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22/12/2024

Com R$ 5 bi de receita, Cartão de Todos começa a testar educação e exterior



Por: Cristiane Barbieri

O Cartão de Todos foi inspirado num modelo associativo de um sindicato na Alemanha, mas encontrou na fragilidade da saúde brasileira o caminho para ganhar musculatura. O usuário paga R$ 29,70 mensais para sua família (de até sete pessoas) ter acesso a produtos com desconto. Vale para comida, roupas, transporte, medicamentos, lazer e educação, entre outras áreas. Mas, no caso da saúde, ele consegue fazer consultas com um clínico geral pagando R$ 35 e, com um especialista, R$ 56, em qualquer lugar do País.

Tem acesso também a exames e tratamentos odontológicos mais baratos. Resultado: são 6,7 milhões de famílias ativas e 18 milhões de pessoas associadas. No ano passado, o grupo teve receita de R$ 5 bilhões, sendo R$ 2,8 bilhões provenientes exclusivamente da área de saúde, a AmorSaúde.

“Nossa comunicação deixa muito claro que somos um cartão de desconto e não um plano de saúde”, diz Ícaro Vilar, CEO da AmorSaúde e vice-presidente internacional do Cartão de Todos. “O consumidor tem muito claro que ele não está comprando um plano de saúde e que, em determinados níveis (de gravidade de doenças), não vamos conseguir atendê-lo.”

Cartão de Todos reforça sempre que não é plano de saúde, e sim um cartão de desconto Foto: Helvio Romero/Estadão

Não é plano de saúde

Vilar tem motivos para destacar esse posicionamento. Altamente reguladas, as empresas de saúde suplementar passaram três anos enfrentando perdas pesadas e, nos dois últimos trimestres, voltaram à lucratividade. A margem líquida, porém, ficou em 0,7% no primeiro trimestre.

Entre os motivos, dizem, está a judicialização crescente em torno de medicamentos e tratamentos de alto custo, a falta de limites para o número de consultas e tratamentos em transtornos mentais, como o do espectro autista, e o aumento de custos incompatível com os reajustes de preços autorizados, dizem as empresas do setor.

“Cabe perguntar se o modelo que nos trouxe até aqui terá energia para nos levar adiante e a resposta clara é: não”, afirmou o ex-ministro e diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Antônio Britto, no seminário “Saúde não tem preço. Mas tem custo”, realizado pelo Brazil Journal, no qual Vilar estava presente.

Relação de consumo

“Nós respondemos ao Código de Defesa do Consumidor (CDC) e não às regras da ANS (Agência Nacional de Saúde)”, diz Vilar. Para isso, a AmorSaúde construiu um modelo engenhoso. As 454 clínicas médicas e odontológicas da marca são franqueadas. As taxas de franquia ficam em R$ 30 mil. Elas estão em todos os Estados e praticamente em todas as cidades com mais de 100 mil habitantes. Só na região metropolitana de São Paulo, são 50 unidades. Em algumas delas, há oferta de profissionais tão sofisticados quanto neuropediatras.

Segundo Vilar, de 85 a 90% dos problemas de saúde que aparecem são resolvidos com atenção primária. Para exames e tratamentos mais complexos há convênios com hospitais e clínicas, em períodos de ociosidade. Metade das cirurgias da fila do Sistema Único de Saúde (SUS) – como catarata, amídalas, hérnias, vesículas e varizes – pode ser feitas pela empresa.

Além do clínico geral, há oferta de ginecologista, pediatra, ortopedista, dermatologista e oftalmologista. Também são feitos exames laboratoriais e alguns de imagens gráficas, como cardiológicos e de oftalmologia. Eles são processados em parcerias com laboratórios como Hermes Pardini e Fleury. Assim, este ano a rede fará 18 milhões de consultas. Nos últimos 12 meses, foram 35 milhões de exames, sendo 60% laboratoriais.

“Conseguimos a padronização de preços com escala”, afirma Vilar. “Apesar de a cidade de São Paulo ter um custo de vida mais elevado, o público-alvo é muito grande e temos uma grande diluição de custos.”

Um dos desafios a ser enfrentado pelo setor está numa eventual regulamentação. Decisão do ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou que a área passe a ser regulada pela ANS, mas o tema precisa passar pelo colegiado da corte. “Só esperamos ser ouvidos e que o cliente seja colocado no centro da regulamentação”, diz ele.

Expansão em andamento

Em cidades menores, o modelo de negócios do Cartão de Todos ainda não se mostrou eficiente. Essa é uma das frentes de expansão que está sendo testada, ao lado da internacional e do avanço na área de educação. Hoje, a AmorSaúde já tem operações na Colômbia e no Chile e, nos próximos semestres, pretende chegar a México e Estados Unidos.

“Abrimos uma unidade, entendemos como funciona o sistema de saúde e se faz sentido um cartão de desconto no país”, diz Vilar. “Somos uma empresa familiar e fazemos tudo aos poucos.”

O mesmo tem acontecido na unidade de educação. A Refuturiza é uma plataforma com cursos livres e para empregabilidade, como Educação de Jovens e Adultos (EJA). Agora, a ideia é partir para a graduação. O primeiro campus foi inaugurado em São Paulo e, durante o próximo ano, será testado se é possível transformar o modelo em franquia.

Negócios se complementam

Com 92% dos clientes da AmorSaúde como usuários do Cartão de Todos, os negócios se complementam. As outras compras são feitas por meio de aplicativo. Se o cliente comprar um botijão de gás na Ultragaz, tem 12% de cashback (devolução do gasto). O mesmo acontece com medicamentos na RaiaDrogasil e outras centenas de parceiros.

Com tamanho crescimento, o grupo é constantemente assediado pelo mercado financeiro, de acordo com Vilar. Seja com propostas de consolidação setorial, já que eles têm concorrentes menores, para alavancagem ou abertura de capital, as ofertas são constantes. “Nada disso está no nosso radar”, diz ele. “Temos como investidores os franqueados e os estimulamos a serem bem sucedidos. Não somos intensivos em capital.”

Criada por Altair Vieira, que foi presidente do sindicato dos metalúrgicos de Ipatinga (MG), o grupo tem um discurso de forte missão social. AmorSaúde é um acrônimo de “Atendimento Médico Odontológico Rápido de Saúde”. Cartão de Todos vem de “Trabalhadores Orientados em Defesa da Organização Social”.

“Meu pai é metalúrgico, filho de uma família de 11 irmãos e minha mãe veio de uma família de seis irmãos produtores rurais”, diz ele. “Crescemos no meio da pirâmide e temos muito orgulho de nossa história, e não esquecer de onde a gente veio. É primordial para nosso sucesso não esquecer de atender as dores da população.”

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 26/09/2024, às 18h44.

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Fonte: Estadão

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