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19/03/2025

Governo Trump: Telegrama da CIA Revela Oferta de Apoio Comunista ao Brasil em 1961;Uma Análise Histórica

Por Redação, 19 de março de 2025

Entre os milhares de documentos relacionados ao assassinato do presidente americano John F. Kennedy, desclassificados e liberados em 18 de março de 2025, um telegrama da Agência Central de Inteligência (CIA) datado de agosto de 1961 trouxe à tona um episódio intrigante da história brasileira. O documento relata que Mao Tsé-Tung, então líder da China comunista, e Fidel Castro, ditador cubano, ofereceram suporte material — incluindo a mobilização de “voluntários” — a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul à época, em meio à crise política desencadeada pela renúncia do presidente Jânio Quadros. A oferta visava apoiar a posse de João Goulart, conhecido como Jango, vice-presidente que enfrentava resistência de setores militares para assumir o cargo. O episódio, registrado em plena Guerra Fria, reacende debates sobre as conexões entre a esquerda brasileira e o movimento comunista internacional.

O Contexto da Crise de 1961

A renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, após apenas sete meses no poder, mergulhou o Brasil em uma crise institucional. A saída abrupta do presidente, cuja carta de renúncia alegava pressões de “forças ocultas”, deixou o país sob a ameaça de um golpe militar. Os ministros militares — marechal Odílio Denys (Exército), brigadeiro Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e almirante Silvio Heck (Marinha) — opuseram-se à posse de João Goulart, que estava em viagem oficial à China e era visto como alinhado a ideias esquerdistas e reformistas. A Constituição de 1946, no entanto, determinava que o vice-presidente assumisse o cargo em caso de vacância.

Nesse cenário, Leonel Brizola, cunhado de Jango e expoente do trabalhismo, emergiu como figura central na defesa da legalidade. Governador do Rio Grande do Sul, ele lançou a Campanha da Legalidade, mobilizando a população por meio da rádio Guaíba e contando com o respaldo do III Exército, comandado pelo general José Machado Lopes. A iniciativa buscava garantir a posse de Jango, desafiando a resistência militar e pressionando por uma solução dentro dos marcos constitucionais.

A Oferta Internacional e a Rejeição de Brizola

É nesse contexto que o telegrama da CIA, agora revelado, ganha relevância. Segundo o documento, Mao Tsé-Tung e Fidel Castro, líderes de duas potências comunistas, teriam oferecido a Brizola apoio material e humano — especificamente, “voluntários” — para fortalecer sua posição durante a crise. A data do telegrama, agosto de 1961, coincide com os dias turbulentos que se seguiram à renúncia de Quadros, antes da posse de Jango, efetivada em 7 de setembro daquele ano.

Contudo, o mesmo documento registra que Brizola declinou da proposta. A recusa teria sido motivada pelo receio de que a aceitação de ajuda externa pudesse internacionalizar o conflito, atraindo a intervenção dos Estados Unidos, potência antagônica ao bloco comunista na Guerra Fria. Tal preocupação não era infundada: em 1961, os EUA já monitoravam de perto os movimentos de Castro, após o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, e a Doutrina Truman justificava ações contra qualquer expansão comunista nas Américas.

A decisão de Brizola reflete uma estratégia pragmática. Em vez de recorrer a aliados internacionais, ele optou por consolidar apoio interno, utilizando a força da mobilização popular e a lealdade de setores das Forças Armadas. O desfecho da crise veio com um acordo político: Jango assumiu a Presidência em 7 de setembro, sob um regime parlamentarista, que limitava seus poderes executivos — uma concessão aos opositores que temiam suas reformas de cunho nacionalista e progressista.

Implicações Históricas e Interpretações

A revelação do telegrama alimenta uma discussão de longa data sobre o papel da esquerda brasileira no cenário global da Guerra Fria. Para alguns analistas, a oferta de Mao e Castro seria evidência de uma “profunda conexão” entre líderes trabalhistas como Brizola e Jango e o movimento comunista internacional, com o suposto objetivo de transformar o Brasil em uma ditadura alinhada ao modelo soviético ou chinês. Essa narrativa foi amplamente explorada por setores conservadores na década de 1960, culminando no golpe militar de 31 de março de 1964, que depôs Jango sob a alegação de conter uma ameaça comunista.

Historiadores, entretanto, ponderam que a realidade é mais nuançada. Brizola, formado na tradição trabalhista de Getúlio Vargas, e Jango, defensor das chamadas “reformas de base” (como a reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras), operavam dentro de um espectro nacionalista e democrático, ainda que com simpatias por pautas progressistas. A rejeição da ajuda externa por Brizola sugere uma cautela estratégica, distante de um projeto revolucionário de cunho marxista. Além disso, o governo de Jango (1961-1964), embora marcado por tensões sociais e polarização política, não implementou medidas que indicassem uma transição para um regime comunista.

O telegrama, portanto, comprova o interesse de potências comunistas na crise brasileira, mas não sustenta, por si só, a tese de um plano concreto para uma ditadura comunista no Brasil. Trata-se de um documento que reflete as dinâmicas da Guerra Fria, em que alianças e ofertas de apoio eram comuns, mas nem sempre aceitas ou concretizadas.

Um Novo Olhar sobre o Passado

A liberação desse e de outros documentos relacionados ao assassinato de Kennedy — cuja conexão com o caso brasileiro permanece incerta — oferece uma oportunidade para reexaminar os eventos de 1961 sob uma perspectiva mais ampla. O telegrama da CIA não altera substancialmente o entendimento histórico da Campanha da Legalidade ou do governo Jango, mas reforça como o Brasil esteve no radar das disputas ideológicas globais da época.

Para além das interpretações políticas, o episódio sublinha a habilidade de Brizola em navegar uma crise complexa, evitando escaladas que poderiam ter mudado o rumo da história nacional. Seja como registro de uma oferta rejeitada ou como peça de um quebra-cabeça maior, o documento de agosto de 1961 é mais um capítulo na intricada relação entre o Brasil e o mundo em um dos períodos mais turbulentos do século XX.

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