Por: Karina Ferreira
O debate entre seis candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pelo Estadão, pelo portal Terra e pela Faap, nesta quarta-feira, 14, foi marcado por falas ásperas, discussões e até xingamentos. Em proporção menor, estiveram também presentes as propostas de cada um para a cidade, apresentadas em seus planos de governo.
Com cerca de três horas de duração, o debate contou com a presença do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), dos deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), do apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB), do empresário Pablo Marçal (PRTB) e da economista Marina Helena (Novo). Confira a seguir seis momentos marcantes do embate entre os adversários políticos.
‘Exorcismo’ com carteira de trabalho
O azedume começou com Guilherme Boulos (PSOL) comparando a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) à de Padre Kelmon nas eleições de 2022, que foi apelidado de “padre de festa junina” pela então concorrente e senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), após ter adotado postura caricata dos debates. Em resposta, o ex-coach retirou uma carteira de trabalho de um dos bolsos do paletó e, apontando o documento para Boulos, afirmou que iria “exorcizar o demônio com uma carteira de trabalho”. O candidato disse ainda que o psolista “nunca trabalhou” e o chamou de “um grande vagabundo”.
A discussão entre os dois oponentes continuou após eles retornarem aos seus lugares. Marçal, sentado ao lado de Boulos no palco, estendeu novamente a carteira de trabalho para o candidato do PSOL, que tentou dar um leve tapa no objeto na mão do influenciador. A discussão foi interrompida por uma integrante da organização, na hora em que Boulos precisava se posicionar no palco para responder a próxima pergunta.
‘Rouba e não faz’ como slogan
No bloco temático sobre planejamento urbano, prefeito questionou Tabata sobre obras da Prefeitura na Vila Missionária, local de nascimento da candidata do PSB. “Em seis anos como deputada, a gente poderia ter um pouco mais de atenção da sua parte com relação àquela região tão importante e que eu tenho tanto orgulho de ter feito bastante coisa?”, questionou o prefeito.
A deputada federal reagiu afirmando que o oponente é “desconhecido” e que ela, ao contrário, foi a segunda parlamentar mais votada na própria região, e citou emendas parlamentares que direcionou para o bairro. A candidata replicou, questionando o prefeito sobre obras “superfaturadas”, “sem licitação” e “mal feitas” na região, que segundo ela apresentaram problemas estruturais pouco tempo após as entregas.
Nunes disse para Tabata não ser “leviana” e reconhecer as obras que a Prefeitura entregou. A deputada aproveitou o tempo restante para cutucar Nunes: “o que você acha, uma sugestão apenas, de adotar o seguinte slogan: rouba, e não faz?”.
‘Bondinho voador’
Durante uma discussão com Boulos sobre a segurança pública de São Paulo, Tabata Amaral alfinetou a proposta de Pablo Marçal de construir um teleférico na periferia de São Paulo e chamou o projeto de “bondinho voador”. A candidata do PSB prosseguiu o raciocínio com críticas ao plano de governo de Boulos. “Eu venho analisando o plano de governo de cada um dos candidatos. E, maluquices à parte, como ‘bondinho voador’ etc. me chamou a atenção uma coisa em seu plano, Boulos, que é um plano caro”, disse de forma genérica. E questionou se oponente pretende tirar dinheiro de outras áreas, ou aumentar os impostos, para conseguir tirar as propostas do papel.
Durante o debate, a proposta do teleférico foi citada e defendida pelo próprio Marçal. “Não adianta rir, porque você também vai andar”, disse o candidato do PRTB, provocando risos do público presente. Antes do início do evento, a medida foi alvo de críticas de Ricardo Nunes, que ironizou o projeto. “Aqui não é nem Disneylândia nem Playcenter para fazer teleférico”, afirmou o prefeito na chegada ao Teatro Faap.
‘Faz o M, de Marina’
No último bloco do debate, Pablo Marçal e Marina Helena debateram sobre concessões de equipamentos públicos em tom amistoso. Marçal parabenizou Marina por ser uma “mulher guerreira e bem intencionada” e voltou a repetir seu bordão de campanha, o “faz o M”. Marina, em resposta, brincou com o empresário. “Já que vocês vão fazer o M, faz o M de Marina”.
Pergunta de Marina Helena provoca nota da Prefeitura de SP
Em embate com o prefeito, a candidata do Novo, Marina Helena, afirmou que a Prefeitura da capital paulista, por meio da Secretaria de Saúde, vinha disponibilizando bloqueio hormonal de puberdade para meninos e meninas de 8 e 9 anos de idade. A declaração reverberou para além do debate e descambou em um posicionamento oficial da própria Secretaria Municipal de Saúde, que qualificou a afirmação como “irresponsável” e “absurda”. “É inteiramente falsa a afirmação irresponsável de que a Secretaria Municipal da Saúde promove o bloqueio puberal em crianças por meio de hormônios. A afirmação é absurda até mesmo por ignorar que o referido tratamento é proibido por meio de resolução do Conselho Federal de Medicina”, diz a pasta.
Como mostrou o Estadão Verifica, a fala de Marina Helena carece de contexto. Nas diretrizes da Prefeitura, só consta uma menção de que, na literatura médica, o bloqueio hormonal é possível a partir dos 8 anos de idade. Contudo, na capital paulista, o tratamento possui uma idade mínima de 21 anos, em respeito a uma norma do Ministério da Saúde.
Além da crítica a um suposto tratamento hormonal na Prefeitura, Marina Helena afirmou, durante o embate com Nunes, que a Secretaria de Saúde do município vinha divulgando “ideologia de gênero” por meio de um canal no YouTube denominado “Saúde para Todes”. A afirmação foi desmentida pelo prefeito.
Considerações finais: Marçal em silêncio e Datena sem tempo
Em suas considerações finais, nas quais teria direito a 30 segundos de fala, Pablo Marçal preferiu permanecer em silêncio. “Como protesto, por tanta gente incompetente”, especificou o candidato, antes do tempo em que permaneceu calado.
Se Marçal decidiu permanecer em silêncio, Datena falou para além do tempo delimitado, precisando ser interrompido em respeito às regras delimitadas pela organização. Nas considerações finais, o tucano se queixou do nível da discussão. “Não dá para mostrar plano de governo no meio de briga, discussão e baderna”, disse o jornalista. Em outro momento do embate, ainda nos blocos temáticos, o apresentador usou quase todo o tempo disponível, que deveria ser administrado por ele mesmo, para responder à pergunta sobre as propostas dele para resolver o problema da Cracolândia, no centro de São Paulo.