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Cerca de 200 mil pessoas foram mortas em três dias pelas bombas atômicas lançadas pelos EUA, em 1945, sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão —sem contar as vítimas dos efeitos duradouros da radiação.
Quase 80 anos depois, o Prêmio Nobel da Paz de 2024 foi concedido, na sexta (11), à Nihon Hidankyo, organização fundada 11 anos após o fim da Segunda Guerra para representar sobreviventes do único ataque nuclear da história.
A honraria vem em momento oportuno. Num mundo em guerra em várias frentes, como Ucrânia, Gaza, Líbano, e Sudão, alertar para o sofrimento decorrente da ameaça nuclear, por meio de depoimentos dos hibakushas (sobreviventes do ataque), é vital.
Trata-se da décima vez, desde 1945, que a premiação tem como objeto dispositivos atômicos. A recorrência se justifica num contexto geopolítico em que, de um lado, 90% das estimadas 12.121 ogivas nucleares no mundo estão nas mãos dos EUA e da Rússia e, de outro, há banalização na manipulação de ogivas nucleares.
A Marinha russa treinou o uso desse tipo de armamento contra alvos na Europa para um possível conflito com a Otan, aliança militar liderada pelos EUA, que, por sua vez, discute aumentar seu arsenal no continente europeu.
Em agosto deste ano, o presidente americano, Joe Biden, aprovou a revisão da estratégia de defesa nuclear do seu país, considerando pela primeira vez o risco de um ataque coordenado de China, Rússia e Coreia do Norte com armas atômicas.
Além desses, os outros países que têm arsenais atômicos são França, Reino Unido, Paquistão, Índia e Israel. Nenhum deles aderiu ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, de 2021, ratificado por 70 nações —o Japão, ora laureado com o Nobel da Paz, também não aderiu ao pacto.
Mas nem tudo são destroços. Após a Segunda Guerra, a consequência do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares assinado por 191 nações —incluindo China, França, Rússia, EUA e Reino Unido— foi a diminuição do número de ogivas armazenadas nessas localidades e o aumento da supervisão internacional.
Recentemente, durante a competição de surfe nas Olimpíadas, que ocorreu na Polinésia Francesa, jogou-se luz aos efeitos na saúde da população local dos testes nucleares realizados pela França na região nos anos 1970.
O Nobel da Paz de 2024 traz à tona a memória submersa sobre os perigos das armas atômicas. Que a comunidade internacional não o ignore e busque articular consensos a respeito do fim desses dispositivos.