Douglas Gavras
No centro da cidade, os cartazes comemorando a escolha de Leão 14 e o chamando de “o papa de Chiclayo” agora não estão somente na praça principal, em frente à catedral e perto do prédio da Cúria no qual Prevost morou. Eles estão também no calçadão, na avenida principal e na porta da rodoviária.
A cidade de 600 mil habitantes, no noroeste do Peru, parece dar os primeiros passos para se tornar um centro de visitação de católicos.
“Acho mesmo que Chiclayo e toda a nossa região vão virar pontos de peregrinação. Pelo menos deveria ser assim. As pessoas vão querer conhecer o lugar que o papa mencionou em seu primeiro discurso para o mundo“, diz a agente de turismo Aneli Capris, 36.
Nesta segunda-feira (12), a prefeitura da cidade e empresários locais se reuniram para organizar uma visita de órgãos de imprensa a vilas de pescadores e pequenas povoações que Leão 14 frequentava quando era bispo de Chiclayo (2014-2023).
Um deles é a capela do colégio de San Agustín, uma das principais instituições privadas de ensino da cidade e também frequentada por Prevost durante seus anos no país.
O frei José Luis Romero explica que a vida em comunidade é parte do que significa ser agostiniano. “Nós não vivemos sozinhos, como os jesuítas. A vida em comunhão constante é muito importante para nós. Por isso o papa leva o lema ‘In Illo unum uno’ [No único Cristo, somos um]. Lembro que ele fazia questão de tirar fotos com os freis ordenados, não deixava ninguém sem uma palavra de carinho.”
Perto dali, ao sul de Chiclayo e a caminho de um antigo porto construído para escoar o açúcar, os fiéis de Ciudad de Eten se reúnem todos os anos para celebrar o milagre do “Divino Menino”, um fenômeno sagrado ainda não reconhecido pelo Vaticano.
Conta a tradição que, durante a festa de Corpus Christi de 1649, uma imagem do menino Jesus apareceu para os fiéis em uma hóstia consagrada. Eles relatam uma segunda aparição, em 22 de julho do mesmo ano, durante a missa oficiada em homenagem à padroeira de Ciudad Eten, Santa Maria Madalena.
Com a escolha de Leão 14, ex-bispo de Chiclayo de 2014 a 2023, para ser o novo papa, os fiéis da pequena paróquia agora esperam o reconhecimento oficial e a construção de um santuário para celebrar o milagre eucarístico, o único desse tipo registrado no Peru.
O caminho até a igreja de Santa Maria Madalena é guardado por duas estátuas representando dançarinos de marinera —uma dança típica da costa peruana, em que os bailarinos marcam seus movimentos com lenços. Os restaurantes de ceviche agora estão fechados, após o fim do verão.
“Agora poderemos ficar abertos o ano inteiro”, projeta David Peña, filho do dono de um estabelecimento e que estuda para ser tradutor.
Na igreja, uma construção com uma torre branca vazada de dois sinos, o agora papa Leão 14 costumava realizar missas ou era um dos principais convidados da festa anual. Os moradores guardam de Prevost a imagem de um homem discreto, mas sempre disposto a ouvir e a aconselhar.
“A nossa região é uma terra de pessoas simples, que gostam de receber e cuidar dos amigos. Mas gostamos, sobretudo, das pessoas com quem podemos contar nos bons e maus momentos, como é o caso de Prevost”, diz o pároco Daniel Principe Venegas.
“Na pandemia, quando o nosso país foi um dos que mais sofreu na região, ele fez o impossível para ajudar o nosso povo, conseguiu mobilizar pessoas e recursos. Acredito que tenha salvado muitas vidas. O mesmo ocorria quando ia visitar bairros pobres atingidos por um desastre natural.”
“Lembro de quando a nossa igreja precisou resolver uma burocracia, estávamos sendo cobrados pelo serviço de internet sem termos pedido e a companhia pedia que o responsável pela diocese (Prevost) assinasse uma carta explicando a situação. Agora, esse contrato virou um documento histórico”, lembra Christian Puican Farroñay, 50.
O engenheiro conta que o papa conseguia ser marcante de um jeito discreto. “Dizia muito sem falar tanto. Ele deve ter as orelhas cansadas, pois é um homem que escuta muito antes de falar e que sempre evita opinar sem refletir”, diz.