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29/04/2025

Os lugares-comuns são perigosos – 15/04/2025 – Deirdre Nansen McCloskey

Um local compartilhado, o “lugar-comum” em que se colhem argumentos, é chamado de “commonplace” em inglês. Vem do grego “koinoi topoi”, que na teoria retórica grega significa “tópicos comuns”. “Topoi” em grego é “lugares”, algo como um depósito de argumentos compartilháveis.

Na matemática grega, por exemplo, o principal lugar-comum era a contradição. Uma prova grega, que se tornou a mais prestigiada na matemática ocidental, contrasta com as provas construtivas da matemática chinesa ou a prova empírica da matemática babilônica. A chegada dos computadores tornou mais comuns as quase-provas empíricas ou lemas.

Em economia, o lugar-comum de que a entrada acontece ao menor sinal de lucro é básico. Foi adotado por Darwin para a seleção natural quando ele o leu num livro sobre economia. O lugar-comum de entrada explica a semelhança entre preços num mesmo bairro, pois, do contrário, haveria um lucro ao entrar —comprando na baixa e vendendo na alta. Se os custos dessa “arbitragem” não forem altos demais, os preços convergem. Bom programa.

Mas a economia estatista, que hoje predomina no Brasil e nos Estados Unidos, depende de um conjunto de lugares-comuns que não são corretos como ciência. O lugar-comum da entrada é usado, talvez em excesso, por liberais essenciais como eu para justificar que se deixe a economia em paz. Os lugares-comuns estatistas são usados, certamente em excesso, para justificar a coerção do Estado.

Lugares-comuns, bons ou maus, são usados para encerrar conversas. Você ouvirá estatistas e aliados justificarem intervenções nos mercados citando “monopólio empresarial”, “consumidores irracionais”, “imperfeições no mercado de capitais”. Fim da discussão. É hora da intervenção estatal.

Esses três lugares-comuns, note-se, são afirmações factuais. Todos negam o lugar-comum da entrada. O monopólio empresarial —”monopólio natural”— deve ser contrastado com o monopólio patrocinado pelo Estado, como os táxis, extremamente antinatural.

O monopólio empresarial diminuiu vertiginosamente desde 1776, porque ferrovias, bicicletas, telefones e internet reduziram radicalmente os custos de entrada e, portanto, de arbitragem. Consumidores são de fato irracionais às vezes, mas a entrada de empresas como lojas de departamentos de alta qualidade ou serviços de reputação reduziu os danos da estupidez.

Da mesma forma, baratear a entrada tende a reduzir as imperfeições no mercado de empréstimos. Quão poderosas elas são depende dos fatos. Mas o hábito estatista de recorrer aos lugares-comuns e depois ir para casa não encara os fatos possíveis.

Os economistas estatistas também interrompem a conversa alegando imperfeições nos mercados decorrentes de “externalidades”, como poluição aérea e “assimetria informal”, como as coisas que seu médico sabe, mas você não. Elas também quase nunca são mensuradas. E outra deficiência usada como argumento científico para a intervenção do Estado é que ambas são livres de qualquer interação social. Hã-hã.

Aplicadas consistentemente, elas dizem que o Estado deve dominar tudo o que fazemos.

E o lugar-comum máximo do estatismo é que o Estado é perfeito em tudo o que faz. Hã-hã.


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Fonte: Folha UOL

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