Entre o primeiro e o vigésimo minuto do jogo de ida da semifinal da Liga dos Campeões, no Estádio Olímpico de Montjuic, a Inter de Milão finalizou duas vezes.
Aos 30 segundos e aos 20 minutos.
Fez dois gols.
Aliás, dois golaços.
De letra, pelo francês Marcus Thuram, e de voleio, pelo holandês Denzel Dumfries.
Entre os dois gols, só deu Barcelona, que empurrou o time italiano para trás e o submeteu a pressão inclemente.
Nesse intervalo, o garoto Lamine Yamal fez coisas que Mané Garrincha assinaria, entre essas um passe para Ferrán Torres, aos 10, chutar rente à trave.
Se bola na trave não muda o placar, rente, então, é que não serve para nada.
Aos 19, então, Torres tentou de novo e outra vez tirou lasca do poste.
Com 2 a 0, por melhor que o Barça jogasse, e por mais que ainda faltassem 70 minutos, parecia impossível a reação catalã.
Yamal desconhece o significado de impossível e seguiu em atuação primorosa, até diminuir a diferença logo no 24º minuto, entre seis pernas rivais, e enfiar, sabe ele (ou Ele?) como, a bola no gol, não sem antes beijar a trave, desta vez, pela parte de dentro.
Gol aos 30 segundos, outro aos 20 minutos, 2 a 0 para os visitantes com a melhor defesa da Champions?!
Rara leitora, raro leitor, estamos na Catalunha.
No minuto seguinte ao seu gol, o menino endiabrado, sem ângulo, meteu de esquerda para leve toque do goleiro Sommer desviar a bola à trave.
Aos 35, o goleiro suíço evitou o empate novamente, mas, dois minutos depois, não deu, foi impossível, porque existe o impossível, menos para Yamal nos seus 17 anos de idade e destemor.
Pedri pôs a bola na cabeça do brasileiro Raphinha, que deixou Torres na cara do empate: 2 a 2.
O Barça perdeu o também francês zagueiro Jules Koundé, substituído por Eric Garcia.
O argentino Lautaro Martínez não pôde voltar para o segundo tempo e o iraniano Mehdi Taremi o substituiu no ataque milanês, assim como o zagueiro Ronald Araújo entrou no lugar de Gerard Martín na defesa do Barça.
(Os jogadores, cujas nacionalidades são omitidas, nasceram na Espanha).
Federico Dimarco protagonizou o primeiro momento perigoso da etapa final, ao chutar por cima o que seria o terceiro gol italiano.
Em seguida, Dimarco saiu, trocado pela lateral brasileiro Carlos Augusto, revelado pelo Corinthians, para tentar marcar Yamal, que não parava de infernizar ao usar apenas três dedos.
Mas, aos 64, como no segundo gol, novo escanteio resultou em cabeceio de Dumfries e no 3 a 2.
Há catalão que aguente?
Há, o gaúcho Raphinha, que, aos 68, acertou um tirambaço de fora da área no travessão e comemorou a bola ter batido nas costas de Sommer para empatar o jogaço, o recital de futebol, sem dúvida dos melhores acontecidos neste século, no anterior e no anterior, porque o Barcelona é de 1899.
Barça que merecia vencer, embora a Inter não merecesse perder, se é que você entende.
Em tese, o empate estaria ótimo para os visitantes, mas nem eles agiam como se assim fosse, e, aos 75, fizeram o 4 a 3, mas em impedimento milimétrico.
Aos 87, Yamal, por cobertura, mandou no travessão.
Houve outras trocas que aqui já não cabem.
Como não cabem a admiração, a satisfação e o estarrecimento pelo que se viu na extraordinária noite catalã.