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14/05/2025

Série sobre Jean Charles de Menezes busca a verdade – – Ilustrada

Marina Izidro

Na entrada da estação de metrô de Stockwell, no sul de Londres, há um mosaico com o rosto de Jean Charles de Menezes e a palavra “inocente” escrita em inglês. Faz quase 20 anos, mas um dos maiores erros da história da polícia britânica segue vivo na memória de quem está por aqui.

No dia 22 de julho de 2005, o brasileiro de 27 anos foi morto com sete tiros na cabeça e um no ombro por atiradores da polícia britânica dentro do vagão.

Agora, a tragédia é retratada em uma série com quatro episódios. “Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano” estreia nesta quarta (30) no Disney+. A produção britânica mostra os acontecimentos que cercam a morte do eletricista sob a perspectiva dos envolvidos.

Para o ator brasileiro Edison Alcaide, que vive em Londres desde 2008 e interpreta Jean Charles, a série tem como missão expor o que de fato ocorreu.

“Ela faz uma enorme reflexão do dano que informações errôneas podem causar. Foi evidente o compromisso de todo mundo de ser o mais fiel possível com o que tinha acontecido e trazer a verdade à tona. Ela é tensa do começo ao fim, não te deixa respirar,” diz Alcaide à Folha.

“O Jean foi vítima não só do que aconteceu, mas de muitas mentiras. Quando vim morar em Londres, falando com pessoas, a informação era que ele tinha corrido da polícia, reagido. O impacto das fake news é tão grande que até hoje muita gente diz que ele correu, reagiu, era trambiqueiro, malandro.”

Na época, a capital inglesa estava em alerta. Duas semanas antes, ataques por homens-bomba causaram a morte de 52 pessoas em explosões no metrô e em um ônibus. Na véspera, extremistas haviam tentado, sem sucesso, detonar explosivos no transporte público.

A polícia começou uma busca e confundiu o brasileiro com um suspeito. Relatos iniciais incorretos diziam que Jean Charles havia pulado a catraca da estação de Stockwell vestindo um casaco grosso dentro do qual estaria escondendo uma bomba e, confrontado, avançou nos policiais.

Imagens do circuito interno mostraram que ele entrou normalmente e vestia uma jaqueta leve. Testemunhas disseram que não reagiu. Uma série de erros de planejamento e execução na operação levaram à morte de Jean Charles.

Na época, a polícia afirmou que as circunstâncias “ocorreram em um momento de ameaça terrorista sem precedentes.” E assumiu que o imigrante do interior de Minas Gerais era inocente.

Nenhum indivíduo foi processado. Em 2007, a polícia foi multada em 175 mil libras, cerca de R$ 1,3 milhões em valores atuais, por violar leis de saúde e segurança e colocar o público em perigo. A família recebeu indenização da Scotland Yard, cujo valor não foi divulgado. Em 2016, a Corte Europeia de Direitos Humanos negou a apelação dos familiares contra a decisão da justiça de não acusar nenhum policial.

A brasileira Anna Moreno interpreta Maria de Menezes, mãe de Jean Charles. A atriz também acredita que a série faz uma correção histórica. “Para a dona Maria, o que ela quer é que a verdade fique clara,” diz.

“Eu quis dar voz a ela. Por ser uma pessoa que não fala inglês, não tinha força nem voz. O objetivo dela, em ajudar na série, é que a justiça fosse feita em termos de todos saberem que ele não era um fugitivo da polícia. Mostrar que o filho era uma pessoa boa e trabalhadora.”

A família de Jean Charles e policiais envolvidos no caso foram consultores na produção. Escrita por Jeff Pope e dirigida por Paul Andrew Williams, tem Conleth Hill (“Games of Thrones”) no papel do comissário Ian Blair, cargo mais alto da corporação. Emily Mortimer (“Paddington: uma Aventura na Floresta“) é Cressida Dick, que liderou a operação e, anos depois, foi promovida a comissária. Alex Jennings (“The Crown“) interpreta o advogado de defesa da família.

E por que contar essa história tanto tempo depois? “São muitos temas discutidos: xenofobia, imigração, fake news, responsabilidade das instituições que deveriam nos proteger. Acho a série mais relevante do que nunca,” diz Alcaide.

“Como sociedade, a nível mundial, a gente está muito mais disposto a ter conversas difíceis hoje do que 20 anos atrás; questionar as instituições, o sistema. Faz parte da nossa evolução como sociedade trazer esses questionamentos à tona.”



Fonte: Folha UOL

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