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05/02/2025

Renato Aragão, 90: Didi sustentou o cinema com Trapalhões – 11/01/2025 – Ilustrada

Inácio Araujo

Uma lenda urbana que atormentou por anos Renato Aragão —que completa 90 nesta segunda e será o homenageado do programa Tributo na quarta-feira (15), na Globo— conta que certo dia um funcionário modesto de sua empresa o chamou de “seu Didi”. Ele corrigiu: “Doutor Renato”. E despediu sumariamente o rapaz.

Renato nunca endossou a história. Ao contrário, chamou-a de caluniosa. Mas ela faz sentido no universo bacharelesco —afinal, antes de se tornar Didi, em 1961 ele se formou em direito no Ceará, onde nasceu. Mas nunca se tornou advogado e menos ainda doutor.

Mais real e fantástico é o acidente aéreo que sofreu em 1958, quando o Curtiss Comandar C-46 que fazia a rota Recife-Fortaleza caiu próximo de Campina Grande. Renato foi um dos sobreviventes e, com um amigo, ajudou a salvar outros passageiros que haviam sobrevivido, embora uma estação de rádio o tenha dado como morto.

Quando se formou em direito, já trabalhava em vários programas da TV Ceará, mas preferiu vir para o eixo Rio-São Paulo, onde trabalhou desde 1964 nas TVs Excelsior, Record e Tupi. Foi em 1964 também que estreou a dupla Dedé e Didi na Excelsior.

Esse é um encontro fundamental, porque a origem de Dedé Santana era o circo. Ele inclusive já havia sido dublê do célebre palhaço Arrelia, fazendo a figura no palco, enquanto o verdadeiro Arrelia se dedicava à TV.

E Dedé quem ensinou a Renato várias técnicas circenses que caracterizariam os Trapalhões. Mas Dedé já era, desde então, o “escada”, o comediante que com seu bom-senso funciona como trampolim para o humorista principal.

Dedé seria, aliás, o grande “escada” do grupo, que se consolidaria com a chegada de Zacarias, o mineiro ingênuo, e Mussum, o malandro carioca. O grupo faz tanto sucesso na TV Tupi que interferiu na audiência do Fantástico da Rede Globo. Boni, diretor da emissora, os contrata no ano seguinte, 1977. Didi permaneceria na emissora até junho de 2020, quando a Globo decidiu não renovar o seu contrato.

Apesar do imenso sucesso dos programas na televisão, Renato e seu grupo desde sempre viram no cinema o aspecto talvez mais essencial de seu trabalho. Se Mazzaropi —que precede Os Trapalhões como grande fenômeno de sucesso em comédia no Brasil— julgava que aparecer na TV desgastaria sua imagem e se negava a fazê-lo, Renato e seus colegas usavam a TV como alavanca para os filmes, sobretudo desde a criação da Renato Aragão Produções Artísticas, em 1977.

É verdade que a criação da Demuza, firma criada pelos colegas Dedé, Mussum e Zacarias, em 1979, já assinalava a divergência de interesses entre os integrantes do grupo, que desembocaria na cisão que levou esses três a realizarem a comédia “Atrapalhando a Suate” em 1983.

Mas o resultado de 1 milhão de espectadores mostrou que o líder do grupo era mesmo Renato, que, no mesmo ano, fez, sozinho, “O Trapalhão na Arca de Noé”, que beirou um público de 3 milhões.

Mas mesmo esses quase 3 milhões eram pouco para o nível habitual do grupo, de modo que logo todos perceberam que seus interesses comuns eram maiores do que eventuais divergências.

Ao longo dos anos 1980, Os Trapalhões foram o porto-seguro da Embrafilme, com filmes capazes de todo ano gravitar entre 4 e 5 milhões de espectadores. Foi a primeira vez que uma distribuidora brasileira foi capaz de engendrar um sistema de “pacote” similar ao praticado habitualmente pelas “majors” hollywoodianas.

Ou seja, para o exibidor ter direito a ter em seus cinemas um filme de sucesso garantido —o dos Trapalhões, no caso— precisariam se comprometer a exibir outros filmes distribuídos pela mesma companhia. Se havia um “blockbuster” brasileiro seguro esses eram Os Trapalhões, reis dos “filmes de férias”.

À parte o sucesso e eventuais discordâncias, Os Trapalhões impuseram um tipo de humor circense baseado na personalidade diversa de cada tipo e dirigido essencialmente ao público infantil. Não existe dúvida de que Renato Aragão, vulgo Didi Mocó e vulgo, mais ainda, Didi, puxava o grupo, com um humor que alternava palavra, gestualidade e movimento.

A influência de Carlitos era assumida, mas o fato é que —a despeito de ter trabalhado com cineastas talentosos, como J.B. Tanko (um dos mestres da chanchada) ou experientes, como Adriano Stuart (no mais, um ator digno de nota), por exemplo— o cinema prejudicou um pouco o humor de Aragão. Era como se as marcações mais exatas exigidas pelo filme limitassem a movimentação livre, um dos atributos de sua atuação em TV.

Didi sobreviveu à morte de Zacarias (1990) e Mussum (1994), participou de uma homenagem a ele feita no Festival de Gramado de 2008, e sobreviveu até ao fim do vínculo com a Rede Globo sem cair no ostracismo. Teve bastante vitalidade para, num programa de televisão, reafirmar sua amizade por Dedé, dizendo: “Eu quero começar tudo de novo com você, nossos filmes e tudo o mais”.

Talvez não tenha conseguido tudo isso (ainda?), mas pôde assistir ao musical “O Adorável Trapalhão“, sobre sua carreira, montado no ano passado. E, sobretudo, sobreviveu às inúmeras fake news que circularam a seu respeito na internet.

Didi pode ser muito engraçado, mas não está para brincadeira.



Fonte: Folha UOL

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