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12/05/2025

Papa Leão 14: Naturalização confirmou identidade peruana – 11/05/2025 – Mundo

Douglas Gavras

A nacionalidade peruana concedida há dez anos a Robert Prevost, o papa Leão 14, para cumprir um acordo da igreja local com o Vaticano apenas confirmou uma profunda identificação do religioso com o país latino-americano, avalia o ex-ministro peruano José Luis Pérez Guadalupe.

O sociólogo esteve no comando da pasta do Interior de 2015 a 2016, durante o governo de Ollanta Humala, mas desde 1987 já trabalhava em diferentes setores da Igreja Católica, tendo sido diretor da Pastoral Social da Diocese de Chosica e do Instituto de Teologia Pastoral Fray Martín.

Essa trajetória fez dele uma espécie de ponte entre o Estado peruano e a cúpula católica, e Guadalupe acabou se aproximando de Prevost durante o tempo em que o religioso, nascido nos Estados Unidos, viveu no país andino.

“Definitivamente, o fato de grande parte de sua formação como missionário ter ocorrido no Peru o marcou profundamente, e isso é algo que se nota até em seu primeiro discurso como papa”, diz. Ao falar pela primeira vez ao público como Leão 14, o pontífice mencionou a paróquia de Chiclayo, no noroeste do Peru.

“É algo que vai além da nacionalidade, ele é mais peruano que estadunidense, era o menos norte-americano de todos os cardeais dos Estados Unidos no conclave“, diz o ex-ministro e também teólogo.

Para Guadalupe, o papa é um missionário por vocação. O americano viveu primeiro em uma diocese muito pequena, em uma área rural de Chulucanas, depois em Trujillo e mais tarde em Chiclayo. O ex-ministro ainda chefiava a pasta do Interior quando Prevost foi apontado pelo papa Francisco como bispo de Chiclayo. Para cumprir um acordo entre Roma e os católicos peruanos, ele teve de pedir a nacionalidade do país —assim, coube a Guadalupe aprovar os trâmites.

“Assim nos conhecemos. A Diocese de Chiclayo já estava há meses sem um bispo, e a vinda de Prevost era muito aguardada. Sempre que nos encontrávamos, via nele uma pessoa muito simples, serena, sem protocolos. Também é um homem sorridente e que se vê como um pastor comprometido com o seu rebanho.”

O ex-ministro destaca a postura do pontífice frente à ditadura de Alberto Fujimori, que ecoou de forma mais clara na véspera do Natal de 2017, quando o então presidente Pedro Pablo Kuczynski decidiu conceder um indulto ao ex-ditador. “Estou convencido de que aqueles que se sentem democráticos não devem permitir que Alberto Fujimori morra na prisão, porque justiça não é vingança”, disse PPK à época.

Fujimori foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão por cometer crimes de direitos humanos e por corrupção em sua gestão (1990-2000). O perdão aconteceu quando Kuczynski encarava um processo de impeachment e precisava dos votos de Kenji Fujimori, filho de Alberto, para se salvar.

Prevost, na época bispo de Chiclayo, disse que era Fujimori quem deveria pedir perdão a cada uma das vítimas que perderam a vida durante a ditadura, para que assim pudesse dar início a um processo de reconciliação.

“Fujimori pediu perdão de uma forma, digamos, genérica, reconhecendo em termos gerais sua culpa e alguns se sentiram ofendidos”, disse o religioso à TV local, em 27 de dezembro de 2017. “Talvez de sua parte fosse mais eficaz pedir perdão pessoalmente por algumas das grandes injustiças que foram cometidas e pelas quais foi julgado.”

Segundo Guadalupe, essa fala resume a postura de Prevost ante o regime: crítica, embora discreta. Em vez de uma oposição combativa, buscava se posicionar de forma propositiva. “Ele viveu no Peru durante quase todo o período Fujimori e conhece perfeitamente o que aconteceu aqui. Sempre agiu assim, de uma forma muito tranquila. Sem ser agressivo, dizia o que pensava de maneira clara, mas sempre esteve contra [Fujimori].”

O professor também pondera que, embora os peruanos estejam ansiosos por uma visita oficial do novo papa ao país, a eleição de Leão 14 não garante que as pessoas irão se reaproximar da Igreja. Ele compara o cenário ao que ocorreu no pontificado de Francisco, que embora tenha sido saudado como o primeiro papa da América Latina, parte da identificação com suas falas não significou uma reaproximação de católicos latinos que tinham se afastado do Vaticano.

“Quando o papa Francisco veio ao Peru, em 2018, multidões foram às ruas para recebê-lo, mas isso não quer dizer que as pessoas que vieram eram gente atuante nas suas paróquias. No Peru, assim como em grande parte da América Latina, há uma religiosidade católica muito marcada, mas nem todos são devotos ou católicos comprometidos com a igreja.”



Fonte: Folha UOL

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