Por:
Pela segunda vez em menos de um ano, 2,1 milhões de residências e estabelecimentos comerciais na Grande São Paulo ficaram horas sem luz após uma tempestade.
Neste fim de semana, assim como em novembro de 2023, houve lentidão diante da emergência por parte da Enel, concessionária que fornece eletricidade à capital e a outras 23 cidades do estado desde dezembro de 2018.
Decorridas 48 horas do início do apagão, 699 mil clientes ainda penavam no escuro, com atividades ou renda em suspenso por tempo indeterminado. A concessionária atribui a falha à tempestade com ventos próximos aos 100 km/h que atingiu a região na sexta-feira (11), da mesma forma que fizera 11 meses antes.
Mas, assim como é certo que chuvas e ventanias derrubam postes, torres, árvores e fiação, é fato estabelecido que eventos climáticos extremos como esses deixaram de ser exceção.
Cientistas municiados com estudos robustos sobre a mudança climática têm alertado, nos últimos anos, que tais fenômenos se tornariam comuns, ampliando alcance e frequência —algo que mesmo o leigo pode constatar.
Faz-se, portanto, dever dos planejadores urbanos públicos e privados prepararem-se exemplarmente para cenários adversos, tanto na frente de prevenção como em capacidade de reposta.
Não foi o que se viu em São Paulo. Apresentados inicialmente a um prazo de seis horas para resolução, os clientes que procuraram a Enel logo passaram a receber comunicados sem previsão para o restabelecimento da luz.
Decerto há melhora ante o episódio anterior, quando a empresa não ofereceu informação sobre a retomada do fornecimento e evitou comunicados públicos. Desta vez, houve entrevista coletiva para explicar o problema na manhã de sábado (12) e canais abertos para o consumidor.
Na prática, porém, a celeridade prometida após as críticas no blecaute de novembro, que chegou a durar seis dias para parte da população, resta a cumprir.
A promessa de redução de tempo de resposta, formalizada em artigo publicado em 15 de maio na Folha pelo presidente da Enel no Brasil, Antonio Scala, é agora objeto de escrutínio da Aneel, agência federal que regula o setor, bem como dos governos.
Em raríssimo consenso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) cobram da multinacional italiana melhores reações aos eventos, sob pena de ter a concessão revista. Ainda que não seja o melhor caminho, é forçoso que penalidade dessa monta esteja no horizonte.
A concessionária que atende 15 milhões de endereços no país, com operações também no Ceará e no Rio, tem de se mostrar à altura do desafio que assumiu.
Que a decisão pela manutenção ou pela mudança de contrato se dê sem açodamento nem ímpetos populistas. A população paulista já foi penalizada demais.