Dados que identificam as dificuldades enfrentadas pela população da zona urbana de Tarauacá no que se refere ao uso das tecnologias digitais e no entendimento das informações que essas tecnologias veiculam é é o resultado de uma pesquisa intitulada LETRAMENTO DIGITAL E INFORMACIONAL EM TARAUACÁ.
De acordocom o Professor Antonio Macedo dos Santos, do Instituto Fedral do Acre – IFAC, Campus Tarauacá, o tabalho pauta-se numa metodologia qualitativa, embora se proponha também a usar dados e estatísticas, o que lhe confere o aspecto quantitativo e descritivo, além de fazer revisões bibliográficas. Os dados são interpretados à luz dos estudos sobre letramento digital e informacional conduzidos por Sônia Boeres e também pelas contribuições dos filósofos Francis Bacon e Ludwig Wittgenstein. “Os resultados apontam que a população não apresenta grandes dificuldades para usar as tecnologias digitais, embora por vezes algumas surjam. Conclusivamente, nota-se que estas estão relacionadas a um excesso de instruções ou mesmo orientações confusas. A população sofre também com golpes e tentativas de golpes financeiros e, finalmente, acredita que o seu senso crítico ficou mais apurado com o acesso às informações veiculadas pelos meios digitais” disse o professor.
O LETRAMENTO DIGITAL E INFORMACIONAL NA ZONA URBANA DE TARAUACÁ
THE DIGITAL LITERANCY AND INFORMATIONAL IN THE URBAN AREA OF TARAUACÁ
La alfabetización digital e informacional en la área urbana de Tarauacá
RESUMO
O artigo tem como objetivo identificar as dificuldades enfrentadas pela população da zona urbana de Tarauacá no que se refere ao uso das tecnologias digitais e no entendimento das informações que essas tecnologias veiculam. Pauta-se numa metodologia qualitativa, embora se proponha também a usar dados e estatísticas, o que lhe confere o aspecto quantitativo e descritivo, além de fazer revisões bibliográficas. Os dados são interpretados à luz dos estudos sobre letramento digital e informacional conduzidos por Sônia Boeres e também pelas contribuições dos filósofos Francis Bacon e Ludwig Wittgenstein. Os resultados apontam que a população não apresenta grandes dificuldades para usar as tecnologias digitais, embora por vezes algumas surjam. Conclusivamente, nota-se que estas estão relacionadas a um excesso de instruções ou mesmo orientações confusas. A população sofre também com golpes e tentativas de golpes financeiros e, finalmente, acredita que o seu senso crítico ficou mais apurado com o acesso às informações veiculadas pelos meios digitais.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento. Digital. Informacional. Ídolos. Linguagem.
ABSTRACT
The article aims to identify the difficulties faced by the population of the urban area of Tarauacá regarding to the use of digital technologies and in understanding the information that these technologies convey. It is based on a qualitative methodology, although it also proposes to use data and statistics, which gives it a quantitative and descriptive aspect in addition to carrying out bibliographic reviews. The data are interpreted in light of the studies on digital and information literacy conducted by Sônia Boeres and also the contributions of philosophers Francis Bacon and Ludwig Wittgenstein. The results indicate that the population does not have great difficulties in using digital technologies, although sometimes some difficulties arise. In conclusion, it is noted that these are related to an excess of instructions or even confusing guidelines. The population also suffers from scams and attempted financial scams and, finally, believes that their critical sense has become more refined with access to information conveyed by digital media.
KEYWORDS: Literacy. Digital. Informational. Idols. Language.
RESUMEN
El artículo tiene como objetivo identificar las dificultades que enfrentan la población del área urbana de Tarauacá respecto al uso de las tecnologías digitales y la comprensión de las informaciones que estas tecnologías transmiten. Se basa en una metodología cualitativa, aunque también propone utilizar datos y estadísticas, lo que le confiere un aspecto cuantitativo y descriptivo, además de realizar revisiones bibliográficas. Los datos son interpretados a la luz de estudios sobre alfabetización digital e informacional realizados por Sonia Boeres y también de las contribuciones de los filósofos Francis Bacon y Ludwig Wittgenstein. Los resultados indican que la población no tiene grandes dificultades para utilizar las tecnologías digitales, aunque en ocasiones sí surgen algunas. Concluyendo, se observa que estos están relacionados con un exceso de instrucciones o incluso con pautas confusas. La población también sufre estafas e intentos de estafa financiera y, finalmente, cree que su sentido crítico se ha afinado con el acceso a la información transmitida a través de los medios digitales.
