O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, rejeitou nesta terça-feira (8) uma nova proposta israelense para gerenciar as entregas de ajuda humanitária em Gaza e disse que isso poderia fazer Tel Aviv “controlar ainda mais e limitar cruelmente a ajuda até a última caloria e grão de farinha”.
“Deixem-me ser claro: não participaremos de nenhum acordo que não respeite totalmente os princípios humanitários: humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade”, disse Guterres em entrevista coletiva.
Nenhum mantimento externo é entregue a Gaza —que tem cerca de 2,1 milhões de habitantes— desde 2 de março. Israel disse que não permitiria a entrada de todos os bens e suprimentos até que os terroristas do Hamas libertassem todos os reféns restantes.
A Cogat, agência militar israelense que coordena a ajuda, se reuniu na semana passada com agências da ONU e grupos internacionais de assistência humanitária e disse que propôs “um mecanismo estruturado de monitoramento e entrada de ajuda” para Gaza.
“O mecanismo foi criado para dar suporte a organizações de ajuda, melhorar a supervisão e a responsabilização e garantir que a assistência chegue à população civil necessitada, em vez de ser desviada e roubada pelo Hamas”, publicou a Cogat no X no último domingo (6).
Jonathan Whittall, funcionário de alto escalão de assistência da ONU para Gaza e Cisjordânia, disse na semana passada que não havia evidências de desvio de ajuda.
No mês passado, Israel retomou seu bombardeio a Gaza após uma trégua de dois meses e enviou tropas de volta ao território. “Gaza é um campo de extermínio —e os civis estão em um ciclo de morte sem fim”, disse Guterres ao pedir novamente a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, um cessar-fogo permanente e acesso humanitário total em Gaza.
“Com os pontos de passagem para Gaza fechados e a ajuda bloqueada, a segurança está em frangalhos e nossa capacidade de entrega foi estrangulada”, afirmou. “Como potência ocupante, Israel tem obrigações inequívocas sob o direito internacional —incluindo o direito internacional humanitário e os direitos humanos.”
Na prática, segundo ele, isso significa que Israel deve facilitar programas de ajuda e garantir alimentação, assistência médica, higiene e padrões de saúde pública em Gaza. “Nada disso está acontecendo hoje”, disse ele. Israel afirma que não exerce controle efetivo sobre Gaza e, portanto, não é uma potência ocupante.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas mataram 1.200 pessoas no sul de Israel e fizeram cerca de 250 reféns, de acordo com contagens israelenses. Desde então, a ofensiva de Israel em resposta matou mais de 50.000 palestinos, de acordo com autoridades de saúde de Gaza.