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13/05/2025

Igrejas podem fazer mais no combate à exploração sexual – 13/05/2025 – Cotidiano

Daniel Guanaes

No próximo domingo (18), o Brasil celebra o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data remete ao caso de Araceli, uma menina de 8 anos que, em 1973, foi sequestrada, abusada e assassinada. O crime, nunca resolvido, tornou-se um símbolo de uma ferida que ainda sangra em nossa sociedade: a violência sexual contra crianças.

A causa deve mobilizar os cristãos. Mas, sejamos honestos: por que muitas igrejas ainda atuam tão pouco nessa pauta?

No coração do evangelho está a afirmação de que Jesus ama as crianças. Ele as acolheu, as colocou no centro da comunidade de fé e disse que o Reino de Deus pertence a quem for como elas. Mais do que uma imagem bonita, isso é um chamado à responsabilidade.

Em 2024, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania registrou mais de 11 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes —uma média de mais de 30 casos por dia. Estima-se, no entanto, que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. A maioria das vítimas tem entre 5 e 14 anos. E 69% das violências ocorrem dentro da própria casa.

Diante desses números, as igrejas precisam ser um lugar seguro, de proteção, de denúncia e acolhimento. O púlpito e a oração são importantes, mas também é missão das comunidades de fé levantar a voz em defesa dos vulneráveis —sobretudo dos pequeninos.

Se sabemos que a maioria dos abusos acontece dentro de casa —e às vezes também em espaços religiosos—, por que tantas lideranças espirituais ainda escolhem o silêncio? É medo do escândalo? Vergonha institucional? Falta de preparo? Quando a reputação importa mais do que a proteção, a igreja trai o seu próprio chamado.

É preciso nomear o problema, pois o silêncio, a negação e a espiritualização do trauma contribuem para perpetuar a dor das vítimas e proteger os agressores. Não denunciar um abuso não é neutralidade, mas cumplicidade.

Felizmente, há esperança. Em todo o país, igrejas evangélicas têm se mobilizado para criar ambientes mais seguros. A Visão Mundial, organização cristã que atua há 50 anos no Brasil, desenvolve o programa “Igrejas Seguras para Crianças”, capacitando lideranças a identificar sinais de abuso, criar protocolos de proteção e fomentar uma cultura de cuidado. Mais de 1.500 igrejas já participaram da iniciativa.

Outro exemplo é a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que mantém diretrizes de tolerância zero para casos de abuso. Ela coordena, por meio da Agência Humanitária da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Adra), casas de acolhimento para vítimas em parceria com o Unicef.

Igrejas históricas e pentecostais têm se articulado por meio de campanhas, redes de apoio e formação pastoral.

Mas ainda podemos fazer mais. Precisamos de mais igrejas que levem a sério iniciativas como o Maio Laranja. Comunidades que oram, e também se comprometem com políticas de proteção, acolhem as vítimas e rompem o silêncio. E que deixam claro que abuso não é questão de foro íntimo; é crime, é violência, é pecado.

Há passos que qualquer igreja pode dar: criar protocolos internos claros de prevenção e denúncia; capacitar pastores, líderes e voluntários; estabelecer parcerias com organizações especializadas; falar sobre isso nos púlpitos e nos estudos bíblicos.

Assim como a cruz, um símbolo de morte, foi ressignificada por Jesus como esperança, também podemos transformar o 18 de maio em um marco de mobilização. Que não seja apenas uma memória da dor de Araceli, mas também um lembrete de que isso não pode mais acontecer debaixo do nosso olhar.



Fonte: Folha UOL

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