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13/05/2025

Atlas da Violência trouxe esperança – 12/05/2025 – Joel Pinheiro da Fonseca

Pesquisa atrás de pesquisa reforça que a violência é, hoje, o tema que mais preocupa o brasileiro. O preço do ovo importa, assim como a fila no posto de saúde e a corrupção em Brasília, mas o medo de levar um tiro na cabeça a caminho do trabalho é maior. E, no entanto, segundo o Atlas da Violência 2025, publicado nesta segunda, os homicídios no Brasil vêm caindo.

Se pegarmos o pico da série —2017— tivemos uma queda expressiva de 31,8 para 21,2 homicídios por 100 mil habitantes atualmente. Os dados do Atlas são de 2023, então não é impossível que, ao se contabilizar os dados de 2024, vejamos uma piora. No entanto, não parece ser o caso: na cidade de São Paulo, por exemplo, 2024 teve menos homicídios do que 2023.

Mais um caso, portanto, em que a percepção popular parece descolar dos dados objetivos? Não exatamente. Mesmo com a queda, somos um país muito violento. Nosso melhor resultado em 11 anos é quase quatro vezes pior do que a média mundial, de 5,6. Somos mais violentos que nações asiáticas e africanas mais pobres do que nós. E a média nacional esconde ainda aberrações como Amapá (57,4) e Bahia (43,9).

São Paulo vai bem na foto, com 6,4. Mesmo somando as “mortes violentas sem causa determinada” —estranhamente altas no estado desde 2018—, ficamos na segunda posição nacional. E, mesmo assim, por onde quer que eu ande, com quem quer que eu fale, uma nova história de roubo. Os vídeos não param de chegar no zap. Roubo de carro no meio da tarde, roubo de celular na rua de casa, sequestro em pet shop, agressão numa padaria, latrocínio no parque.

Pode ser que hoje em dia vejamos mais os crimes. O assassinato perto da minha casa costumava ser só um número. Mas, se o grupo do prédio compartilha o vídeo do crime e eu reconheço a rua pela qual passo diariamente, isso muda minha percepção. Além disso, dentro de um quadro de melhora geral há também pioras localizadas: há uma epidemia de crime em alguns bairros —inclusive o meu— que domina a percepção de seus moradores.

A leniência do Brasil com o criminoso violento é notória. Não é verdade que o Brasil prende demais. Prendemos muito pouco. A figura tão comum do criminoso que “já tinha passagem pela polícia” —por tráfico, agressão, homicídio— é o índice do fracasso de nossa segurança. Se não permaneceu preso depois da primeira passagem, é porque o sistema falhou, vitimando a população. O crime organizado domina territórios, negando a prerrogativa básica do Estado que é o monopólio da violência. Motivos para se indignar não faltam.

O que a nova edição do Atlas nos mostra é que, mesmo com o quadro sombrio, há também iniciativas que vêm funcionando. Sendo assim, sonhos de rompantes violentos, de grupos de extermínio, milícias cidadãs armadas ou uma política a la Bukele de prender jovens em massa apenas por denúncias anônimas (o que seria impossível no Judiciário brasileiro), não deveriam nos distrair.

A ideia da terra arrasada —de que o crime já venceu, não há saída e vivemos no inferno irremediável— nos cega ao que pode melhorar e nos faz sonhar com soluções ao mesmo tempo utópicas e monstruosas. A melhora real vem de soluções parciais e resultados incrementais sustentáveis que precisam, óbvio, ser divulgados e repetidos. Não é o discurso mais sexy, mas é o que pode nos deixar mais seguros.


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Fonte: Folha UOL

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