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Na Mostra, Tarantino e Almodóvar aprenderam a amar SP – 30/10/2024 – Thiago Stivaletti


Por: Thiago Stivaletti

São Paulo

O ano era 1992. Um jovem cineasta americano veio à Mostra de São Paulo apresentar seu primeiro longa profissional. Rabiscou todo o catálogo marcando os filmes que queria ver e tentou escapar de qualquer compromisso do evento para ver filmes raros. Era Quentin Tarantino, com seu “Cães de Aluguel”.

Três anos depois, foi a vez de Pedro Almodóvar desembarcar na cidade com duas de suas musas, Marisa Paredes e Rossy de Palma, para abrir a Mostra no Vão Livre do Masp com “A Flor do Meu Segredo” (1995). Os fãs o paravam para entregar todo tipo de presente, como um tigrinho de pelúcia.

Essas e outras histórias são relembradas em “Viva o Cinema! Uma história da Mostra de São Paulo”, série em quatro episódios que estreia nesta quarta (30) na plataforma Max. Dirigida por Marina Person e Gustavo Rosa de Moura, a série narra como um pequeno festival de cinema criado em 1977 pelo crítico Leon Cakoff para comemorar os 30 anos do Masp se tornou o maior evento de cinema do país, chegando neste ano à sua 48ª edição.

Censura, confisco, pandemia

“É uma história de resistência e luta um evento dessa importância acontecer todo santo ano, apesar de sempre ter algum grande obstáculo rolando”, diz Gustavo. Os obstáculos de que ele fala são a base dos quatro episódios. Primeiro, havia a censura da ditadura militar, que chegou a interromper uma das edições no meio.

Mas a fome do público por filmes “proibidos” era tanta que a primeira edição teve um público de 10 mil pessoas, mesmo acontecendo em um único local: o auditório de 400 lugares do museu. Era só na Mostra que o público podia ver filmes polêmicos como o japonês “O Império dos Sentidos” (1976), até hoje tido como pornográfico pelos mais conservadores.

Depois, Leon enfrentou a oposição do próprio chefe, Pietro Maria Bardi, diretor do Masp, que tentou acabar com a Mostra em 1984, enciumado com a projeção que o evento tomava. Leon botou a Mostra embaixo do braço e foi negociar com outras salas de cinema.

Desde o início, havia ainda as imensas dificuldades financeiras para botar a Mostra de pé sem apoio oficial –situação que piorava em anos como 1990, com o confisco do Plano Collor.

Passagem de bastão

O próximo baque foi também inesperado: a morte prematura de Leon aos 63 anos, em 2011, vítima de câncer. Foi um período que vivi de dentro, trabalhando na Mostra como editor do catálogo na época. Um ano antes, Leon botou de pé sua última Mostra com um recorde de filmes (470) e dois pôsteres –o primeiro com um desenho do japonês Akira Kurosawa e outro com uma foto do alemão Wim Wenders, que veio a São Paulo.

Em meio ao luto, Renata de Almeida, produtora da Mostra desde 1989 e mulher do Leon, assumiu o leme e manteve a Mostra de pé, enfrentando machismos e calando quem dizia que “sem o Leon, a mostra não sobrevive”.

Nos últimos anos, Renata já enfrentou outros dois desafios gigantes. Na pandemia, não deixou de entregar a Mostra, numa edição 100% online em 2020. E durante o governo Bolsonaro, perdeu o seu maior patrocinador oficial, a Petrobras, que retornou no governo Lula.

Por fim: a Mostra encerra sua programação oficial nesta quarta com a presença de Francis Ford Coppola na Cinemateca para apresentar o seu novo “Megalopolis”. Mas ela se estende por mais uma semana com sua repescagem no Cinesesc, na rua Augusta. É mais uma chance de ver os filmes do mundo todo que só a Mostra consegue reunir.

“Viva o Cinema! Uma história da Mostra de São Paulo”

Série em 4 episódios

Estreia nesta quarta (30), no Max


Repescagem da 48ª Mostra

Cinesesc – Rua Augusta, 2.075

Programação em www.mostra.org ou no Instagram em @cinesescsp

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

Fonte: Folha UOL

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