21 C
Tarauacá
05/02/2025

Como os répteis aprenderam a ouvir fora d’água – 12/10/2024 – Reinaldo José Lopes

Array



Por:

Não conheço criança no mundo que não tenha tentado brincar de conversar debaixo d’água assim que aprendeu a mergulhar sem se afogar. A experiência é, claro, tremendamente frustrante. O som se propaga de maneira fundamentalmente diferente debaixo d’água, transformando a fala num zumbido ininteligível cercado de bolhas por todos os lados.

Agora, imagine o cenário inverso. E se você fosse uma criatura adaptada a ouvir e produzir som em meio aquoso e se visse diante do desafio de fazer tudo isso em meio aéreo? Bem, eis aí um dos pepinos enfrentados pelos ancestrais de todos nós quando os vertebrados se puseram a colonizar a terra firme.

Tudo indica que um elemento essencial dessa transição auditiva foi o surgimento de uma membrana timpânica. É como se fosse o couro de um tambor (não por acaso, esse é o significado original de “tímpano” em grego), que transmite as vibrações das ondas sonoras que atravessam o ar para dentro do ouvido.

Pois bem: um grupo de pesquisadores brasileiros combinou o estudo dos fósseis, dos embriões e dos genes para entender como os ancestrais dos répteis atuais enfrentaram esse dilema. Num estudo que acaba de sair na revista especializada Current Biology, a equipe liderada por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto mostrou que a membrana timpânica reptiliana provavelmente foi “inventada” uma única vez, nos primórdios do grupo.

Repare que, pela definição adotada pelo pesquisador de pós-doutorado Mario Bronzati e pela professora Tiana Kohlsdorf, que coordenaram o estudo, “répteis” é um grupo muito mais amplo do que se costuma imaginar. Estamos falando não só de cobras, lagartos, tartarugas e jacarés como também das aves atuais, que não passam, no fundo, de dinossauros carnívoros emplumados de porte modesto.

Examinando fósseis com mais de 200 milhões de anos, eles identificaram sinais da presença da membrana timpânica em répteis nos ossos do crânio (e não o tímpano propriamente dito, já que se trata de um tecido “mole” que quase nunca se fossiliza). Os dados são compatíveis com uma origem única da estrutura nos répteis, entre 300 milhões e 250 milhões de anos atrás.

Ainda mais intrigante foi a análise do desenvolvimento embrionário, feita em duas espécies brasileiras, o jacaré Caiman yacare e o lagarto Tropidurus catalanensis. São bichos bem separados no álbum de família reptiliano (os jacarés, por exemplo, estão bem mais próximos das aves), o que aumenta a confiabilidade da análise em termos evolutivos.

Resultado: o desenvolvimento do tímpano é bastante parecido nos dois bichos e nas aves. As mesmas regiões dão origem à cavidade e à membrana timpânica em todos eles, assim como os trechos de DNA ativados nesse processo, enquanto a trajetória de desenvolvimento que produz o tímpano dos mamíferos é consideravelmente diferente. Tudo isso aponta para uma origem única da característica no ancestral comum dos répteis atuais.

E, veja você, os dados também indicam que os parentes extintos mais próximos dos répteis atuais não tinham ouvido timpânico. Ou seja, é bem possível que essa inovação tenha sido crucial para a sobrevivência dos ancestrais bem-sucedidos das espécies modernas. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Fonte: Estadão

Recente:

Boletim de Informações

Não deixe de ler:

Os comentários de aquisição de Gaza de Trump se reuniram com a reação – DW – 05/02/2025

Pule a próxima seção dos EUA Diplomata Top diz que os EUA estão prontos para 'tornar Gaza linda de novo'05/05/20255 de fevereiro de...

Dentro da vida dos filhos de Heidi Klum e Seal – como o filho mais velho faz sua marca na semana de moda de...

Todos os olhos estavam ligados Heidi Klum e o filho adolescente de Seal quando ele fez o seu Semana da moda de Paris...

DeepSeek pode mudar rumo da corrida global por IA, dizem especialistas

© REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/Proibida reproduçãoNos últimos anos, os Estados Unidos lideraram a corrida global pelo desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial (IA). Entre 2018 e...