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05/02/2025

Vinho de uva vischoqueña, da Bolívia, conquistou chefs – 15/10/2024 – Comida

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Por: Tânia Nogueira

Uma uva boliviana chamada vischoqueña, completamente desconhecida no resto do mundo, tem chamado a atenção pela qualidade dos vinhos que produz e começa a aparecer em restaurantes estrelados mundo à fora. Isso é mais ou menos o equivalente a um ator boliviano (ou brasileiro) fazer sucesso em Hollywood, ou seja, algo que não acontece toda hora.

Assim como outras cepas chamadas de patrimoniais no Chile (por serem usadas na produção de vinhos desde a época dos colonizadores), a vischoqueña ficou durante um bom tempo esquecida pelos próprios bolivianos e agora vem passando por um processo de revalorização.

Ela pode ser considerada uma uva autóctone da Bolívia já que testes de DNA indicam que ela seria um cruzamento espontâneo da moscatel de Alexandria e de uma uva tinta. Muito provavelmente da mission, que é a mesma da negra criolla ou da país, todos nomes dados nas Américas para a “listán negro”, variedade com origem nas Ilhas Canárias.

A vischoqueña é a estrela dos vinhos naturais da Bolívia. Produz um vinho tinto muito fresco e claro, translúcido, mais do que o pinot noir. Um clarete, na verdade. “Tem aromas florais e frutados”, diz o sommelier dinamarquês Bertil Tottemberg, que trabalhou por sete anos no restaurante Gustu, em La Paz. “É aromática como a moscatel. Tem notas de flores brancas, lichia, morango e framboesa. Na boca, tem muito pouco tanino e uma acidez de média para alta. É uma uva que não aceita madeira.”

Tottemberg é figura-chave no movimento de vinhos naturais da Bolívia. O Gustu é um dos restaurantes mais bacanas de La Paz. Criado pelo também dinamarquês Claus Meyer, cofundador do cultuado Noma, de Copenhague, o restaurante trabalha apenas com ingredientes bolivianos, inclusive os vinhos —a chef Marsia Taha Mohamed, que comandou o lugar até 2023, foi eleita recentemente a melhor da América Latina pelo 50 Best.

“Na Dinamarca, eu nunca tinha ouvido falar de vinho boliviano”, conta. “Quando cheguei, tive de estudar o tema. Vi que nem os próprios bolivianos de La Paz conheciam bem os seus vinhos. Muito menos os naturais. Ali só chegavam os vinhos convencionais, da meia dúzia de grandes indústrias que existem no país”.

Apesar de haver bons vinhos convencionais na Bolívia, a maioria na região de Tarija, o Gustu buscava algo mais autêntico, mais ligado à história local. Tottemberg saiu, então, em busca de algo tradicional. Até que chegou ao Valle de Cinti, a uma altitude entre 2.300 e 2.600.

“Encontrei ali uma série de pequenos produtores que faziam vinho natural porque nunca aprenderam a fazer o convencional”, conta. “Descendentes de europeus cujas famílias estavam na região há décadas. Gente que nunca estudou enologia. Aprendeu a fazer com o pai e o avô.”

Esses viticultores cultivavam uvas patrimoniais, como a vischoqueña, a mission, a moscatel de Alexandria e outras mais raras. Essas uvas eram usadas para fazer algum vinho local e o resto era vendido para a produção de singani, um destilado de uva boliviano. A vischoqueña estava lá em seu estado natural. Algumas plantas com mais de 200 anos. Os vinhos, porém, tinham alguns problemas. Eram feitos com uvas supermaduras, não tinham aromas tão finos, eram um pouco doces demais.

Mesmo assim, Tottemberg viu potencial na região. “Como eles nunca tinham feito vinhos convencionais, não precisavam mudar muita coisa no modo de trabalho. Foi fácil convencê-los a fazer apenas pequenas mudanças para aumentar a qualidade: colher mais cedo para preservar o frescor e fazer vinhos mais secos. Comecei a trabalhar com esses produtores. São gente muito apaixonada pelo que faz”, diz.

Segundo ele, o mais difícil foi convencer os consumidores de La Paz. Aos poucos, no entanto, algumas pessoas foram pegando gosto na coisa. Hoje vinhos naturais de cepas ancestrais já estão nas cartas de bares e restaurantes de La Paz que trabalham principalmente com produtos bolivianos, como o Hay Pan Vinoteca e o Restaurante Ancestral.

O Gustu, contudo, seguiu como ponto de referência, inclusive para estrangeiros de passagem por La Paz. Com isso, a vischoqueña viajou o mundo e acabou chamando a atenção de críticos e jornalistas, como a inglesa Amanda Barnes, que elogia muito a vischoqueña no South America Wine Guide.

Foi no Gustu também que Rudá Serra, dono da importadora La Gruta, descobriu os vinhos bolivianos do Valle de Cinti e decidiu trazê-los para o Brasil. No momento, a La Gruta está vendendo o Jardín Oculto Vischoqueña Blanc de Noir (R$ 419,90), além de o Jardín Oculto Negra Criolla (R$ 429,90) e Jardín Oculto Moscatel de Alexandria (R$ 425,90), mas pretende trazer vinhos de outros produtores da Bolívia.

O Blanc de Noir é um vischoqueña fora do comum, pois é um tinto vinificado em branco, ou seja, a polpa foi separada das cascas logo no início do processo para não transferir nenhuma cor ao vinho. “Na verdade, ele foi um ‘erro’,” explica Serra. “A ideia era fazer um espumante de vischoqueña, mas veio a pandemia de Covid e eles não puderam trabalhar nas etapas necessárias e ficou um vinho branco normal. E ficou ótimo.”

De fato, é um branco intenso, aromático, mas ao mesmo tempo muito elegante. Nada nele é enjoativo. Pelo contrário, é fresco, mas com bom corpo na boca. Esse rótulo já está na carta de grandes restaurantes, como o Tuju e o Picchi, ambos de São Paulo, o Lasai, no Rio de Janeiro, e o Pacato, em Belo Horizonte.

Em breve, devem chegar ao Brasil também alguns vinhos bolivianos convencionais de Tarija. O empresário de comércio exterior Ademir Bicesto vem conversando com vinícolas da região. Segundo ele, desde 2018, já tem essa intenção, mas houve muita burocracia no caminho.

“Para abrir a importação de vinhos de um país que nunca tinha exportado para cá, foi preciso abrir todos os canais e resolver questões legais tanto em Brasília quanto em La Paz.”

Por enquanto, ele já fechou a compra de alguns rótulos das Bodegas Kohlberg: um cabernet sauvignon, um malbec, um syrah, um blend tinto e o branco ugni blanc. “Dizem que a melhor uva da Bolívia é a tannat”, afirma. “Mas eu discordo. A syrah é um espetáculo e a ugni blanc se adaptou demais”. A vischoqueña ainda não foi explorada pela grande indústria —como a país já está sendo no Chile.

Onde encontrar vinhos da Bolívia?

La Gruta Importadora, em lagruta.com.br

  • Vischoqueña Blanc de Noir (R$ 419,90)
  • Negra Criolla (R$ 429,90)
  • Moscatel de Alejandria (R$ 425,90)



Fonte: Estadão

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