Comemorada em 2025 no dia 17 de abril, a Quinta-feira Santa é uma das datas mais significativas do calendário cristão. Esse dia marca a celebração da Última Ceia de Jesus Cristo com seus discípulos, um momento central na narrativa da Paixão, que antecede sua crucificação e ressurreição. A data, celebrada na Semana Santa, convida os fiéis à reflexão sobre o amor, o sacrifício e o serviço.
De acordo com os Evangelhos, na Última Ceia, Jesus partilhou o pão e o vinho com seus discípulos, instituindo o sacramento da Eucaristia, que simboliza sua entrega pela humanidade. Em um gesto marcante de humildade, Ele também lavou os pés dos apóstolos, um ato que desafiava as normas sociais da época e transmitia uma poderosa mensagem de serviço e igualdade. “Se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (João 13:14), disse Jesus, segundo o relato bíblico.
Nas celebrações litúrgicas da Quinta-feira Santa, as igrejas cristãs, especialmente as católicas, realizam a Missa do Lava-pés, na qual sacerdotes repetem o gesto de Jesus, lavando os pés de membros da comunidade. É também nessa missa que se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Após a cerimônia, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um altar lateral, simbolizando a agonia de Jesus no Getsêmani, e os altares são despojados, preparando o ambiente para a solenidade da Sexta-feira da Paixão.
A Quinta-feira Santa é um convite à introspecção e à vivência do mandamento do amor deixado por Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (João 13:34). Para os cristãos, é um momento de renovar o compromisso com a fraternidade, a humildade e a entrega ao próximo, valores que ecoam o exemplo de Cristo.
Além disso, a data marca o início do Tríduo Pascal, que culmina na Vigília Pascal e na celebração da Ressurreição no Domingo de Páscoa. Em 2025, a coincidência da Quinta-feira Santa com o dia 17 de abril reforça a universalidade da mensagem pascal, unindo cristãos de diferentes tradições em torno da memória do sacrifício e da promessa de redenção.
A Reforma dos Nomes dos Dias da Semana em Portugal
Um aspecto interessante da história cristã em Portugal está relacionado à reforma dos nomes dos dias da semana, promovida no Primeiro Concílio de Braga, realizado entre 561 e 563, sob a liderança de São Martinho de Braga. Na época, a Península Ibérica, então sob domínio visigodo, ainda utilizava os nomes romanos para os dias da semana, que homenageavam deuses pagãos e planetas, como Dies Solis (Dia do Sol, domingo), Dies Lunae (Dia da Lua, segunda-feira), Dies Martis (Dia de Marte, terça-feira), e assim por diante. Esses nomes refletiam a influência da astrologia pagã e da mitologia greco-romana.
São Martinho, um bispo de origem panônia (atual Hungria) e figura central na cristianização da região, considerava esses nomes incompatíveis com a fé cristã. No Concílio de Braga, ele propôs a substituição dos nomes pagãos por uma nomenclatura que evitasse referências a divindades não cristãs. A proposta foi aprovada, e os dias da semana, exceto o domingo (Dominicus Dies, Dia do Senhor) e o sábado (Sabbatum, em referência ao descanso judaico), passaram a ser designados por numerais em latim: Feria Secunda (segunda-feira), Feria Tertia (terça-feira), Feria Quarta (quarta-feira), Feria Quinta (quinta-feira) e Feria Sexta (sexta-feira). A palavra feria derivava do latim e significava “dia de descanso” ou “dia festivo”, sendo adaptada para designar os dias úteis.
Com o passar dos séculos, a língua portuguesa evoluiu, e o termo feria transformou-se em feira, resultando nos nomes atuais dos dias da semana usados em Portugal, no Brasil e em outros países lusófonos, como Angola, Moçambique e Cabo Verde. Assim, a decisão do Concílio de Braga tornou o português a única língua românica a abandonar completamente os nomes planetários para os dias da semana, mantendo uma numeração ordinal que reflete a influência cristã. Em contrapartida, línguas como o espanhol (lunes, martes), o francês (lundi, mardi) e o italiano (lunedì, martedì) preservaram os nomes de origem pagã.
Essa reforma, embora específica a Portugal, teve um impacto duradouro nas regiões colonizadas pelos portugueses, como o Brasil, onde os termos segunda-feira, terça-feira, etc., são usados até hoje. Curiosamente, a tentativa de São Martinho de alinhar o calendário com a fé cristã não se estendeu a outros países católicos, que mantiveram os nomes romanos, evidenciando a singularidade da influência do Concílio de Braga na cultura lusófona.