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09/05/2025

Equador: Só atacar a criminalidade não segura Noboa – 19/04/2025 – Sylvia Colombo

Sylvia Colombo

A reeleição de Daniel Noboa à Presidência do Equador, com 55,95% dos votos, reflete o clamor da população por segurança frente à escalada da violência que vive seu país. Desde 2023, Noboa adotou medidas de linha dura, como a militarização das prisões e a declaração de “conflito armado interno” contra grupos ligados ao narcotráfico.

Apesar de uma queda modesta de 15% nas mortes violentas, o país enfrenta graves problemas estruturais. A taxa de homicídios segue alta, cerca de 40% da população vive na pobreza e o emprego informal afeta mais da metade dos trabalhadores. O sistema prisional continua dominado por facções criminosas, e os serviços públicos, especialmente em saúde e educação, são precários.

Sem políticas sociais consistentes, o Estado continuará perdendo espaço para as economias ilegais, entre elas o narcotráfico, o tráfico de pessoas, a extorsão e o contrabando. A repressão pode conter surtos de violência, mas não resolve suas causas estruturais. Se as gangues e facções se incrustarem aí, é porque encontraram condições propícias.

Investimentos em infraestrutura, habitação e oportunidades para jovens são indispensáveis para uma paz duradoura. O correismo, embora minoritário, atua como fiscal constante do governo.

Outro sinal da ausência de um projeto estruturado é a postura errática de Noboa na política externa. Em declarações recentes, fez críticas pouco diplomáticas a líderes da região: chamou Gustavo Petro de “esnobe de esquerda”, disse que Javier Milei “não conseguiu nada desde que assumiu” e que só manteve a pose (“algo muito argentino”, acrescentou) e surpreendeu ao declarar afinidade com Lula, apesar de elogiar Bukele anteriormente. Essas falas reforçam a imagem de um presidente mais performático do que estratégico.

Noboa também mostrou desdém pela comunidade internacional ao ordenar a invasão da embaixada do México em Quito para prender Jorge Glas, ex-vice de Rafael Correa que havia solicitado refúgio. O gesto, que violou normas básicas da diplomacia, gerou condenação internacional e desgastou a imagem do país.

Por incrível que pareça, ficou por isso mesmo. Há relatos de que Glas, que sofre de câncer terminal, não tem recebido o tratamento devido na cadeia.

Além disso, o presidente precisa melhorar suas habilidades políticas. A crise com sua vice, Verónica Abad, culminou em sua exclusão do governo. Noboa governa mais baseado em sua popularidade pessoal do que em alianças partidárias sólidas —um modelo frágil que pode levá-lo ao isolamento. Vale lembrar que foi justamente a falta de apoio político que precipitou o fim do governo de Guillermo Lasso, seu antecessor.

A vitória dá a Noboa a chance de rever suas prioridades. Se quiser transformar o Equador, precisará ir além do confronto: construir pontes, fortalecer as instituições e investir em um projeto nacional de longo prazo.

Devido à influência política de seu pai, Noboa esteve na linha de frente na cerimônia de posse de Donald Trump. Nascido em Miami e tendo passado a infância em Long Island, vai levar um belo banho de Equador nos próximos meses. Será um choque, mas ele tem a ganhar se usar essa relação com Trump em seu benefício.


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Fonte: Folha UOL

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