PALABRAS CLAVE: Alfabetización. Digital. Informativo. Ídolos. Lenguaje.
INTRODUÇÃO
Num âmbito tecnológico existem desconfianças em relação às urnas eletrônicas, ao sistema de pagamentos via PIX, etc. Essas desconfianças, às vezes justificáveis, às vezes não, passam exatamente por um problema de comunicação ou, melhor ainda, de letramento. E esse letramento se apresenta com duas faces: a digital e a informacional.
Por mais científicos, técnicos e tecnológicos que sejam nossos contextos, nem sempre estamos aptos a seus “jogos de linguagem”, para usar a expressão do filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Considerando esse contexto digital surge a seguinte problemática: Por que é importante identificar as dificuldades da população de Tarauacá em relação ao uso e ao entendimento das tecnologias digitais e das informações que elas veiculam?
Figura 1: Mapa do estado do Acre. A população de Tarauacá é a terceira maior. Atrás apenas de Rio Branco (364.756 pessoas) e Cruzeiro do Sul (91.888 pessoas).
fonte: IBGE-Senso Demográfico 2022.
Diante desse quadro, desenvolver uma pesquisa junto com os estudantes do Ifac e com foco no letramento digital e informacional é interessante, porque envolverá um parcial levantamento de dados sobre a taxa de alfabetização, de escolaridade e de modos de utilização das tecnologias digitais pela população. Questionando sobre as dificuldades que as pessoas têm em relação às tecnologias, a idoneidade ou não das desconfianças sobre instrumentos digitais como urnas eletrônicas, PIX, etc. a pesquisa pode contribuir socialmente e assim ultrapassar a o contexto escolar.
Em relação ao texto que ora apresentamos está organizado da seguinte maneira. Primeiramente apresentamos rápidas informações sobre o público entrevistado, na seção Sujeitos da pesquisa. Em seguida, numa seção mais conceitual, O letramento digital numa visão filosófica, propomos uma base crítica para analisar os dados. Nessa base temos, por um lado, o conceito de letramento digital e informacional explicado em linhas gerais. Por outro lado, apresentamos duas ideias filosóficas. Inicialmente a ideia do pensador inglês Francis Bacon, sobre o poder do saber ou, para sermos mais justos com o filósofo, a ideia de que “saber é poder”. Porque, apesar de estarmos numa comunidade muito letrada e digitalizada nem sempre as informações que nelas temos acesso nos servem como esclarecedoras. Por vezes somos enganados e vitimados no mundo digital, porque nem sempre percebemos as más intenções de quem maneja bem o mundo digital. É preciso, então, compreender o que bloqueia nosso intelecto e saber jogar os “jogos de linguagem” para se criar mais resistências às tentativas de enganos. Essa expressão, “jogos de linguagem” é outra ideia filosófica, do pensador austríaco, Ludwig Wittgenstein.
Considerando todo esse arcabouço teremos condições para analisar os dados, que serão expostos na terceira seção do texto, A Análise dos dados da pesquisa sobre letramento digital e informacional em Tarauacá. Nela apresentamos alguns dos dados obtidos. A pesquisa foi feita por grupos etários, selecionamos para apresentar aqui aquelas que apresentam informações relacionadas à compreensão de informações no ambiente digital e deixamos outras informações para serem divulgadas em redes sociais, rádios, sites, banners, etc.
Antes de passarmos à leitura de tudo isso, gostaríamos de externar nosso agradecimento ao Ifac pelo apoio institucional tanto aos docentes quanto aos discentes envolvidos na pesquisa. No âmbito do campus Tarauacá, queremos ressaltar que o projeto faz parte das atividades do NUCELI, que nos apoiou oferecendo a sua estrutura física e pessoal para planejamentos, confecção de cards, discussão de resultados, etc. Agradecemos também ao CNPq pela concessão da Bolsa e esperamos que este e os outros resultados obtidos estejam à altura do investimento feito.
OS SUJEITOS DA PESQUISA
Foram obtidas 79 respostas aos formulários. Segundo os estudantes, algumas pessoas foram muitos resistentes a fornecerem as respostas, apesar de não haver nenhuma pergunta que envolvesse informações pessoais. Muitas inclusive se negaram a responder à pesquisa. A tabela abaixo apresenta a distribuição das respostas.
