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Quando o primeiro homem pisou na Lua, em 1969, a humanidade pôde acompanhar ao vivo, mas em fantasmagóricas imagens de má qualidade, via televisão. Com missões robóticas ainda mais distantes, só restam possibilidades como o download de fotos por conexões digitais lentas que mais lembram os tempos da internet discada. Mas o futuro promete fluxos de vídeo que farão as caminhadas lunares do século 21, ou mesmo as marcianas (quem sabe?), muito mais empolgantes de ver.
Dois testes recentemente conduzidos dessa nova perspectiva tecnológica tiveram curiosa participação brasileira. Um deles aconteceu com a missão tripulada privada Polaris Dawn, que voou em setembro. Comandada pelo magnata Jared Isaacman, em uma cápsula Crew Dragon da SpaceX, ela se ergueu acima das órbitas da rede de satélites Starlink, que fornece internet rápida de baixa latência a praticamente qualquer ponto da Terra.
Na ocasião, a tripulação se conectou com a Starlink por meio de laser –diferentemente do tradicional rádio, ele exige um apontamento muito preciso para uso em telecomunicações, mas permite transmissão de dados com velocidade bem maior. Foi como trocar a velha internet discada pela banda larga por fibra óptica. A americana Sarah Gillis, colega de Isaacman na missão, tornou-se a primeira a tocar violino no espaço, executando uma versão do tema de Rey, de “Star Wars”, composta pelo mestre John Williams.
Essa transmissão em vídeo foi enviada ao vivo para diversos pontos da Terra, via Starlink, e orquestras espalhadas pelo mundo, dentre elas um grupo de músicos no Brasil, executaram a música simultaneamente. A participação brasileira veio dos Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia). Também se envolveram músicos do Haiti, da Venezuela, da Suécia, de Uganda e dos Estados Unidos. O vídeo é lindo.
Já o outro teste foi conduzido a distância bem maior, graças à sonda interplanetária Psyche, da Nasa. Destinada a estudar o grande asteroide Psique, localizado no cinturão entre Marte e Júpiter, ela também foi equipada com um sistema experimental de comunicação por laser, que enviou de volta à Terra diversas transmissões em vídeo. Entre elas, um curta-metragem em ultra-alta-definição da produtora Cosmic Dog, dos cineastas brasileiros radicados nos EUA Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira, feito especificamente para o teste.
Embarcado com a espaçonave antes do lançamento, ele foi transmitido de volta para a Terra no último dia 24 de junho, de uma distância de 390 milhões de km –bem além da órbita de Marte. O clipe de 45 segundos traz cenas bonitas do Brasil, com participações do maestro Jaques Morelenbaum e da atriz Moara Sacchi, além de uma trilha composta pelos FernandoS, misturada a paisagens espaciais. Também vale a pena conferir o curta, publicado pela Nasa.
Essas demonstrações de comunicações espaciais a laser mostram que o futuro da exploração espacial, além de empolgante, será muito tangível –quem ficar aqui na Terra poderá acompanhar tudo com riqueza de detalhes jamais antes vista. Para além do fator de inspiração, essas conexões de banda larga com o céu profundo permitirão o envio de grandes volumes de dados científicos, numa magnitude muito maior do que foi possível até hoje.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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