A eleição das bicicletas – 05/10/2024 – Ciclocosmo

A bicicleta já foi tão desqualificada no meio político que, em 1988, sua circulação chegou a ser proibida no entorno da Prefeitura de São Paulo.

A ordem foi dada por Jânio Quadros (PTB), primeiro prefeito paulistano da atual era democrática, através de um decreto publicado em caráter “urgentíssimo” para acabar com a “séria ameaça contra adultos, senhoras e crianças.”

De lá para cá, a coisa melhorou. Talvez porque o paulistano sentiu o tempo perdido no trânsito. Talvez porque sobram estudos alertando para o iminente apocalipse climático, onde o motor à combustão é um dos grandes culpados.

Mesmo assim, pode-se dizer que a antiquada carrocracia ainda impera na hora de fazer política. Para muitos candidatos, falar em construir estruturas cicloviárias em espaços que hoje circulam veículos motorizados é dar tiro no pé. Acham melhor correr os riscos do apocalipse do que sugerir trocar carro por bicicleta e transporte coletivo.

No último debate, realizado pela TV Globo na quinta-feira (3), na hora de discutir mobilidade, gastaram muita saliva na defesa de pontes, vias expressas e bolsões para automóveis. Até teleférico ganhou de ciclovia, a qual foi citada uma única vez, por Tabata Amaral (PSB).

Parece que há um temor generalizado em repetir as marcas deixadas pela gestão Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda. Ao fim de seu governo (2013-2017), o que ficou gravado é o recorde de construção de ciclovias —400 km—, a redução dos limites de velocidade e a pior avaliação de um prefeito da cidade desde Celso Pitta (1997-2000).

A má avaliação, diga-se de passagem, tem grande relação com o antipetismo da época. Os dois outros feitos, antes vistos com estranheza, hoje estão ligados às políticas de desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).

Apesar do temor de prejuízo eleitoral, a fumaça na cidade já é tanta, que não dá mais para ficar de boca fechada. Um movimento suprapartidário, comprometido em falar da bicicleta como uma das ferramentas de combate às mudanças climáticas, fez três dos dez candidatos a prefeito, e 28 dos 1.016 a vereador, assinarem uma carta-compromisso com a mobilidade sustentável. É pouco frente ao tamanho da emergência, mas já é sinal de avanço.

Nas ruas, Guilherme Boulos (PSOL) e Tábata Amaral trocaram a carreata pela bicicletada, cada um com a sua turma do pedal. Pablo Marçal (PRTB) tentou se equilibrar numa roda só. Apesar da queda, não precisou de gesso ou curativos. Saiu ileso e sorrindo.

Dos que concorrem a vereador, Luna Zarattini (PT) e Renata Falzoni (PSB) pedalaram para valer. Falzoni, inclusive, diz que toda sua campanha foi transportada por bicicletas. Somado o vai e vem da equipe (entregadores, assessores e a própria candidata), “foram 74.907 km pedalados, o que evitou a emissão de 9,5 toneladas de CO².”

Pedalando ou não, o que importa é ter disposição política para debater a urgência de um planeta mais limpo e inclusivo, com melhor aproveitamento do espaço, do tempo e da energia.

A lista a seguir traz as 31 candidaturas que assinaram a carta-compromisso da Campanha Mobilidade Sustentável nas Eleições de São Paulo. (Na leitura em aparelho celular, é necessário rolar a barra para visualizar a lista completa)

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