Por: Fábio Alves
O preço do petróleo chegou a engatar uma recuperação firme na semana passada, na esteira do corte mais agressivo dos juros americanos pelo Federal Reserve (Fed), mas há dúvidas se esse novo impulso nas cotações terá vida longa, diante de sinais de maior desaceleração das principais economias mundiais, em particular da China.
A queda na demanda é a narrativa que mais vem influenciando o mercado de petróleo nos últimos meses, ofuscando até os temores de nova escalada das tensões geopolíticas mundiais, com o embate entre Israel e Hezbollah no Líbano, ou mesmo a temporada de furacões no Hemisfério Norte.
No início deste mês, o preço do barril do petróleo Brent caiu abaixo de US$ 70 pela primeira vez desde dezembro de 2021, depois que a Organização Mundial dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divulgou um relatório reduzindo – pela segunda vez num intervalo de apenas dois meses – sua projeção para a demanda mundial em 2024 e 2025.
A pergunta agora é se o afrouxamento monetário nos Estados Unidos irá salvar o preço do petróleo, colocando um piso nas cotações. Depois que o Fed reduziu a sua taxa básica em 0,50 ponto porcentual, o petróleo Brent fechou a semana passada em alta de 4,34%, a US$ 74,72 por barril.
O argumento de muitos analistas é de que esse ritmo mais acelerado do que o esperado para o início de um ciclo de corte de juros pelo Fed deve evitar uma recessão nos EUA. E que apenas uma recessão justificaria uma cotação do Brent abaixo de US$ 70. Além disso, a redução dos juros nos EUA vai dar uma injeção de liquidez nos mercados globais, beneficiando ativos de risco, como Bolsas, moedas de países emergentes e commodities.
Nessa equação, todavia, é preciso levar em conta o que acontece com a China, maior importador mundial de petróleo. Ao longo deste ano, a economia chinesa vem desacelerando a um ritmo maior do que os analistas esperavam. O país ainda sofre com graves problemas no setor imobiliário, o que vem afetando a confiança dos consumidores, além da demanda por insumos, como minério de ferro e petróleo.
Ninguém acredita que o governo chinês irá atingir a meta oficial de crescimento do PIB em 2024, de 5%. Já houve várias rodadas de revisões para baixo nas estimativas de analistas para o PIB deste ano. O consenso é de um crescimento de 4,8%. Ontem, o banco central chinês anunciou um pacote de estímulos mais agressivo, incluindo corte de juros. O petróleo deu um salto e voltou ao nível de US$ 75. Mas, se a economia chinesa não reagir, essa cotação não deve se sustentar.