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12/03/2025

Referência do jornalismo, foi mestre de gerações na Bahia – 12/10/2024 – Cotidiano



Por: João Pedro Pitombo Teixeira

Ele dizia que nasceu em Maracangalha, povoado de São Sebastião do Passé, nas margens do rio em que a Anália de Caymmi se banhou. Até hoje não sabemos se é verdade a história que contava com semblante sério, segurando o riso.

O registro de nascimento é da cidade de Ruy Barbosa, mas seus alicerces estão em Feira de Santana, para onde se mudou aos cinco anos. Filho de Horadinha, viveu uma infância modesta e uma juventude de desafios, na militância estudantil e luta política contra a ditadura.

Magricela, cabelos encaracolados e barba eriçada, assim era o jovem José Carlos Teixeira. Fugiu da repressão e fez pouso em Paulo Afonso. Ao retornar para casa, se tornou repórter, profissão que exerceria pelos 55 anos seguintes.

Trouxe da infância o amor pela música e pelos livros, que tomava emprestado da única biblioteca da cidade. Apostou na louca aventura de abrir uma livraria, a Leitura, oásis cultural de vida curta na Princesa do Sertão. Fez teatro, viveu o desbunde, fez da sua aldeia um mundo: quem tem Feira não precisa de Londres.

No jornalismo, fez de tudo. Fundou o jornal Feira Hoje, labutou em jornais baianos, trocando as redações pelos bares após os fechamentos diários. Foi correspondente de O Estado de São Paulo e O Globo. Na Folha, assinou uma única matéria, em 2014, após a morte do antigo colega João Ubaldo Ribeiro.

Fora das redações, assessorou prefeitos e ajudou a comandar campanhas políticas em cinco estados brasileiros e em Angola. Liderou equipes, identificou talentos, foi um professor exigente, mas afetuoso e bem-humorado.

Entre os irmãos, era Zé Carlos. Para os amigos, Teixeirinha. Em Angola, foi Kota Teixeira. Com os filhos, Joanna e João Pedro, costumava dizer que era besta ou então o palhaço. Afinal, se um é o filhaço, logo o outro deve ser o palhaço.

Para João, que seguiu seus passos no jornalismo, era um farol. Para Joanna, um conselheiro, mas que respeitava suas escolhas. Dele, falava da seriedade. Dela, admirava a rebeldia. Nos dois, um espelho de si próprio.

Escreveu dois livros – “Dicionário de Mwangolê” e “Walmir Lima: um bamba da Bahia”– e preparava mais dois. Não era religioso, mas foi próximo ao candomblé, guiado por Oxalá. Também se orgulhava de ser um dos raros repórteres do mundo a ter entrevistado uma santa: Irmã Dulce.

Aos 76 anos, abraçava os desafios com vontade e vivia sua plenitude intelectual. Em seus artigos, cobrava os poderosos, fazia troça, defendia a Bahia e suas expressões culturais como um quixote.

Foi o melhor amigo de seus amigos. “Um puta cara”, disse Vita. “Meu professor”, falou Madá. “Mestre de gerações”, afirmou Bina. “Leve, suave”, lembrou Aninha. “Com ele aprendi até no silêncio”, comoveu-se Humberto. Com seu jeito afetuoso, circundava um mundo inteiro em torno de seus braços.

Foi parceiro dos irmãos Maridelma, Eliane, Luiz Augusto e Olney. Amou Eliana, com quem dividiu a vida por mais de 30 anos. Amou Lenilde, sua companheira na última década e meia. Amou Joanna e João Pedro, amou seu neto Ícaro e sua enteada Bebel.

Morreu após um acidente na cidade de Madre de Deus, quando celebrava mais um trabalho bem-sucedido. Descerrou a cortina e fechou seu último ato com um sorriso no canto da boca, chapéu panamá na cabeça e o mesmo entusiasmo de menino que o acompanhou por toda sua vida.



Fonte: Estadão

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