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31/05/2025

Militares israelenses admitem Gaza à beira da fome – 15/05/2025 – Mundo

Ronen Bergman, Natan Odenheimer

Alguns oficiais militares de Israel afirmam, em caráter privado, que os palestinos na Faixa de Gaza enfrentarão fome generalizada a menos que a entrada de ajuda humanitária seja restabelecida nas próximas semanas, segundo três autoridades da defesa de Tel Aviv familiarizadas com a situação.

Durante meses, Israel sustentou que o bloqueio de alimentos e combustível em Gaza não representava uma ameaça significativa à população civil, mesmo diante de alertas da ONU e de agências humanitárias de que a fome era iminente.

Mas militares que monitoram as condições humanitárias na região alertaram seus comandantes, nos últimos dias, de que muitas áreas de Gaza ficarão sem alimentos suficientes para atender às necessidades nutricionais mínimas, caso o bloqueio não seja suspenso com urgência. Eles pediram anonimato para compartilhar detalhes sensíveis.

Como a retomada da ajuda leva tempo, os militares destacaram a necessidade de ação imediata para garantir que o sistema de abastecimento possa ser reativado a tempo de evitar a fome.

Esse reconhecimento dentro da segurança israelense ocorre enquanto o governo de Binyamin Netanyahu promete ampliar a ofensiva militar para destruir o Hamas e resgatar os reféns restantes —dois objetivos ainda não alcançados após mais de 19 meses de guerra. Na terça-feira (13), Netanyahu afirmou que o Exército retomaria os combates “com força total” para “terminar o trabalho” e “eliminar o Hamas”.

A declaração veio no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desembarcou na Arábia Saudita, em sua primeira viagem internacional após a reeleição. Ele não visitará Israel, destacando o distanciamento crescente entre os dois líderes.

A análise militar expõe o abismo entre o discurso público de Israel e suas avaliações internas. Parte do aparato de segurança chegou às mesmas conclusões que as agências humanitárias, que há meses alertam para os riscos do bloqueio.

A urgência da situação é evidente: a maioria das padarias fechou, cozinhas solidárias encerraram atividades, e o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas diz estar sem estoques.

Na segunda-feira (12), a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, alertou que a fome é iminente. Se a ofensiva militar avançar, afirmou, “a vasta maioria da população de Gaza ficará sem acesso a comida, água, abrigo e medicamentos”.

Nem o Exército nem o Ministério da Defesa de Israel comentaram os alertas sobre a fome. O porta-voz da chancelaria israelense, Oren Marmorstein, disse não poder divulgar discussões internas, mas que o ministério está “em contato diário com todas as agências relevantes”.

As restrições israelenses à entrada de ajuda são um dos temas mais controversos da guerra. Israel cortou os suprimentos em março, pouco antes de romper o cessar-fogo com o Hamas, grupo terrorista que ainda mantém presença em Gaza, apesar das perdas militares.

Segundo uma autoridade da defesa israelense, o objetivo do bloqueio é enfraquecer o Hamas, dificultando o acesso e a revenda de alimentos e combustíveis destinados à população civil — com isso, o grupo cederia ou libertaria os reféns capturados nos ataques de 7 de outubro de 2023, que desencadearam a guerra.

O bloqueio foi debatido em reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, convocada por Reino Unido, França e outros países europeus. O chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, acusou Israel de impor “deliberadamente e sem pudor” condições desumanas em Gaza e na Cisjordânia.

“Do que mais vocês precisam?”, questionou Fletcher. “Vão agir — de forma decisiva — para prevenir um genocídio? Ou dirão que ‘fizeram tudo o que podiam’?” Todos os 15 membros do CS, exceto os Estados Unidos, pediram que Israel permita imediatamente a entrada de ajuda em Gaza.

Israel insiste que o bloqueio não causou “falta de apoio” à população civil, apontando que muita ajuda entrou durante o cessar-fogo. Mas agências humanitárias rebatem, dizendo que os civis são as principais vítimas — e que as restrições são ilegais segundo o direito internacional.

Palestinos relataram estar comendo apenas uma refeição por dia, enquanto os preços disparam: o custo da farinha aumentou 60 vezes desde fevereiro, o que levou a saques.

“Tudo o que comi hoje foi um pouco de fava de uma lata vencida”, disse Khalil el-Halabi, 71, ex-funcionário da ONU em Gaza. Ele afirmou estar fraco demais para caminhar e que perdeu 36 kg desde o início da guerra.

Sua filha, que deu à luz recentemente, não consegue amamentar, por falta de alimentação adequada. Não há leite em pó disponível, segundo ele.

Especialistas da Cogat — agência israelense que supervisiona Gaza e Cisjordânia — chegaram à mesma conclusão das ONGs. Eles analisam estoques, o conteúdo dos caminhões que entram e conversam com palestinos. Em reuniões internas, alertaram seus comandantes de que a fome pode ocorrer em semanas.

Um general israelense informou o gabinete de guerra sobre isso na semana passada, segundo militares e membros do governo. A reportagem foi inicialmente divulgada pelo Canal 13 de Israel.

A liderança militar considera agora retomar a entrega de ajuda contornando o Hamas. Segundo autoridades israelenses e ONGs, a proposta envolve pontos de distribuição controlados por empresas privadas, com apoio externo das Forças Armadas de Israel.

A ONU rejeitou o plano, dizendo que ele aumentaria o risco aos civis, forçaria longas caminhadas e reduziria os pontos de distribuição de 400 para apenas alguns —o que prejudicaria os mais vulneráveis. Também criticou o fato de os centros ficarem apenas no sul de Gaza, acelerando o deslocamento forçado da população do norte.

Israel confirmou que o plano pode ajudar a interceptar membros do Hamas e a deslocar civis, mas nega que queira agravar o sofrimento.

Especialistas em direito internacional afirmam que é ilegal restringir ajuda sabendo que isso causará fome.

“Impor um bloqueio militar sabendo que levará à fome da população civil é violação do direito internacional”, disse Janina Dill, codiretora do Instituto de Ética, Direito e Conflito Armado da Universidade de Oxford.

Ela afirmou que, mesmo que haja debate sobre as obrigações de Israel, “quando autoridades dizem que o objetivo é obter concessões políticas e militares, trata-se claramente de um crime de guerra”.



Fonte: Folha UOL

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