Tabela 1: Número de entrevistados por faixa etária
Faixa etária
Número de entrevistados
18 a 31 anos
30
31 a 40 anos
20
Acima de 41 anos
29
fonte: Os pesquisadores
Com os números acima já temos condição de ter um perfil dos sujeitos da pesquisa. Como tratamos aqui do tema do letramento digital, acreditamos que o dado que mais nos atende no tracejo desse perfil seja o grau de instrução. O gráfico número 1 nos dá as porcentagens gerais relativas ao grau de instrução. Interessante notar que há um equilíbrio entre as pessoas que tem o ensino médio completo e aqueles que tem o ensino superior.
fonte: Os pesquisadores
Abaixo temos mais detalhes sobre o grau de instrução dos entrevistados. O gráfico 2 apresenta os dados do público mais jovem que foi ouvido. Para esse público o grau de instrução dominante foi o do Ensino Médio. São pessoas que muito provavelmente optam por trabalhar, dado que em geral antes dos 30 anos de idade uma pessoa já tem o Ensino Superior completo.
fonte: Os pesquisadores
A situação muda um pouco quando observamos o gráfico 3. Nele a situação da instrução aparece mais bem dividida entre quem tem Ensino Superior e quem tem Ensino Médio. Comparando o gráfico acima com o gráfico abaixo, presume-se que o ingresso no Ensino Superior em Tarauacá aconteça, normalmente, de forma tardia. Reforça essa ideia, o fato de que o município possui uma gama de cursos presenciais muito limitada, devido apenas o Ifac e a Ufac, esta através de uma extensão, estarem presentes no município ofertando cursos presenciais de modo regular.
fonte: Os pesquisadores
O gráfico 4 apresenta os entrevistados de 41 anos ou mais. Nesse grupo a maioria dos entrevistados tem Ensino Superior completo.
fonte: Os pesquisadores
Todos os entrevistados habitam em Tarauacá. De acordo com os formulários, 33 pessoas que responderam à pesquisa são mulheres (41,77%) e 46 homens (58,22%). Para efeitos de delimitação vamos nos ater às seguintes questões:
· (1) O (a) senhor (a) tem dificuldades de utilizar tecnologias como celular, computador, caixa eletrônica, etc.?
· (2) Se sim, o que dificulta sua compreensão?
· (5) O que o (a) senhor faz para sanar as dúvidas quanto às informações científicas e tecnológicas?
· (7) O senhor (a) entende que a era digital favoreceu o senso crítico?
· (10) O (a) senhor (a) já teve algum prejuízo financeiro (golpe) ao utilizar as redes sociais/tecnologias digitais?
As alternativas que mais se repetirem, as citaremos caso a caso, serão analisadas a partir de uma base conceitual exposta na próxima seção. Esta envolve estudos de letramento e de filosofia da linguagem e ciência. Mas em que sentido esses estudos podem nos ajudar?
O LETRAMENTO DIGITAL NUMA VISÃO FILOSÓFICA
Inicialmente é preciso entender que antes de falarmos em ‘letramento digital’ é preciso falar de ‘letramento informacional’, pois este precedeu aquele. Além disso, este ‘letramento informacional’ pode soar confuso para o leitor, pois dele tem-se desdobramentos vários. Evitá-los é tão tentador quanto nocivo ao entendimento do que nos propomos. Por essa razão, na medida do possível, vamos resumir todos estes desdobramentos para propiciarmos uma compreensão mais completa da questão do letramento digital.
Olhando para esse quadro, Boeres ressalta que há, por um lado, quem fale que a ciência da informação deveria focar em três mundos: o da realidade subjetiva, o mundo da realidade dos objetos e técnicas e o mundo da realidade do ciberespaço. Por outro lado, em consequência disso, há quem diga, ainda segundo a autora, que a educação entrou num novo paradigma que requer dos indivíduos a capacidade de desenvolver competências para usar informação e capacidade intelectual de transformá-la em conhecimento no contexto de um aprendizado crescente e contínuo.
Não podemos pensar que o conceito de letramento digital esteja circunscrito à ideia de acessar a internet, responder e-mails ou utilização das redes sociais. Mais que isso, Boeres entende que as pessoas devam fazer uso da tecnologia para gerar um benefício ou comodidade para elas, como ao procurar emprego pela internet, que requer saber ler o anúncio, interpretá-lo e candidatar-se à vaga via Tecnologia da Informação. Na verdade, como o mundo digital é muito amplo, nele se fala muitas linguagens. Por isso, alguns estudos, já datados inclusive, falam de letramentos digitais. Estes, como tudo que compõe a aventura humana pela vida, são possíveis de serem pensados filosoficamente.
