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03/05/2025

Dia do sertanejo celebra formatação de um gênero musical – 02/05/2025 – Gustavo Alonso

Talvez você não saiba, mas o dia 3 de maio é, desde 1964, o “dia do sertanejo“. Assim como o samba tem seu dia, 2 de dezembro, e 13 de dezembro é conhecido como o dia nacional do forró, os músicos sertanejos têm uma data para chamar de sua. O processo de invenção desta data celebrativa ajuda a entender como a música sertaneja se formou entre folclore, indústria cultural, igreja e governo.

Desde pelo menos 1960 havia encontros informais de violeiros caipiras e sertanejos em Aparecida, no estado de São Paulo, terra da padroeira do Brasil. Diante da movimentação da sociedade civil, a nascente indústria cultural sertaneja percebeu o alcance do fenômeno e abraçou a proposta, alavancando a repercussão.

Foi Geraldo Meireles, apresentador e produtor de programas do gênero, conhecido como o “marechal da música sertaneja”, quem comprou a ideia. Ele era reverenciado pelos trabalhos no rádio, como o “Prelúdio Sertanejo” da Rádio 9 de Julho nos anos 1950, e na televisão, com o “Canta Viola”, que teve início na TV Cultura nos anos 1960. Meireles usou a data para alavancar mercadologicamente o gênero que começava a dominar as paradas populares.

Uma das rádios com maior aceitação pelos interioranos sertanejos era a Rádio Aparecida, emissora de evangelização ligada à Igreja Católica. Com o apoio da rádio cristã e a aceitação dos violeiros, Geraldo Meireles levou a dupla Tonico e Tinoco para se apresentar na cidade no dia 3 de maio de 1964. O evento tornou-se tradição. A celebração de agradecimento religioso passou a ser realizada anualmente em programas de auditório que eram transmitidos do antigo Cine Aparecida, ao lado da Basílica Velha, pois o atual Santuário Nacional ainda estava em construção.

O dia do sertanejo deu mais um passo na institucionalização quando foi alçada à data estadual. O governador paulista Laudo Natel, da Arena, esteve nos festejos de 1970, abraçando os artistas. Sua presença ilustra mais um componente da música sertaneja, as bênçãos estatais, no caso de membros do governo ditatorial.

De lá pra cá, vários artistas participaram dos festejos anuais, entre eles Zico e Zeca, Tião Carreiro e Pardinho, Nestor e Nestorzinho, Silveira e Silveirinha, Tonico e Tinoco, Liu e Léu, Sérgio Reis, Irmãs Galvão, Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano, Cascatinha e Inhana, Pedro Bento e Zé da Estrada, João Paulo e Daniel, entre outros.

Em reportagem da revista “Álbum Sertanejo” de maio de 1970, foi anunciado que a prefeitura doaria um terreno junto à Basílica para que fosse erguida uma estátua simbolizando o homem do campo, obra nunca construída. Mas o cantor sertanejo Daniel tem uma estátua no Museu de Cera do Memorial da Devoção de Aparecida. A estátua está localizada na sala dos devotos famosos, ao lado de Ronaldo Fenômeno, o astronauta Marcos Pontes, o padre Marcelo Rossi e o humorista Renato Aragão.

A invenção de um dia específico para o sertanejo ilustra as condições de crescimento da música sertaneja no cenário nacional. A união de elementos folclóricos traduzidos pela indústria cultural, abençoados pela igreja e laureados pelo Estado forjaram a data institucionalizada. Muito sintomático da história do gênero.


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Fonte: Folha UOL

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