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07/02/2025

O álcool é um aliado nefasto da angústia – 14/10/2024 – Vida de Alcoólatra

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Por: Alice S.

Quando eu era criança, a angústia tomava conta de mim. Eu era uma menina de sete anos que tinha aflição da vida, e isso não é pouca coisa. Não sei dizer muito bem por que me sentia assim, mas a vida era muito assustadora, só sei disso. E tenho nítidas recordações dessa agonia que me assolava.

Tenho certeza de que esse sentimento tem ligação com meu alcoolismo. Quando consegui achar uma substância que me tirava do ar, foi libertador.

Claro que não comecei a beber na infância. À medida que crescia, fui sendo apresentada àquele mundo de enganosa tranquilidade. Lembro exatamente do momento em que virei o primeiro copo de pinga, no começo da adolescência. O mundo ficou melhor instantaneamente.

Eu nem desconfiava que mais tarde essa melhora viraria meu inferno.

Durante muito tempo, a alegria infernal da bebida ajudou a mitigar a angústia que me tomava. Quando eu estava meio mal, não tinha dúvida:apelava para meu remédio preferido, mais barato e aparentemente sem contraindicação. (Eu não lia “beba com moderação”, aquilo não passava de um aviso de praxe colado na garrafa, sem a mínima importância.)

Não me dava conta de que eu nunca tinha limite. Começava a beber por impulso, para sair da realidade, e não parava mais. Algumas amigas me alertavam que eu disparava bebendo e perdia a noção da vida ao redor.

Então o que começou lá atrás, de pequena, com um desconforto, uma angústia, foi me levando a ser uma alcoólatra, tenho absoluta certeza. Mas claro que as coisas foram gradativas, nem sempre eu bebi demais. Porém, aos poucos, o gosto e a dependência do álcool foram tomando conta do meu cérebro e eu fui interiorizando que aquela substância parecia tornar tudo mais agradável. Até que não teve mais graça. Até que a angústia aumentou.

O álcool é um poderoso aliado da angústia. Mas um aliado nefasto, que a faz crescer. E eu tampouco sabia disso. Fui usando até que as ressacas começaram a me mostrar a verdadeira face da bebida.

Não aprendi com meus dias seguintes, com minhas catástrofes. Fui deixando tudo correr ladeira abaixo. Não porque eu tenha querido assim, mas porque eu sou alcoólatra.

Muita gente se culpa por beber demais e estragar as festas familiares e dos amigos. A verdade é que são alcoólatras e não precisam se envergonhar, basta se tratar. Falo isso porque já arruinei inúmeras festinhas familiares e tenho certeza de que hoje isso ficou no passado.

Ninguém me entendia, não tinha um guia para sair do inferno, mas, de repente, depois de uma internação, com muita angústia, fui parar nos Alcoólicos Anônimos. Minha vida mudou, meus hábitos mudaram, mas a angústia continua. Às vezes mais forte, às vezes mais amena, e minha tarefa agora é aprender a lidar com ela. Longe, muito longe do álcool.

Faço exercícios de respiração, converso com amigos. Hoje sei lidar melhor com algo que me perturba desde pequena. Tive que passar pelo álcool para aprender que o caminho não é por aí.

Sou uma mulher sensível, que se apavora fácil e tem muitos medos. Mas todos eles podem ser solucionados em sobriedade, com muito mais benefício pra mim e para quem me rodeia.


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Fonte: Estadão

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