Além da questão dos ídolos não se pode ignorar as contribuições da filosofia da linguagem de Wittgenstein, para quem a noção de “jogos de linguagem” é fundamental. A comunicação digital é uma forma de linguagem que tem suas regras próprias. Contudo, cabe perguntar: essas regras são maleáveis e se conformam a situações objetivas ou são as mesmas para uma comunidade? Por que elas seriam como que jogos?
O uso da linguagem, no caso específico desse estudo, a linguagem digital, pode ser analisado pelos ângulos do letramento ou filosóficos. Havendo então essas intuições críticas podemos passar à análise dos dados e tentar compreender o que os números significam.
A ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA SOBRE LETRAMENTO DIGITAL E INFORMACIONAL EM TARAUACÁ
Como já indicado na seção Sujeitos da pesquisa, aqui analisaremos os dados que foram obtidos por meio de algumas questões do formulário de pesquisa que estão ligadas à ideia de letramento. Optamos em analisar a resposta mais citada em cada faixa etária. As questões 1 e 2 do formulário são bons pontos de partida. Na questão 1 quisemos saber: “O (a) senhor (a) tem dificuldades de utilizar tecnologias como celular, computador, caixa eletrônica, etc.? a. sempre; b. nunca; c. às vezes.
Tabela 2: Respostas à questão 1 por faixa etária.
Faixa etária
Porcentagem
Respostas
18 a 31 anos
76,6%
Às vezes
31 a 40 anos
47,4%
Às vezes
Acima de 41 anos
55,2%
Às vezes
fonte: Os pesquisadores
A questão 2 do formulário está bem amalgamada à primeira. Perguntamos nela: “Se sim, o que dificulta sua compreensão? a. linguagem; b. tamanho da letra; c. orientações confusas; d. excesso de informações”. As respostas:
Tabela 3: Respostas à questão2 por faixa etária
Faixa etária
Porcentagem
Resposta
18 a 31 anos
54,2%
Excesso de informações
31 a 40 anos
36,4%
Excesso de informações e orientações confusas
Acima de 41 anos
44,4
Excesso de informações
fonte: Os pesquisadores
Na questão 5 fizemos a seguinte interrogação: “o que o (a) senhor faz para sanar as dúvidas quanto às informações científicas e tecnológicas? a) Estudo em sites, redes sociais e apps; b) Pergunto a outras pessoas; c) Não faço nada”.
Tabela 4: Respostas à questão 5 por faixa etária
Faixa etária
Porcentagem
Respostas
18 a 31 anos
63,3%
Estudo em sites, redes sociais e apps
31 a 40 anos
55%
Estudo em sites, redes sociais e apps
Acima de 41 anos
51,7%
Estudo em sites, redes sociais e apps
fonte: Os pesquisadores
A questão número 7 está também próximo disso. Quisemos saber dos entrevistados o seguinte: O senhor (a) entende que a era digital favoreceu o senso crítico? a) não favoreceu, b) sim, bastante; c) sim, mas pouco. Coerente com a ideia de independência que notamos acima a resposta mais citado foi a da alternativa b.
Tabela 5: Respostas à questão 7 por faixa etária
Faixa etária
Porcentagem
Respostas
18 a 31 anos
63,3%
Sim, bastante
31 a 40 anos
55%
Sim, bastante
Acima de 41 anos
51,7%
Sim, bastante
fonte: Os pesquisadores
Hoje, no mundo digital, essas personagens podem ser identificadas com políticos, influencers, filósofos (e falsos filósofos) que estão nas redes sociais e que pretendem explicar o real, mas na verdade o camuflam de acordo com seus interesses; interesses inconfessáveis, para usar uma expressão consagrada. Estes, donos de persuasão acentuada, representam uma mistura do mal com o atraso, para utilizarmos outra expressão consagrada.
A última questão que queremos analisar diz respeito à questão dos golpes financeiros a que estamos nós todos sujeitos. Perguntamos na questão 10 do formulário: O (a) senhor (a) já teve algum prejuízo financeiro (golpe) ao utilizar as redes sociais/tecnologias digitais? a) sim, uma vez; b) mais, de uma vez; c) não, percebi antes; d) nunca.
