Mathilde Missioneiro
O papa Francisco, que morreu na manhã desta segunda-feira aos 88 anos, será lembrado por milhares de aparições públicas pelo mundo. Mas também por uma aparição sem nenhum público.
Era sexta-feira, 27 de março de 2020. O mundo inteiro temia a pandemia de Covid-19, e a Itália já declarara 919 mortos pela doença. No Brasil, aonde o vírus chegou um pouco depois, contabilizavam-se 3.477 infectados e 93 mortos nas contagens oficiais.
A palavra “lockdown”, ou confinamento, em português, começava a entrar no vocabulário do dia a dia. O distanciamento físico se instalava por medo ou por obrigação.
Jornais mostravam imagens desesperadoras de hospitais cheios e de profissionais da saúde desamparados e exaustos. Ainda assim, muitas pessoas não acreditavam na doença e nos danos que ela poderia causar a curto e longo prazo.
Dezesseis dias após a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar a pandemia, o papa Francisco atravessou a praça São Pedro deserta, sozinho e sob chuva, para rezar a bênção Urbi et Orbi.
Sem a tradicional multidão de fiéis ao redor, o papa fez a bênção geralmente dirigida ao público na Páscoa e no Natal. A emergência da pandemia e o desastre anunciado da doença fizeram acontecer este momento histórico.
Enquanto já boa parte do mundo tentava conter a dimensão do vírus, Francisco exaltava o trabalho de médicos e enfermeiros, entre outros, e rezava pelo bem da humanidade, onde “ninguém se salva sozinho”.
No dia da morte de Francisco, a imagem voltou a ser relembrada nas redes sociais em todo o mundo. A imagem de um dia chuvoso, cinzento, em uma grande praça vazia, com um homem vestido de branco, falando apenas para as câmeras e para Deus.