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01/06/2025

‘Inverno em Paris’ aborda a travessia do luto à vida – 12/10/2024 – Ilustrada



Por: Inácio Araujo

Não é fácil, o tema central de “Inverno em Paris”: tratar do luto sem tornar o filme insuportável já é uma façanha e, admita-se, Christophe Honoré resolveu bem a história do adolescente Lucas (Paul Kircher), cujo pai morre, quando seu carro bate em um caminhão, numa pequena estrada.

Lucas, diga-se não tinha qualquer ligação especial com o pai, de modo que ele mesmo se surpreende com o vazio que lhe deixa a figura paterna. Um vazio que nem a dedicada mãe (Juliette Binoche) sabe suprir, menos ainda Quentin (Vincent Lacoste), seu irmão mais velho, que aliás mora em Paris.

Todas as dúvidas se instalam: deve continuar no internato, ou continuar seus estudos na pequena cidade onde vive a família? Deve continuar por ali ou seguir Quentin?

A decisão por seguir Quentin se impõe, seja por ele ser o irmão mais velho (e portanto o guia na passagem da adolescência à idade adulta), seja por viver em Paris, onde poderá encontrar experiências e conhecimentos novos (inclusive com Quentin, que inicia sua carreira de artista plástico).

A notar que em Christophe Honoré a relação entre irmãos é sempre decisiva. Não se trata, portanto, de um estágio de dispersão que lhe permita esquecer do pai. É outra coisa. Lá ele conhece também Lilio (Erwan Kepoa Falé), outro candidato a artista plástico, no momento garagista. Ele divide o apartamento com Quentin e logo também divide com Quentin o afeto por Lilio.

A diferença é que Quentin desenvolve uma relação com Lucas que passa por turbulências, enquanto o afeto por Lilio logo se mostra de natureza sexual. Diga-se que desde o início conhecemos a inclinação sexual de Lucas e que isso não causa escândalo na família.

Também não nos escandaliza o diálogo com um padre, no interior de uma igreja, a respeito de um quadro em que vemos a descida da cruz. A conversa gira em torno de morte e ressurreição. De um novo nascimento, em suma. O jovem está longe de alheio a essa ideia.

Entre amores e sobressaltos, Lucas passará por essa prova de juventude que o lançará num final bastante aberto, bem na linha daquilo que explicava François Truffaut a respeito de “Os Incompreendidos“: quando se trata de adolescência, o final não pode ser trágico, porque é um momento em que passamos por provas e tendemos a superá-las; também não pode ser feliz, porque o momento não é exatamente de felicidade.

Não há fim possível, em suma. Claro, o que Lucas enfrenta não são as contrariedades e contradições da vida, mas as da morte. E o único final possível é que o luto afinal se realize e que ele ressuscite (no sentido mais ou menos que o padre aborda na conversa).

Do papel de Lilio e de Quentin, duas figuras marcantes em sua vida (assim como a mãe) não se falou muito por aqui: são essenciais e complexos como a travessia do luto de volta à vida.

Abordá-lo num filme que consegue ser grave sem ser lúgubre é virtude. Representar relações sexuais de um jovem gay de maneira aberta e sem se levar pela estética florida de um Luca Guadagnino, outra. “Inverno em Paris” resulta num filme agradável, despojado e eficaz.



Fonte: Estadão

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