Por: Michael Viriato
Imagine estar na fila para a montanha-russa mais emocionante do parque. A expectativa toma conta, o frio na barriga já começa e, quando menos espera, alguém se aproxima e diz: “Se você desistir dessa fila agora e esperar 10 anos, podemos construir o seu próprio parque e você poderá brincar o quanto quiser pelo resto da vida.” Você provavelmente pensaria: “Mas eu só quero andar nessa montanha-russa agora!” É exatamente isso que acontece quando tentamos ensinar nossos filhos sobre poupança e independência financeira. Para eles, a ideia de poupar para o futuro é tão incompreensível quanto trocar o momento de diversão por uma recompensa que eles não conseguem visualizar.
Crianças, de certa forma, já vivem como aposentados. Elas já possuem o que você quer prometer a elas: eles não trabalham e recebem renda passiva. Você paga por isso, mas eles não entendem. Quando dizemos que precisam guardar dinheiro para viver de renda no futuro, estamos falando de algo que não faz sentido para quem nunca experimentou a necessidade de ganhar seu próprio dinheiro. Elas já têm o que precisam, então, o que mais desejam é entrar no “mundo adulto”, participar, ser responsáveis.
A verdade é que a consciência sobre a necessidade de poupar só se desenvolve com o tempo, conforme vivenciamos as limitações e responsabilidades da vida. Para uma criança, falar de poupança e investimentos é um conceito distante e sem conexão com a realidade. Então, o que fazer para ensinar finanças ao seu filho? A resposta está no orçamento familiar.
É o controle do orçamento, e não a promessa de uma aposentadoria distante, que realmente faz diferença na formação financeira de uma criança. Muitas vezes, até adultos com bons rendimentos têm dificuldades em poupar mais porque não conseguem gerenciar bem seu orçamento e abrir mão de certos prazeres imediatos. Se você perguntar a uma criança o que ela prefere: independência financeira ou o brinquedo dos sonhos agora no Dia das Crianças, a resposta será evidente. E nós, adultos, enfrentamos dilemas parecidos: comprar um carro novo ou investir mais para o futuro? Essas escolhas são universais.
Em vez de abrir uma conta para seu filho poupar, ensine-o a lidar com o orçamento familiar. Ele deve entender, desde cedo, que as escolhas financeiras são parte da vida, e que, para obter algo, é preciso abrir mão de outra coisa. Quando eu era criança, meu pai nunca me dizia quanto ganhava. Para mim, parecia que o dinheiro era infinito, e eu ficava frustrado quando ele não comprava algo que eu queria. Hoje entendo que havia limitações financeiras, mas na época, tudo parecia uma escolha injusta.
Seu filho sabe quanto você ganha? Ele realmente entende que o dinheiro é limitado?
Para ensiná-lo de verdade, crie um orçamento que envolva toda a família, e inclua seu filho nas discussões. Mostre que as decisões financeiras afetam todos os membros da casa. O orçamento dele deve incluir habitação, alimentação, saúde, educação, lazer e presentes – tudo isso dentro das possibilidades da família. Defina quais itens são inegociáveis, como alimentação e educação, mas mostre que ele pode decidir em outras áreas. Se quiser um brinquedo mais caro, explique que isso pode significar abrir mão de uma viagem ou passeio. “Você prefere o brinquedo ou ir à praia com a família?” Agora, pense em nós, adultos. Enfrentamos dilemas semelhantes: comprar um imóvel de veraneio ou aumentar nossas reservas financeiras? Carro novo ou mais dinheiro investido? Aprender esse tipo de escolha ensina muito mais do que falar de juros compostos.
Em vez de chamar seu filho para ver como você investiria o dinheiro para ele se aposentar, o que ele ainda acha infinito, mostre-o como você paga as contas da casa. Lembre-se, para ele poupar para se aposentar é algo que não faz sentido, ele nunca precisou poupar e já vive de renda passiva.
Coloque o orçamento em um lugar visível, discuta abertamente os custos e a necessidade de planejamento. Mostre que uma parte do dinheiro sempre precisa ser guardada para o futuro, pois você vai parar de receber e, até pior, pode parar de receber no próximo mês, mas que isso exige abrir mão de alguns desejos imediatos. Quando seu filho entender isso, ele aprenderá a poupar com mais consciência, e a tomar decisões financeiras mais sólidas no futuro.
Esse aprendizado não só ensinará seu filho a poupar, mas também a fazer escolhas financeiras responsáveis e a entender o valor real do dinheiro. No futuro, ele poupará mais que você porque terá aprendido o conceito mais importante: o dinheiro não é infinito, e é preciso saber como usá-lo de forma inteligente. Ensiná-lo a investir antes de entender isso pode ser perigoso. Ele pode encarar o investimento como um jogo, e não como uma ferramenta para alcançar objetivos reais. Primeiro, ele precisa aprender a administrar o que tem.
Ao integrar seu filho no processo financeiro da família, você o prepara para um futuro mais consciente. Não estamos apenas ensinando sobre dinheiro – estamos ensinando sobre escolhas, responsabilidades e a importância de se planejar para o que realmente importa. E essa é uma lição que ele levará para a vida inteira.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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