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Nessa segunda-feira o Brasil perdeu um grande cantor, Agnaldo Rayol, conhecido como o Rei da Voz. Mesmo tendo uma carreira de sucesso por mais de sete décadas, sua vida pessoal nunca foi notícia. Sua fama foi construída a partir de seu talento como intérprete, cantor, ator e apresentador. Agnaldo era também um homem educado, sensível, extremamente gentil, mas a base de seu sucesso era seu vozeirão de barítono, que enchia o ambiente de música e emocionava o público.
Pelé também foi um talento único e incomparável para o futebol. Sua inteligência corporal, seu domínio da bola, transformaram o futebol, um esporte, em arte. Por isso mesmo Pelé sempre foi e sempre será chamado de Rei, o Rei do futebol.
Aqui no Brasil temos muitos exemplos de pessoas icônicas, que nos trazem arte, alegria, consciência, conhecimento, beleza, emoção, em todas as áreas, seja na música, teatro, TV, cinema, artes plásticas, dança, literatura, cinema, arquitetura. Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Cartola, Oscar Niemeyer, Emicida, Machado de Assis, Glauber Rocha, Tarsila do Amaral, Ana Botafogo, Rebeca Andrade são apenas algumas dos muitos exemplos de talentos brasileiros que nos enchem de orgulho. A lista é imensa.
Mas a mídia de massa, os reality shows, as redes sociais, trouxeram também um novo movimento de famosos, baseado no “culto à personalidade”. Pessoas sem nenhum talento específico, nenhuma habilidade especial, passaram a ser “famosas por serem famosas”, apenas pela superexposição de suas vidas de forma contínua nos meios de comunicação e pela intensidade de seus atos. Pessoas que gritam em vídeos, que fazem barraco em reality, brigam com famosos, ostentam riqueza ou exibem corpos invejáveis em redes sociais, passaram a ser idolatradas atraindo milhões de fãs.
Não estou falando dos influenciadores de nicho, que entendem de algum assunto, seja maquiagem, game, séries, artesanato. Mas das pessoas que se destacam por algum tipo de “carisma pessoal”. Na economia da atenção, o valor pode estar na capacidade de despertar o interesse de milhões de curiosos que serem saber todos os detalhes do dia a dia desses novos-famosos, seja por qual motivo for. Pode até mesmo ser pelo carisma negativo.
A lógica aqui parece ser outra. Não é mais a pessoa que admira a voz de Beyoncé, o show da Anitta, o humor de Tata Werneck, a elegância de Gisele Bündchen. É a criatura que sonha em ficar rica e famosa e se inspira em alguém que, de fato, ficou, mesmo sem ter motivo algum. Porque ‘se ela conseguiu então talvez eu também consiga’. Não é mais ser fã do talento, mas ser seguidor de um modelo de sucesso fácil e inexplicável que muita gente quer.
Não vou julgar quem sonha em ter quilos de ouro e fazer viagens pra Dubai. Cada um sonha (ou se ilude) do jeito que quiser. Eu, de minha parte, não cultuo personalidades, não me seduzo apenas pelo carisma, e sim pelo talento. Porque, para mim, carisma sem talento é como pastel de vento: parece apetitoso, mas não tem nada dentro.