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Depois de se tornar um motor da economia mundial no início deste século, com taxas de crescimento acima dos 10% anuais, a China hoje enfrenta dificuldades consideráveis para alcançar a meta anunciada de ao menos 5% neste ano e no próximo. Um prometido pacote fiscal de estímulo à atividade, anunciado na semana passada, mostrou-se uma decepção.
O politburo chinês determinou a injeção de 200 bilhões de iuanes (R$ 156 bilhões) no mercado doméstico e em obras de infraestrutura. Para as dimensões do Produto Interno Bruto do país emergente, é pouco.
O valor representa apenas 10% do volume de recursos indicado por Pequim, uma semana antes, para alcançar tal objetivo. A expansão fiscal requerida é estimada em cerca de 2 trilhões de iuanes (R$ 1,56 trilhão) —metade do valor oficial despendido durante a crise mundial de 2008.
Há expectativas de novos pacotes surgirem ainda neste ano. Contudo, apesar de o mais recente ter frustrado o mercado, certamente consolidou no politburo a convicção de que o rumo seguido até o momento, centrado em agressivas exportações, não trará os resultados esperados.
Assim como no pós-2008, a China volta-se ao mercado doméstico como fonte primordial de geração de riqueza. Uma parte do pacote prevê incentivos antes repudiados pelo líder Xi Jinping.
As medidas devem contemplar do incentivo às famílias e empresas para a troca de equipamentos, veículos e eletrodomésticos por modelos ecológicos à concessão de ajuda do governo para casais que tiverem mais de um filho.
As medidas fiscais, a rigor, complementam as decisões do Banco Central chinês no fim de setembro, quando cortou a taxa de juros básica e baixou o custo das hipotecas, um sorvedouro dos ganhos das famílias.
O BC igualmente prometeu subsídios e outras benesses para impulsionar o mercado acionário, ainda combalido pelos efeitos da crise imobiliária. O setor de construções, por sua vez, será beneficiado pela outra metade do pacote fiscal.
A incerteza sobre o desempenho da economia chinesa certamente traz sinais de alerta para os países mais dependentes de sua voracidade por commodities, como é o caso do Brasil.
O gigante asiático vai se deparando com limites, a começar por sua dívida pública, que hoje passa dos 85% do PIB, o dobro do patamar de dez anos atrás. Mesmo que venha a intensificar o uso de dinheiro público para aquecer a demanda interna, esse não é expediente de eficácia duradoura.