Por: Nathalia Garcia
A partir de 2025, Gabriel Galípolo terá novas responsabilidades no Banco Central, além da trinca inflação, juros e câmbio. Sob sua gestão, o futuro presidente vê a agenda de inovação e tecnologia como aliada para reduzir o custo de crédito no Brasil e também defende uma aproximação da autoridade monetária com outros reguladores.
Na sabatina no Senado Federal e em evento organizado pelo Itaú na segunda-feira (14), Galípolo fez algumas sinalizações sobre temas que serão tratados como prioridade ao longo de seu mandato, até 2028.
O sucessor de Roberto Campos Neto observou que o país passou por transformações em áreas como meios de pagamentos, inclusão financeira e experiência do cliente no campo de investimentos e disse que o BC se consolidou como um “polo de inovação”.
Ele defende que essa agenda seja feita hoje em parceria com quem faz a intermediação.
Para Galípolo, o Drex –moeda digital em desenvolvimento pelo BC– tem potencial para criar avanços na área de crédito com garantias. Isso abriria espaço para queda no spread bancário (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa final cobrada do cliente) e em modalidades de crédito mais caras, como o rotativo do cartão de crédito.
“A própria ideia do Drex pode permitir a gente conseguir avançar e produzir uma revolução, enquanto infraestrutura pública digital, para o crédito colateralizado. Acho que isso permite uma redução dos spreads”, disse aos parlamentares.
Como mostrou a Folha, o BC vai testar durante a segunda fase de testes do Drex medidas com potencial de destravar o mercado de crédito por reduzirem o risco para as instituições financeiras na concessão de empréstimos.
É o caso do crédito colateralizado (empréstimo com garantia) em CDB (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo.
O plano do consórcio –formado por Banco do Brasil, Itaú e Bradesco (incluindo Nuclea e Setl)– é fazer uma operação cruzada, na qual um cliente toma um empréstimo em um banco utilizando como garantia um CDB tokenizado (digitalizado) emitido por outra instituição. Hoje, esse tipo de operação está centralizado dentro de uma mesma instituição.
O futuro presidente do BC prevê benefícios para o mercado imobiliário, com estruturas complementares de financiamento, que vão além da participação da poupança.
Aos senadores, Galípolo afirmou que a redução no custo de crédito é “uma das agendas prioritárias para os próximos ciclos do Banco Central”.
“A gente, às vezes, fica muito tempo debatendo a taxa Selic, e, talvez, o tema principal seja qual é a taxa de juros que as pessoas jurídicas ou físicas estão realmente pagando. […] Essa é uma agenda de longa data do Banco Central. Não é simples a redução dos spreads e a redução dos custos”, disse.
Com a entrada de novos participantes no sistema financeiro e a criação de arranjos de pagamento, o atual diretor de Política Monetária do BC vê necessidade de se aproximar de outros reguladores, como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a Susep (Superintendência de Seguros Privados).
Nos bastidores, segundo relatos ouvidos pela Folha, Galípolo rejeita a ideia de configurar o BC como um “super-regulador” a partir de uma redistribuição de forças dos órgãos, conforme reconfiguração em estudo pelo Ministério da Fazenda.
Para o futuro chefe do BC, o plano é não haver sobreposição da autoridade monetária em relação aos demais, mas um alinhamento diante das mudanças que ocorreram no mercado e que demandam uma atuação conjunta das instituições em resposta a questões transversais.
A ideia de Galípolo é não deixar pontos cegos nas áreas de fronteiras entre os reguladores.
No campo da inovação, quer também avançar com as novas funcionalidades de instrumentos criados pelo BC, como o Pix Automático e o Pix por aproximação, estimulando a competitividade no setor financeiro. O plano é dar continuidade ao trabalho que já vem sendo desenvolvido pelo corpo funcional da instituição.
Outro tema de atenção da nova gestão será o impacto da transição climática na economia.
“As projeções sobre o que vai acontecer com a economia já são bastante complexas de serem feitas, agora, a gente tem que adicionar também as projeções climáticas —junto com as projeções econômicas —, o que dá uma certa exponencialidade nas dificuldades das previsões”, disse Galípolo na sabatina.
Segundo ele, a autoridade monetária tem tentado colaborar com outros bancos centrais e também com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nessa pauta. Em constante diálogo sobre o tema, o BC analisa o que pode ser introduzido dentro de suas práticas, sem ferir seu “mandato essencial” e ir além de suas competências.
Na visão de Galípolo, o Brasil tem a “oportunidade histórica” de se apresentar como um destino atrativo para o empreendedorismo e a inovação, voltado para a economia sustentável. “O Brasil tem, hoje, tanto segurança alimentar quanto energética contando com uma matriz energética mais limpa; então, esse custo de transição seria menor”, disse.