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04/02/2025

Investigação expõe britânico suspeito de usar brasileiros como “mulas” em esquema de tráfico

Em 2017, os velejadores brasileiros Daniel Guerra e Rodrigo Dantas embarcaram no que acreditavam ser a oportunidade de suas vidas: uma viagem transatlântica a bordo do iate Rich Harvest, rumo à Europa. No entanto, o sonho se transformou em pesadelo quando uma tonelada de cocaína foi encontrada escondida no barco durante uma parada em Cabo Verde, resultando na prisão dos dois brasileiros, que alegaram desconhecimento do esquema de tráfico.

Essa revelação foi o ponto de partida para uma investigação detalhada da BBC, que trouxe à luz novos desdobramentos do caso. Os velejadores, inicialmente contratados para ajudar a transportar o iate de volta à Europa, foram condenados a dez anos de prisão em Cabo Verde, apesar de insistirem que não tinham envolvimento com a droga encontrada no barco.

A contratação e a figura misteriosa de Fox

O anúncio para a vaga de trabalho foi postado em uma plataforma de recrutamento online para velejadores, e tanto Daniel quanto Rodrigo, na época aspirantes a capitães, foram imediatamente atraídos pela promessa de uma experiência internacional. George Saul, o proprietário britânico do Rich Harvest, que se apresentava pelo apelido de “Fox”, parecia ser a figura ideal para essa aventura.

Fox era descrito como amigável, descontraído e educado. Durante os primeiros encontros, inclusive com a família de Rodrigo, ele passou a imagem de alguém confiável e acima de qualquer suspeita. No entanto, a polícia brasileira e a britânica já tinham Fox sob vigilância antes mesmo da partida do iate do Brasil, suspeitando que ele estava envolvido com o tráfico internacional de drogas.

Apreensão em Cabo Verde

Após uma viagem aparentemente tranquila, o Rich Harvest foi obrigado a fazer uma parada em Cabo Verde para reparos. Foi lá que a polícia local realizou uma inspeção mais minuciosa do que a que havia sido feita no Brasil, encontrando os pacotes de cocaína escondidos em compartimentos secretos. A descoberta levou à prisão imediata de Daniel e Rodrigo, que ficaram incrédulos ao saber que mais de uma tonelada de droga estava armazenada no barco, inclusive debaixo da cama de Daniel.

As autoridades de Cabo Verde acusaram os brasileiros de envolvimento no tráfico, e ambos foram levados a julgamento. Durante o processo, eles afirmaram que eram completamente inocentes e que haviam sido enganados por Fox, mas ainda assim foram condenados. A sentença de dez anos de prisão causou indignação, principalmente entre as famílias dos velejadores, que iniciaram uma campanha pela libertação dos dois.

A fuga de Fox e a luta pela justiça

Enquanto os brasileiros estavam presos, as autoridades brasileiras e britânicas continuavam a investigar George Saul, que havia deixado o Brasil de avião antes da viagem do Rich Harvest. Em 2018, Fox foi preso na Itália, mas conseguiu escapar de um pedido de extradição devido a falhas no processo. Esse episódio frustrou as autoridades brasileiras, que o consideravam o verdadeiro responsável pelo esquema.

A polícia brasileira acredita que Fox usou os velejadores como “mulas”, sem que eles soubessem, aproveitando-se de sua falta de experiência no mercado internacional. Acredita-se que as reformas realizadas no barco antes da viagem foram para instalar os compartimentos onde a droga foi encontrada, reforçando a suspeita de que Fox era o mentor do crime.

O impacto da prisão

Para Daniel e Rodrigo, o impacto da prisão foi devastador. Além de terem seus sonhos interrompidos, os dois enfrentaram dificuldades para reintegrar suas vidas após a libertação em 2019, quando suas condenações foram anuladas pela Justiça de Cabo Verde. Mesmo livres, ambos lutam para reconstruir suas carreiras no mundo náutico, ainda lidando com a desconfiança de potenciais empregadores.

“Perdi a confiança nas pessoas, o que é essencial para quem quer se aventurar em viagens oceânicas longas”, diz Daniel, refletindo sobre o trauma que o caso deixou em sua vida. Já Rodrigo afirma que muitos continuam a desconfiar de sua inocência, dificultando sua volta ao mercado de trabalho como velejador.

A caçada a Fox continua

Enquanto isso, Fox vive uma vida aparentemente tranquila no Reino Unido. Ele possui uma empresa imobiliária e participa de eventos locais, como demonstrado por uma foto publicada em suas redes sociais, onde aparece ao lado de autoridades da cidade de Norwich. A BBC tentou entrevistá-lo sobre o caso, mas Fox se recusou a comentar, limitando-se a negar as alegações de envolvimento no tráfico.

As autoridades brasileiras ainda não desistiram de levar Fox à Justiça. Um novo pedido de extradição pode ser feito, mas até o momento, ele permanece livre, vivendo nos subúrbios de Norwich.

O caso de Daniel e Rodrigo é um exemplo doloroso de como o tráfico internacional de drogas pode arruinar a vida de inocentes, usados como peões em esquemas criminosos. A luta pela justiça continua, enquanto os brasileiros tentam retomar suas vidas após a experiência traumática que viveram. O desfecho para Fox, o homem por trás de tudo, ainda está por vir.



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