Um navio que transportava ajuda humanitária para a Faixa de Gaza e onde estavam 30 ativistas foi bombardeado por drones em águas internacionais perto da ilha de Malta na madrugada desta sexta-feira (2), disseram seus organizadores, que atribuem o ataque a Israel.
O ativista brasileiro Thiago Ávila relatou o episódio em suas redes sociais. De acordo com publicações em sua página no Instagram, havia brasileiros na embarcação da Flotilha da Liberdade, coalizão de diferentes movimentos e iniciativas que atuam contra o bloqueio de Tel Aviv a Gaza.
“Às 0h23 em Malta [19h23 de quinta em Brasília], um barco da Freedom Flotilla foi atacado por um drone israelense. A parte dianteira da embarcação foi atingida duas vezes, resultando em um incêndio e um vazamento no casco”, afirmou ele em uma publicação em conjunto com outras entidades. “O ataque parece ter atingido o gerador da embarcação, colocando em risco de afundar junto a 30 ativistas humanitários internacionais.”
O Ministério das Relações Exteriores de Israel não respondeu imediatamente à Reuters.
O governo maltês afirmou que, pouco depois da meia-noite local, autoridades marítimas do país receberam um pedido de socorro de uma embarcação fora das águas territoriais com 12 tripulantes e quatro civis a bordo.
Um rebocador, então, dirigiu-se ao local e iniciou operações de combate a incêndio, e uma embarcação de patrulha maltesa foi acionada. Após várias horas, a embarcação e sua tripulação estavam em segurança, afirmou o governo, acrescentando que a tripulação teria se recusado a embarcar no rebocador.
A coalizão, no entanto, diz que o navio ainda está em perigo.
A ativista sueca Greta Thunberg, que estava em Malta e deveria embarcar no navio, disse que a embarcação ainda estava no local e em perigo iminente. “Este ataque causou uma explosão e grandes danos ao navio, o que impossibilitou a continuação da missão”, disse ela em uma entrevista à Reuters pelo Zoom.
“Eu fazia parte do grupo que deveria embarcar naquele barco hoje para continuar a viagem em direção a Gaza, o que é uma das muitas tentativas de abrir um corredor humanitário e fazer a nossa parte para continuar tentando romper o cerco ilegal de Israel a Gaza”, declarou.
Thunberg e a ONG disseram ainda que havia 30 pessoas a bordo, e não 16, como afirmou o governo maltês.
A ONG publicou imagens de vídeo mostrando um incêndio em um de seus navios, o Conscience. As cenas mostravam luzes no céu em frente ao navio e o som de explosões. “Os embaixadores israelenses devem ser convocados e responder por violações do direito internacional, incluindo o bloqueio em curso [a Gaza] e o bombardeio de nossa embarcação civil em águas internacionais”, afirmou a entidade.
Ainda de acordo com a Flotilha da Liberdade, o bombardeio causou “uma ruptura substancial no casco”. “O ataque de drones parece ter como alvo deliberado o gerador do navio, deixando a tripulação sem energia e colocando a embarcação em grande risco de naufrágio”, afirmou.
Uma porta-voz do grupo, Caoimhe Butterly, disse que a ofensiva ocorreu enquanto o navio se preparava para o embarque de ativistas de outra embarcação. Por razões burocráticas, a transferência ocorreria no mar, não no porto.
A guerra em Gaza começou depois de os ataques terroristas liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 matarem 1.200 pessoas e fazerem 251 reféns, segundo dados de Tel Aviv. Desde então, Israel já matou mais de 52 mil pessoas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo grupo terrorista.
Desde 2 de março, Israel cortou completamente o fornecimento de ajuda humanitária para os 2,3 milhões de moradores do território palestino, já devastado após um ano e meio de bombardeios. Os alimentos estocados durante o cessar-fogo no início do ano praticamente se esgotaram no local, onde 91% da população pode estar em altos níveis de insegurança alimentar, segundo a ONU.
Em 2010, um navio da mesma organização foi palco do assassinato de nove ativistas turcos, desarmados, por militares de Israel. Uma investigação do Conselho de Direitos Humanos da ONU concluiu que o ataque israelense foi desproporcional e ilegal. Na época, Tel Aviv disse ter agido em defesa.