Lula disse em mais de uma ocasião que pode sobretaxar produtos americanos diante do tarifaço que Donald Trump começou a impor sobre bens do Brasil —barreiras que tendem a ser ampliadas no dia 2. A decisão sobre uma retaliação contra os EUA não é trivial e deve envolver um complexo cálculo para evitar que o tiro seja de festim ou, pior, saia pela culatra.
Os principais produtos importados pelo Brasil dos EUA são: motores e máquinas, óleo combustível, aeronaves e gás natural, além de medicamentos. Aplicar grosseiramente um imposto sobre essa pauta traria consequências econômicas indesejadas, com risco de contratar inflação.
Outra alternativa seria selecionar artigos específicos que não representam risco de danos colaterais para a economia. O problema é que, para ser crível, a retaliação precisa indicar prejuízos significativos para o país alvo das medidas. Mirar apenas numa seleta lista de bens de luxo, por exemplo, pode não surtir oefeito dissuasório necessário para forçar Trump a negociar.
A terceira opção é a retaliação cruzada sobre serviços e propriedade intelectual, arsenal que foi eficaz na disputa que Brasil e EUA travaram sobre subsídios que os americanos davam ao algodão.
À época, a ameaça do Brasil de atingir licenciamentos da indústria farmacêutica e do setor audiovisual foi fundamental para convencer a Casa Branca —então sob Barack Obama— a fazer um acordo. Mesmo essa abordagem já testada precisará ser recalibrada no cenário atual. Em primeiro lugar, cabe reavaliar se segue fazendo sentido atingir os mesmos setores diante das transformações no campo de alta tecnologia dos EUA na última década.
E não menos importante: a retaliação é uma arma que se aponta contra o adversário sob a expectativa de que não será necessário puxar o gatilho. Diante de uma ameaça do tipo, um líder imprevisível como Trump pode escalar a guerra comercial e redobrar os ataques contra o Brasil, como já fez com outros países que o desafiaram.