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01/05/2025

EUA:Cabeleireira trans brasileira fica presa em Guantánamo – 01/05/2025 – Mundo

Patrícia Campos Mello

Uma cabeleireira transgênero brasileira foi presa por agentes da imigração tentando entrar nos Estados Unidos e ficou detida na prisão de Guantánamo em uma ala destinada a prisioneiros homens.

“Falei várias vezes para eles que era uma mulher trans e não me sentia bem no local só com homens, que não me sentia segura. Tinha três beliches na cela, e um banheiro que não fechava a porta”, disse à Folha a mineira Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, 28. “Disse para eles que estava sofrendo assédio, mas não fizeram nada, disseram que eu ia ficar na cela para homens. Também não me deixaram ligar para ninguém da minha família, nem falar com algum advogado.”

Desde o início do segundo mandato de Donald Trump, ao menos 177 imigrantes em situação irregular como Gonçalves foram mandados para Guantánamo, base militar americana em Cuba normalmente reservada para acusados de terrorismo.

Gonçalves cruzou a fronteira do México para os EUA em 15 de fevereiro e foi detida por autoridades na fronteiriça El Paso, no Texas. Ela relatou ter pagado R$ 70 mil para um coiote. Seu plano era pedir asilo às autoridades americanas, pois disse sofrer perseguições pelo fato de ser uma mulher trans. Ela foi transferida para um centro de detenção no estado do Novo México. Lá, ficou detida durante nove dias, em uma unidade com 49 homens.

Em um depoimento dado em português a advogados e traduzido para o inglês, Tarlis descreveu sua situação. “Eu disse que estava sendo assediada por homens nos corredores e na cela, mas ninguém fez nada”, afirmou. O relato foi incluído em ação movida pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e pelo Centro para Direitos Constitucionais (CCR) contra o governo Trump para impedir que dez homens detidos pela imigração americana fossem mandados a Guantánamo. O depoimento foi revelado pelo site The Free Radical.

Do centro de detenção no Novo México, a cabeleireira afirmou ter sido levada, com algemas nos pés, punhos e quadril, para um avião militar, sem saber aonde estava indo. Só chegando à base de Guantánamo, teria sido informada de onde estava. “Fiquei desesperada quando vi que tinham me levado para uma prisão em Cuba, achei que estivesse indo para o Brasil, não sabia o que iam fazer comigo.”

Em seu depoimento, a cabeleireira disse: “Os guardas não me tratavam como se eu fosse humana.”

Após cinco dias em Guantánamo, sem nenhuma explicação, Gonçalves foi colocada em um avião militar americano e levada para Miami e, de lá, para um centro de detenção na Louisiana. Após muitos pedidos para não ser alojada junto com prisioneiros homens, foi colocada em uma solitária por 17 dias. “Só saía da cela para um banho de sol de 25 minutos”.

Ela disse que estava constantemente com fome, porque havia pouca comida. Mas, segundo Gonçalves, pelo menos as autoridades lhe deram acesso a um tablet, e Gonçalves conseguiu falar com sua irmã em Alvarenga (MG), cidade com 4.000 habitantes na região de Governador Valadares. “Minha irmã e eu não parávamos de chorar.”

A Folha tentou contato com advogados da ACLU e da CCR, mas não obteve resposta até a tarde desta quinta-feira (1º).

Gonçalves foi deportada para o Brasil no início de abril. Veio com algemas nos punhos e pernas. “Apertaram tão forte que fiquei dez dias com as pernas inchadas”, disse ela, que voltou para Alvarenga e está na casa dos pais.

Agora, ela busca saldar as dívidas que fez para pagar o coiote. “Meu plano era construir um salão de beleza para mim e terminar de construir uma casa para os meus pais.”

“Nunca imaginei que fosse parar em uma prisão em Cuba. Não cometi nenhum crime”, disse Gonçalves, que não fala inglês e se comunicava em espanhol. Segundo a cabeleireira, alguns funcionários da prisão afirmaram que o governo americano não reconhecia a existência de pessoas trans.

“Trump tem família, tem filhos. Espero que ele nunca tenha uma filha transgênero e nunca passe o que eu e minha família passamos. Minha mãe sofreu muito.”



Fonte: Folha UOL

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