto no organismo? Na verdade, 70%.

Como assim? Não é estranho quando se considera como o DNA funciona. “Genes” é o nome que damos às regiões do DNA que contêm a receita para a produção de uma proteína (aliás, pode ser mais de uma no mesmo gene). Cada trinca de letras do DNA corresponde a uma unidade química das proteínas, os aminoácidos.

Nem sempre a troca de uma das três letras corresponde a uma mudança no aminoácido. Mas muitas vezes isso acontece. E isso frequentemente muda bastante a função da proteína. Pensar em termos de texto é uma boa analogia. Escrever “rosa” como “roza” não muda o sentido da palavra para um falante do português (ainda que ele se horrorize com a ortografia pouco ortodoxa). Mas escrever “roça” muda completamente o sentido.

É por isso que chimpanzés são tão diferentes de nós, apesar do proverbial 1%. Com metade dessa diferença (sendo generoso…), é inevitável que milhares de genes dos lobos atuais e dos lobos-gigantes tenham funções distintas no organismo.

A empresa americana, porém, alterou apenas 14 genes para produzir seus filhotes fofinhos. Curiosamente, todos são genes com efeitos na aparência dos animais, estando ligados à cor, espessura e comprimento do pelo e ao tamanho dos bichos.

Ressuscitar uma espécie é fazer cosplay de animal extinto com uma espécie atual, então? Para cúmulo de desplante, o próprio George R.R. Martin –sim, o autor de “Game of Thrones” – assina o artigo científico também. E é investidor da empresa. Comparou o feito a uma forma de “magia”. Só se for para engordar magicamente ainda mais a conta bancária dele.


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Fonte: Folha UOL

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