Por: Fábio Pescarini
Como muita gente do interior, ainda jovem Reinaldo Mendonça resolveu tentar a sorte na cidade grande. Logo aos 18 anos, deixou a roça em São Pedro do Turvo, a cerca de 360 km da capital, para se estabelecer no ABC Paulista.
De tapeceiro a supervisor, trabalhou quase a vida toda na fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo.
Mas foi como agente comunitário que ele deixou seu legado. Voluntário, ajudou a salvar muitas vidas e casas toda vez que chovia forte no Jardim Irene, em Santo André.
“Foi um pilar fundamental para a Defesa Civil de Santo André. Ele desempenhou papel crucial na prevenção e mitigação de desastres”, diz Priscila de Oliveira, diretora do Departamento de Defesa Civil do município. “Ele tinha profundo conhecimento das necessidades da comunidade.”
Mendonça já trabalhava na unidade da montadora americana no ABC quando tomava um café em uma padaria de Santo André e uma adolescente foi pagar um pacote de pães quando o atendente do caixa disse não ter troco. A moça foi até o rapaz ao lado perguntar se ele poderia trocar o dinheiro, quando nasceu um romance.
“Eu acho que ele foi tomar café para me ver mesmo”, brinca Maria Cândida Mendonça. Os dois se casaram e da união nasceram os filhos Reinaldo Júnior e Ederly César.
A família até tentou mudar radicalmente o estilo de vida, quando surgiu o convite para a criação de porcos em Santa Cruz do Rio Pardo, também no interior de São Paulo, mas a vida no campo não durou muito. Logo Mendonça bateu na porta da Ford mais uma vez para trabalhar na empresa até se aposentar.
De volta a Santo André, fincou raízes com mulher e filhos e o trabalho voluntário começou a ganhar destaque na vizinhança.
Bastava chover mais forte que o líder comunitário levava as vítimas das cheias —e seus móveis— para a garagem de casa, que não era atingida pela água da enxurrada porque ficava no alto.
“Nosso pai acreditava que, assim como na natureza, colhemos o que plantamos. Ele plantou o bem, e foi isso que ele colheu ao longo de sua vida”, diz o filho Ederly.
No último dia 7 de outubro, Mendonça estava com a mulher em sua chácara, em São Bernardo do Campo, quando sentiu dores no peito e no braço. Morreu vítima de infarto aos 70 anos. Além da mulher Maria Cândida e os filhos Reinaldo Júnior e Ederly César, deixa os netos Beatriz, Rafaela e Noah.