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Jornal se afasta da infância nos grandes e nos pequenos assuntos – 12/10/2024 – Alexandra Moraes – Ombudsman



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Na semana que se convencionou chamar da criança, escolas brasileiras abrigaram uma gincana de cabelo maluco, mochila maluca, chapéu maluco etc. A coisa aparentemente ganhou escala neste ano, ao menos de acordo com o que foi documentado nas redes sociais.

A Folha ficou alheia ao fenômeno, que já vinha ganhando espaço na rede e invadiu a vida escolar. Parece bobagem? Pode ser, mas não deixa de demonstrar a distância do jornal não só do universo infantil mas também da pauta familiar. (Como perguntou a mãe do perfil @carolpeluffo: “Vocês olharam a agenda das crianças nesta semana?”)

Ainda que (ou principalmente se) fosse para problematizar o surto de maluquice, bem à maneira da Folha, teria valido. Altamente “instagramável”, o evento pode ser também polêmico, já que acaba colocando as crianças como itens para competição e consumo alheio nas redes sociais, repetidamente apontadas como um dos piores ambientes para as crianças frequentarem.

Do material mais sério publicado pela Folha nesta semana, também merecia mais destaque nas vitrines do jornal a reportagem sobre falta de vacinas para crianças em 65% dos municípios brasileiros. É um escândalo.

Com a proximidade do Dia das Crianças, outras estatísticas ruins também apareceram aqui e ali. Entre elas, a Unicef fazia um recorte da multidão de crianças sem esgoto no Brasil (12 milhões) e uma reportagem tentava explicar por que crianças são mais afetadas pela mudança climática.

A Folha produziu séries recentes sobre alguns dos principais desafios enfrentados pelas crianças no Brasil, em especial uma sobre primeira infância e outra sobre mortes maternas (indicador importante do que está por vir). Embora as notícias continuem a chegar, nem sempre conseguem receber o olhar ou o peso que uma cobertura mais diretamente dedicada à infância teria.

A eleição municipal, cujo primeiro turno em SP foi dominado pela baixaria e pelo oportunismo, deveria ser o domínio por excelência das crianças. As creches e a educação infantil, a atenção básica à saúde, as ruas, os parques e o direito à cidade passam pela escolha de vereadores e prefeitos, mas não só. Infelizmente, ainda há muito não só a fazer mas também a cobrar nesse aspecto.

A infância é refém preferencial do discurso político (as proverbiais “nossas crianças”), mas carece de meios para cobrar todos aqueles que dizem falar por ela. É nessa prestação de contas que o jornalismo deveria atuar com mais vigor —e recursos.

Em outra frente, a Folha apostou em fortalecer o diálogo mais direto com o público infantil. Destacável e polpudo, o suplemento Folhinha voltou a ser um caderno em papel, esse material por vezes estranho às crianças e aos pais e cuidadores assustados com o excesso de telas.

Mas houve solavancos na recepção do novo formato (embora por um bom motivo: os leitores que se manifestaram queriam mais, não menos, dele). A decepção veio quando, nos sábados seguintes ao da estreia, em setembro, o suplemento não apareceu.

“Faz um mês que minha neta procura seu jornalzinho na edição de sábado e não o encontra”, escreveu uma assinante pouco antes da circulação da segunda edição da nova configuração do suplemento, no último dia 5.

“Folhinha voltou em caderno separado. Achei que fosse ser publicado semanalmente, mas estava enganado. Nem sei se ele volta”, desanimou-se outro leitor. Ele voltou, mas a periodicidade é mensal. Neste sábado de Dia das Crianças, a Folhinha circulou numa versão extra e menor, de duas páginas, no finalzinho do jornal.

Seria bom que a Folha avaliasse aumentar a frequência do suplemento ou sua sobrevida além da edição do dia. O encarte para crianças do The New Tork Times é mensal, mas pode ser comprado separadamente do resto do jornal e mesmo meses após a publicação.

Das boas publicações nacionais para crianças, o jornal Joca é quinzenal, sem circular nos meses de férias escolares, e a revista Qualé segue a mesma linha.

Na edição do podcast Café da Manhã sobre o Dia das Crianças, a reportagem contava a história de um mágico que “atualizou” um truque em que usava uma folha de jornal. Para reavivar o interesse das crianças, ele conta tê-la substituído por um pôster do Homem-Aranha.

Cabe ao jornal se fazer conhecer por esse público exigente e sempre renovado. Sem isso, nem a mágica dá conta.


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Fonte: Estadão

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