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01/06/2025

As palavras, periodicamente condenadas, não têm culpa – 12/10/2024 – Ricardo Araújo Pereira



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É um momento muito bonito. O humorista americano George Carlin é o convidado do National Press Club para falar de seu último livro no canal televisivo C-SPAN2. Durante a apresentação, ele fala da palavra “índios” para defender que não há nada de errado com ela. Diz ele que, ao contrário do que se pensa, Colombo não chamou índios aos índios por achar que estava na Índia.

Segundo Carlin, os índios obtiveram o seu nome porque Colombo os descreveu, nos seus escritos, como “una gente in dios”, um povo em Deus. E tinha sido aquele “in dios” que produzira a palavra índios. É uma história muito interessante, até porque é completamente falsa.

É um mito etimológico, como há tantos. Colombo nunca escreveu aquela frase, a palavra “in” não existe em espanhol, e ele estava mesmo convencido de ter chegado à Índia. Slavoj Zizek, o filósofo esloveno que, entre todos os pensadores que falam como Patolino, é o segundo mais interessante do mundo —o primeiro é o Patolino—, conta a história de seu amigo índio, que prefere ser designado por essa palavra. Diz ele: “Não gosto que me chamem nativoamericano. Prefiro ser índio, porque assim o meu nome é um monumento à estupidez do homem branco.”

Ou seja, Carlin defende a palavra porque sua suposta origem é beatífica e pura. O amigo de Zizek prefere-a precisamente por a sua origem se basear num erro. O que Carlin faz é uma operação conhecida como falácia etimológica. Algumas pessoas acreditam que o verdadeiro sentido de uma palavra é o seu sentido original. Ora, isso não é verdade.

O sentido das palavras altera-se com o uso. Queer, por exemplo, significava anormal, e esse é ainda um dos seus significados no dicionário. Mas o que era um insulto foi transformado num emblema, e hoje há uma disciplina chamada Queer Studies. Com as coisas acontece o mesmo.

Ao que parece, a esteira, na academia, foi originalmente concebida como objeto de tortura. Mas ninguém se sente culpado por treinar numa esteira —embora talvez continue a sentir-se torturado. As palavras, que são periodicamente condenadas, não têm propriamente culpa. São conjuntos de letras, de sinais, de barulhos. Não é muito sensato levá-las a tribunal. Sobretudo para serem julgadas por advogados sem curso de linguística.


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Fonte: Estadão

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