Tabela 6: Respostas à questão 10 por faixa etária
Faixa etária
Porcentagem
Respostas
18 a 31 anos
37,9%
Sim, uma vez;
Nunca
31 a 40 anos
60%
Nunca
Acima de 41 anos
48,3%
Nunca
fonte: Os pesquisadores
Este é um problema maior. Está ligado à questão do letramento digital e informacional, mas o ultrapassa, visto ser uma questão combatida pela justiça e pelo sistema financeiro. Os dados da tabela 6 são indicadores da gravidade da situação. Se pensamos que 48% das pessoas acima de 41 anos nunca caíram em golpes os outros 52% ou caíram ou tiveram tentativas de golpes financeiros contra si. O mesmo exercício podemos apresentar para os entrevistados da faixa etária entre 31 e 40 anos. O que dizemos fica mais explicita se olhamos a resposta dos entrevistados mais jovens.
Como mencionamos ainda na introdução, a pesquisa fez outras perguntas que também revelaram dados interessantes. Estes, contudo, poderão ser tratados em outro momento. É necessário fazer nossas considerações finais, pois cremos que os dados que aqui foram apresentados já ocupam e preocupam nossa mente em boa medida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciarmos nossa pesquisa tínhamos como objetivo saber: por que é importante identificar as dificuldades da população de Tarauacá em relação ao uso e ao entendimento das tecnologias digitais e das informações que elas veiculam? Acreditamos termos respondido. Ao analisarmos o problema vimos que ele está, como expomos reiteradamente, vinculado à questão do letramento digital e informacional. Vimos que a população da zona urbana de Tarauacá é bastante digitalizada.
Ao aplicarmos questionários notamos que, em geral, notamos que a população tem dificuldades em usar as tecnologias digitais em poucos momentos. Os entrevistados disseram que o que mais os dificulta nessa compreensão é o excesso de informações ou ainda informações um pouco confusas. Quando essas dificuldades surgem, geralmente os entrevistados buscam superá-las em redes sociais, sites, apps, etc. uma postura que revela uma certa proatividade deles em relação ao obstáculo esporádico de compreender alguma coisa no meio digital. As pessoas entrevistadas também creem que seu senso crítico está mais aguçado em função exatamente das informações acessíveis de que dispõem. Não obstante isso, boa parte dos entrevistados já caíram em golpes financeiros.
Refletimos sobre esses dados tendo como base crítica o conceito de letramento digital e informacional e as contribuições de filósofos como Wittgenstein e Bacon. Nota-se que, em Tarauacá, o letramento acontece de forma mais independente, ou seja, cada pessoa vai imergindo no mundo digital a modo seu. Assim, a pesquisa realizada pode ensejar na vida comunitária o desejo de se aprofundar em algum aspecto da era digital de modo mais crítico. Por exemplo: se não há um curso ou tutorial sobre a inteligência artificial, as escolas poderiam pesar em fornecer um para ensinar a utilizá-la. Ou ainda, se boa parte da comunidade sofre com golpes e tentativas de golpe, o poder público poderia organizar uma campanha sobre como se precaver disso mais voltada para as características da população.
A pesquisa que aqui apresentamos pôs luz apenas em algumas questões. Possivelmente outras questões podem ser aprofundadas. Não pensamos sobre o problema tão recorrente do bulling no mundo digital (ciberbulling), crimes contra a vida, problemas relacionados ao excesso de telas e como esse excesso afeta a saúde da população de Tarauacá. Há também questões como a digitalização dos estudos até entre os adolescentes. Em suma, nosso estágio cultural é bastante tecnológico e digitalizado e requer de nós uma postura sempre atenta, pois muitas coisas nos são ditas e elas forçam o intelecto ao equívoco, perturbando-o por completo. De modo que corremos sempre o risco de pensarmos estar abraçados ao acerto quando podemos estar amarrados ao erro e ao engano…
REFERÊNCIAS
Araujo, Inês Lacerda. Do signo ao discurso. Introdução à filosofia da linguagem. São Paulo, Parábola Editorial: 2004.
Bacon, Francis. Novum Organum ou Verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2005 (Col. Os Pensadores).
Boeres, Sônia. O letramento e a organização da informação digital aliados ao aprendizado ao longo da vida. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 16, n. 2, p. 483–500, 2018.
Grawitz, Madeleine. Métodos y técnicas de las ciências Sociales. Barcelona: Hispano Europea, 1975, vol. 2.
Nascimento, Adecacio Barros. Santos, Antonio Macedo. Francis Bacon e a nova metodologia científica In Logos: Revista de iniciação científica da Faculdade Diocesana São José – FADISI, Rio Branco, AC jun/jul 2018, n. 10, p. 25-35.
Rampazzol, Lino. Metodologia científica. 8ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
Wittgenstein, Lwdwig. Philosophicals investigations. 3ª. ed. Oxford: Blackwel, 2001.