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Malafaia chama Pablo Marçal de psicopata. Está errado – 15/10/2024 – Cotidiano



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Silas Malafaia é hoje o líder evangélico que mais se manifesta contra a ascensão política de Pablo Marçal. Ele fez quase 40 vídeos denunciando o candidato do PTRB durante o primeiro turno da campanha para prefeito em São Paulo. Me incomoda ver dois evangélicos se atacando em público. Mas o maior problema é o uso recorrente que o pastor fez da linguagem da saúde mental como forma de desqualificar alguém, referindo-se ao ex-coach como psicopata, sociopata, bipolar e narcisista.

Malafaia, que também é psicólogo, deveria ter mais cautela ao utilizar certos conceitos clínicos. Entendo que, no dia a dia, as pessoas utilizam alguns termos científicos sem necessariamente fazer referência a um diagnóstico dessas condições. Mas ao usar esses termos como xingamento, o pastor reforça estereótipos em torno dos transtornos mentais.

É comum, por exemplo, ouvir pessoas dizendo que estão com depressão ou que têm TOC (transtorno obsessivo compulsivo), sem saber exatamente o que isso quer dizer. No entanto, isso é diferente de usar nomes de transtornos para depreciar alguém. O uso indiscriminado dessas classificações contribui para aumentar a estigmatização e o preconceito contra quem vive com algum diagnóstico.

No Relatório Mundial de Saúde Mental, publicado em 2022, a OMS destacou que estigmas, preconceitos e violações de direitos humanos contra pessoas com problemas psíquicos são comuns em todo o mundo. Esses fatores dificultam que indivíduos busquem ajuda e reforçam a ideia de que todas as pessoas com transtornos mentais têm problemas de caráter ou são mais frágeis que as outras.

O termo psicofobia tem sido usado desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para descrever esse estigma. Foi criado pelo dr. Antonio Geraldo da Silva em 2011, quando era presidente da ABP, após uma entrevista com Chico Anysio. Ao ouvir o relato do humorista sobre seu longo tratamento para depressão, o psiquiatra percebeu que faltava um termo que descrevesse o preconceito sofrido por quem enfrenta doenças mentais.

Esse preconceito, que persiste, fomenta o medo e segrega as pessoas que lidam com algum transtorno mental. Quando Malafaia chama Marçal de sociopata ou psicopata para invalidá-lo, por exemplo, contribui para criar barreiras em relação a um diagnóstico (Transtorno de Personalidade Antissocial) que acomete entre 1% e 2% da população mundial. Mesmo quando acompanhadas por profissionais, muitas pessoas sofrem ao imaginar o que os outros podem pensar caso descubram sua condição.

Perdi a conta de quantos pacientes, ao atender uma ligação no meio da consulta, disseram: “não posso falar agora, estou em um almoço”, “estou no shopping” ou “assim que eu sair do mercado, te ligo”. O constrangimento de dizer “estou no psicólogo” geralmente tem a ver com o medo de julgamento, inclusive, dentro de casa.

Também é comum que esse receio esteja associado ao medo de ser preterido no emprego, como se, por enfrentar um transtorno mental, a pessoa não pudesse desenvolver uma carreira promissora.

É por isso que falas como a do pastor Silas Malafaia são tão problemáticas. Condições específicas de saúde mental não são um demérito. Além disso, com tratamentos adequados, na maior parte das vezes as pessoas com transtornos mentais vivem vidas funcionais.

Os termos de saúde mental devem ser popularizados para instruir. Na contramão da fala de Malafaia, por exemplo, estão obras como “Sociopata: Minha História, de Patric Gagne. Lançado no Brasil nesta semana, o livro conta a história da autora, que foi diagnosticada na juventude, e ajuda a desmistificar equívocos contra a sociopatia.

É importante mostrar que as pessoas que enfrentam esses transtornos mentais não são monstros, e podem desfrutar de bem-estar. A luta contra o estigma precisa ser um compromisso compartilhado, e o principal antídoto contra a psicofobia é a informação.



Fonte: Estadão

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